As Leituras do Pedro*
Desafio no Montana
Tex Graphic Novel #4
Gianfranco Manfredi (argumento)
Giulio De Vita (desenho)
Mythos Editora, 2017
207 x 275 mm, 48 p., cor, capa mole
R$ 29,90 / 10,00 €
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Se um dos propósitos da colecção Tex Romanzo a Fumetti – no Brasil (muito mal) rebaptizada Tex Graphic Novel – era chegar ao mercado franco-belga, este álbum pode cumpri-lo perfeitamente.
E, possivelmente, outra coisa não seria de esperar, dada a identidade dos seus autores: Manfredi, que para além de já ter escrito diversas histórias de Tex, criou Mágico Vento ou Face Oculta, por exemplo, e Giulio De Vita, que tem no seu currículo recente, nada menos do que Thorgal.
Desafio no Montana, quarto volume desta colecção, apresenta várias curiosidades.
A primeira, o protagonismo de um Tex jovem, vinte e poucos anos, ainda na transição de fora-da-lei para agente da autoridade. E, em muitos casos, vinque-se porque me parece salutar, essa mudança de paradigma é notória, por alguma indefinição que caracteriza a sua forma de actuar, umas vezes ponderado, outras impulsivo.
Depois, para além do narrado na história base, esta aventura lança alguma luz sobre o passado do protagonista, uma fase da sua vida com muito a descobrir – ou inventar.
Finalmente, se Tex é o protagonista, e se é o seu nome que vende – na Itália, no Brasil… – este livro, a verdade é que – pelo já adiantado atrás e pela história em si – Desafio no Montana podia ter um qualquer outro pistoleiro, mesmo desconhecido, no papel principal, que tal não tiraria nenhum do interesse à narrativa, ou seja, o seu público-alvo vai bem para além dos habituais fãs e leitores de Tex.
A história – de leitura demasiado rápida, 48 páginas são curtas para o modelo Tex – começa quando o jovem Willer, a caminho de se encontrar com Birdy, um dos seus amigos de juventude, a quem sucessivamente livrou de problemas, descobre uma pequena aldeia índia cujas habitantes foram massacrados por negociantes de pele. A descoberta de relações – só comerciais…? – entre eles e o seu amigo, vai levá-lo numa demanda pela verdade, a justiça e (também) a vingança, num relato consistente e dinâmico, muito bem posto no papel por De Vita em que, na boa tradição do grande western, se dispara (muitas vezes) primeiro e se fazem as perguntas depois.
*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
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Eu concordo com o Pedro Cleto, essa é uma ótima HQ, com uma narrativa fluída e intensa, como o Manfredi bem sabe fazer e uma arte linda, do De Vita. Apenas discordo com o Pedro no quesito da tradução de Romanzo a fumetti para Graphic Novel. O fato é que nos acostumamos a esse termos desde o soberbo Um Contrato com Deus, do Will Eisner, nos idos dos ’80 aqui no Brasil, que equivale, quando traduzido para o nosso Português, a algo como Romance Gráfico, que também se adequa à perfeição à Romanzo a Fumetti. Apenas não gosto da logomarca da Trilogia de De Volta para o Futuro na qual inseriram o nome, aquilo ali detona qualquer arte de capa, mas…
Abraços desde as terras quentes do Sertão do Brasil!
Sílvio Introvabili