As Leituras do Pedro: Tex Gigante #35 – Tex, o implacável

As Leituras do Pedro*

Tex Gigante #35 Tex, o implacável
Mauro Boselli (argumento)
Claudio Villa (desenho)

Mythos Editora
Brasil, Outubro de 2020
185 x 275 mm, 240 p., pb, capa cartão
R$ 34,90

Mais do que outros

Já ouvi dizer – no alto da sua ignorância e/ou suposta superioridade – que ‘os livros do Tex são todos iguais’ mas parafraseando vocês sabem quem, apetece escrever que na verdade ’há uns mais iguais do que outros’. Que é como quem diz, pela negativa – que neste caso, na verdade é pela positiva – que alguns são bem diferentes, para melhor, como acontece com este Tex, o implacável.

Alguns dirão que o título não faz mais que afirmar o óbvio, e a história decorre em linha com ele, mas até nessa ‘igualdade’ esta narrativa soa diferente.

Em termos de história, nada de muito novo: Harry Logan é um bandido, com vários assaltos e homicídios no currículo, que por isso vai ser enforcado. Para Tucson, no Arizona, onde está preso e vigiado de perto pelos representantes da lei locais e onde a sentença será cumprida dentro de poucas horas, convergem os seus irmãos (de mães diferentes), Manuel e Simon, para tentarem libertá-lo, bem como Tex Willer e Kit Carson, para assegurar que nada impedirá que a justiça seja feita. Pontuado por sucessivos confrontos – o último dos quais, evoca um bem célebre momento da História (real) do Velho Oeste – Tex, o implacável  vai avançando através de diversas situações limite para Tex e Kit, que servem para comprovar a sua perenidade (quase escrevi imortalidade) e para afirmar a amizade que os une e, acima de tudo, o sentido de justiça que os guia e faz deles tanto juízes quanto carrascos (quando tal é necessário). Implacáveis, diriam alguns… mas nem tanto, como um dos intervenientes comprova, como excepção à regra.

Na narrativa em si, soa a pouco a participação dada no início a alguns dos membros do bando, cujos pseudónimos/aspecto faziam antever biografias mais ricas e a merecer maior exposição.

Mas saltando este pormenor (menor) o argumento está, assim, repleto de adrenalina, com perseguições, armadilhas e tiroteios para todos os gostos e, a espaços, assume até um carácter épico, com Boselli a escrever tendo em mente o justamente aclamado Claudio Villa para o desenhar. Para o desenhar, pasmem, ao longo de 17 – dezassete, isso mesmo, leram bem – longos anos, nos quais, a par da sua proverbial lentidão, teve de entremear o desenho das pranchas com o das capas regulares e de edições especiais de que foi sendo sucessivamente encarregado, como lido na entrevista que abre a edição.

E se Villa conseguiu disfarçar a passagem do tempo – embora leitores mais atentos e exigentes a consigam vislumbrar, o importante será apreciar – extasiados – a qualidade do seu traço, a segurança do seu desenho, o à-vontade na figura humana, nos cenários urbanos ou naturais e a mestria na representação dos cavalos, justificando plenamente o todo a passagem que houve desta história da colecção regular para um Tex Gigante (os italianos Texone), com a mudança a ostentar o mérito de permitir apreciar melhor o desenho de Villa no (seu) formato maior.

Temos assim, no seu conjunto, um western em estado puro, dentro de cânones tradicionais do género e, em especial, de Tex, concedo, mas daqueles que em empolgam e seguram o leitor até à última página.

* Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Imagens disponibilizadas pela Mythos Editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

Um comentário

  1. O crítico capacitado geralmente diz quando é bom, mediano ou ruim. Já o crítico ciumento sempre vai colocar defeito, até em Diamante puro. Não sei quem é esse crítico a que te referes, Pedro, mas… Esse álbum, é, em síntese e propagação, um marco histórico, fabuloso, introvabile. Tudo o que se diga a seu favor será imensamente pouco – como é comum aos amantes apaixonados. Tudo que lhe digam de mal, será perversamente vão – como as tentativas inócuas de Sísifo.

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