As Leituras do Pedro*
Tex Platinum #7
O Trem Blindado
Antonio Segura (argumento)
José Ortiz (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Abril de 2017
135 x 180 m,340 p., pb, capa mole, bimestral
R$ 26,90/9,00 €
Sempre a mesma história
Alguém disse que só há três ou quatro histórias para contar. Depois, o que muda é a forma como são narradas e os protagonistas escolhidos para elas.
A afirmação – mesmo passando ao lado da quantificação numérica – é questionável e discutível mas, paradoxalmente, aplicável ao cinema como à literatura, à TV como à banda desenhada.
Um exemplo é este O Trem Blindado, que tem por base um assalto rocambolesco, por parte de uma equipa numerosa, com membros com valências diferentes.
É uma (boa) história de Tex, mas podia não o ser – não ser de Tex, entenda-se – porque o ranger tem aqui uma prestação algo ao lado do seu registo habitual, mais táctico e menos impulsivo e sem o fazer justiça como motivação.
O desvio de um comboio carregado de ouro, roubado por revolucionários mexicanos que pretendem reconquistar o Texas, é o ponto de partida para uma longa história.
O intróito é extenso, para nos situar no contexto e nos apresentar, em momentos diferenciados, os diversos protagonistas que irão ladear Tex e Carson, na execução do golpe, na esteira de grandes êxitos cinematográficos do western.
Avanços e recuos, algumas surpresas, as inevitáveis mudanças de campo de protagonistas de um e outro lado e um plano audacioso são os pontos fortes de uma história dura, como é habitual na escrita de Segura, e muito bem desenhada num branco e negro anguloso, duro e contrastante por Ortiz.
*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
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É bem verdade, como escreve Pedro Cleto, que é sempre difícil encontrar ângulos novos para contar uma história, sobretudo em temas tão explorados como os que preenchem o vasto universo do western.
Ao ler pela primeira vez ”O Trem Blindado” num dos almanaques anuais de Tex (esta é uma reedição, integrada numa nova colectânea da Mythos Editora), pareceu-me estar a rever um filme com John Wayne e Kirk Douglas, de título idêntico (“The War Wagon” ou “O Assalto ao Carro Blindado”), em que Antonio Segura nitidamente se inspirou… embora ninguém o possa acusar de plágio porque, com toda a sua criatividade e perícia, soube explorar a riqueza do filão contido no argumento desse filme, glosando o mesmo tema, mas por vias autónomas, e criando uma galeria de personagens relacionadas com o ambiente bélico da história que se gravam indelevelmente na memória do leitor.
Quanto a José Ortiz este ainda é, de facto, um dos seus bons trabalhos. Outros viriam em que já se começava a notar o peso da rotina e alguma falta de vigor e de equilíbrio no traço, causada certamente pelo avanço da idade. Nenhum mestre é eterno, mas o que fica preservado, num balanço póstumo, são sempre as suas melhores obras, que ofuscam e quase fazem esquecer os trabalhos menos válidos.
Para mim, José Ortiz continua a ser um dos melhores desenhadores que já passaram pela longa saga de Tex.