As Leituras do Pedro – Nick Raider #4: O guerreiro da Metrópole

As Leituras do Pedro*

Nick Raider #4: O guerreiro da Metrópole
Bepi Vigna (argumento)
Renato Polese (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Outubro de 2018
160 x 210 mm, 96 p., pb, capa mole
R$ 26,90

Ao lado

Detective em Nova Iorque, de alguma forma Nick Raider veio ‘suprir uma lacuna’ no catálogo eminentemente popular da Sergio Bonelli Editore: a ausência de uma narrativa de carácter policial, que Julia viria mais tarde complementar – e suplantar.

Publicado entre 1988 e 2005, é uma criação original de Claudio Nizzi, que viria a deixá-lo para se dedicar a Tex – são dele (na fase inicial, especialmente) a maioria dos Texoni (Tex Gigante).

Em parte por isso, Raider é muitas vezes considerado o ‘Tex de Nova Iorque’, mas na verdade o tom e a postura afastam-no do que um epíteto desses implicaria.

Nick Raider #4 – O guerreiro da Metrópole – Páginas 6 e 7

Se as narrativas são geralmente lineares na base e nos desenvolvimentos – longe por isso das questões psicológicas que prevalecem em Julia… – elas conseguem dar uma ideia genérica do desenvolvimento do trabalho de investigação que um crime – geralmente homicídios – implica, da observação do local do crime, à exploração das pistas, da análise laboratorial dos indícios ao recurso aos informadores, da audição de testemunhas ao interrogatório de potenciais suspeitos. O que não impede que, no final, geralmente seja a acção a prevalecer na resolução dos casos.

Na sua base, está uma equipa alargada, composta por Raider, o seu parceiro (negro) Marvin Brown, responsável pelos entreactos cómicos – um recurso habitual nas narrativas (mais) tradicionais Bonelli, para aligeirar a tensão – o veterano Art Ryan, o investigador Jimmy Garnet e um capitão burocrata e pouco dotado para o seu trabalho, recorrentemente em choque com o protagonista.

Graficamente inspirado no actor Robert Mitchum – tendo Eddie Murphy servido de modelo a Brown – Nick Raider começou por ser desenhado por Giampero Casertano.

Nick Raider #4 – O guerreiro da Metrópole – Páginas 10 e 11

Neste quarto – e último! – volume da sua nova (e curta) vida no Brasil – no total foram 10 edições pela Record, 16+4 pela Mythos – o detective dos homicídio vê-se a braços com uma série de assassinatos violentos, que a investigação acabará por relacionar com um caso acontecido duas décadas antes no Vietname. A descoberta do motivo levará a polícia nova-iorquina até um inesperado suspeito, num relato onde mais uma vez tem preponderância a acção.

Se compreendo – e conheço – a base em que assenta Nick Raider e o seu propósito de, antes de mais, dispor bem e distrair de forma ligeira, não posso deixar de lamentar que as sucessivas deixas cómicas – e o recurso nesses momentos a um traço mais caricatural – acabem de algum modo por atenuar a tensão e as questões mais sérias que um outro tipo de abordagem poderia retirar da exploração daquele trauma que continua(va, em 1989, data de publicação original desta obra) presente na sociedade americana. E que poderia (e)levar as histórias de Nick Raider para um outro patamar… (mas temos sempre Julia…!)

Nick Raider #4 – O guerreiro da Metrópole – Páginas 12 e 13

Nota final

Pergunto-me se este modelo de edição, menos luxuoso e (por isso) mais barato, não poderia vingar nos nossos quiosques e bancas, principalmente se assente numa criteriosa selecção de alternância de (alguns) dos heróis Bonelli. Ou numa colecção ‘menos exigente’, com outro espírito e outro tipo de jornal…

Sei que não sou o primeiro a pensá-lo e duvido que alguma vez saiba a resposta, mas deixo na mesma a reflexão provocadora…

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

3 Comentários

  1. Nick Raider merece uma nova chance no Brasil. Quem sabe por estas novas editoras que estão publicando fumettis no momento. Editora 85, Graphite, Red Dragon ou a nova Trem Fantasma editora?

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