As Leituras do Pedro*
Tex Especial Colorido #4
Os suspeitos – Tito Faraci e Giampiero Casertano
Um covil de feras – Pasquale Ruju e Sandro Scascitelli
O último da lista – Gianfranco Manfredi e Stefano Biglia
O vale sagrado – Mauro Boselli e Nicola Genzianella
Histórias originalmente publicadas em Color Tex italiano 4
Mythos Editora, Brasil, Abril de 2015
160 x 210 mm, 132 p., cor, brochado
R$ 19,90 / 10,00 €
Depois de ter inovado com a introdução da cor em Tex, esta revista quebra agora uma outra ‘regra’, pois a tradicional opção por histórias longas, deu lugar, neste quarto número, à inclusão de quatro narrativas de apenas 32 pranchas.
Não que já não existisse cor em Tex: os números centenários da colecção regular ostentam-na desde os anos 1960 – e todos eles foram alvo de colorização para a Collezione Storica a Colori, que a Sergio Bonelli Editore criou em parceria com o jornal La Repubblica e a revista L’Expresso.
De igual modo, em quase 70 anos a cavalgar nas grandes pradarias, Tex já tinha vivido uma mão cheia de aventuras curtas – reunidas no Almanaque Tex #44 – mas também não é esse o seu modelo padrão.
Embora pudesse (também) ser, como parecem comprovar – de formas diferentes – as quatro narrativas presentes neste Tex Especial Colorido #4, agora distribuído em Portugal.
Obviamente, a redução de páginas obriga a modelos diferentes. Em Os Suspeitos a descoberta de um assassino contratado entre os passageiros de uma diligência, obriga Tex a um trabalho quase de detective e o final, inesperado, ostenta um humor desconcertante, raramente presente nas histórias do ranger.
O final desconcertante surge de novo em Um covil de feras, uma história com – um nada habitual – protagonismo no feminino e o Tex detective está de novo presente em O último da lista, quando tem de encontrar um antigo assaltante, entretanto redimido, para o proteger de uma vingança.
Finalmente, O vale sagrado, ambientado em montanhas rodeadas de deserto e com uma vingança vinda do passado como gatilho da narrativa, assume um tom místico.
De comum a todas, o facto de se sustentarem por si só e dificilmente poderem ser apenas um episódio numa trama mais longa (em especial no que toca às duas primeiras) e o facto de terem tido dos melhores tratamentos de cor que já foi possível ver em Tex.
E apesar de tudo isto, podem ser também vistas como experiências – duplas – no universo de Tex: como teste a novos autores, como o trilhar de (possíveis?) novos caminhos narrativos e como uma tentativa de oferta de uma leitura mais imediatista – mais de acordo com os padrões dos jovens actuais?
Porque – e aqui o texto diverge para um âmbito mais vasto – acredito que com este Tex Especial Colorido, a Sergio Bonelli Editore, não pondo de parte os habituais leitores de Tex, visa mais longe, tentando conquistar novos (ou não tão novos) leitores, possivelmente como única forma de sobrevivência a – médio? – prazo de um dos mais longevos e importantes selos editoriais de BD do velho continente.
Na verdade, os anos recentes têm revelado uma mudança de orientação por parte da Sergio Bonelli Editore no que a Tex diz respeito – mesmo que para alguns constitua traição digna de um tratamento duro à moda do ranger.
Refiro-me obviamente, às edições especiais e de luxo e à retoma – mesmo que pontualmente – do mais célebre herói da casa Bonelli por outros autores, como é o caso dos álbuns (em formato europeu) desenhados por Eleuteri Serpieri – mas sem Druna… – ou Horacio Altuna. Ou às edições de ‘livraria’ – recém-estreadas com Vendetta Indiana – para onde são também vocacionados os luxuosos Teg Gigantes coloridos da Mythos Editora.
[E abro aqui um parêntesis, para citar a antecipação portuguesa neste campo, com a bela, elogiada e cobiçada edição de Patagónia, pela Polvo, cujo intuito também vai, obviamente, bem para lá do núcleo duro dos leitores de Tex.]
A estas ‘inovações texianas’ há que juntar outros passos na mesma direcção dados com outros heróis fortes da casa Bonelli, com direito também a edições especiais coloridas, em formato mais próximo do livro ou com capas variantes, como aconteceu – no exemplo mais marcante? – em Julia #200, que a par da edição com capa tradicional, teve outra, de menor tiragem, com a capa desenhada por… Vittorio Giardino!
A razão de tudo isto – óbvia e compreensível, diria eu – é a procura de novos leitores noutros segmentos, a par da oferta de produtos de maior qualidade para um leque (alargado?) de leitores tradicionais que, pela mudança de hábitos – em comparação com outros géneros de banda desenhada – e de poder económico (?) querem ver o(s) seu(s) herói(s) em edições que façam jus à qualidade que vêem nele(s).
No entanto – e acho importante reforçar esta ideia – nada disto coloca em causa as origens – apetece-me escrever ‘humildes’ – das personagens nas edições (claramente) populares, a preto e branco, papel (só) razoável e baixo preço. Edições que se mantêm disponíveis como a base do império editorial (bem sucedido) que a Bonelli alicerçou em Tex e onde ele – e à sua sombra protectora muitos outros – continua a viver a maior parte das suas aventuras.
*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro.
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