As Leituras do Pedro – Ken Parker #8: Hombres, Bestias y Héroes/ Butch, el implacable

As Leituras do Pedro*

Ken Parker #8: Hombres, Bestias y Héroes/ Butch, el implacable
Giancarlo Berardi (argumento)
Ivo Milazzo e Bruno Marrafa (desenho)
ECC Comics
Espanha, Março de 2018
140 x 210 mm, 200 p., pb, capa fina com badanas
ISBN: 978-84-17354-28-2
9,90 €

Títulos…

Em cada análise que faço aqui no blogue, por baixo do título da obra existe um (sub-)título com o qual pretendo resumir, apresentar o livro e/ou despertar a curiosidade de quem lê, mas sempre sem desvendar demasiado.

Desta vez, neste (rápido) regresso a Ken Parker, não consegui decidir que (sub-)título utilizar: Fim de ciclo? Curiosidade? Mestria narrativa? Ficam breves análises segundo as linhas orientadoras de cada um, já a seguir…

Fim de ciclo

Este volume duplo – da colecção Ken Parker que a ECC Comics está a lançar mensalmente em Espanha – abre com Hombres, Bestias y Héroes que marca o final do ciclo que Berardi dedicou à adolescente Pat O’Shane. Foi uma fase de transição, relativamente longa, por vezes com um excesso de rábulas burlescas, que fundamentalmente serviu de rito de passagem da adolescência para uma idade (pré-)adulta da jovem que Ken acompanhou e protegeu, da melhor forma que pôde, embora fosse visível a forma como se sentia desconfortável, preso e manietado na sua ânsia de liberdade.

Este conto final – que é também um retrato realista – por isso duro – de algumas realidades do velho Oeste, destaca-se pela forma púdica como é narrada a aproximação progressiva entre Pat e Nathan que permite a libertação emocional de Ken.

Curiosidade

Outro aspecto a destacar neste conto – embora por demais conhecido – é a curiosidade de nas suas páginas iniciais, na cena em que Ken Parker, num saloon, tenta encontrar homens que o acompanhem na condução do rebanho de Pat O’Shane, ter como cicerones os próprios Berardi e Milazzo, em divertidos exercícios de auto-depreciação. Ao mesmo tempo, entre os clientes vão-se reconhecendo Tex, Carson, Kit Willer e Jack Tigre, Larry Yuma, Red Dust, Cisco Kid e Pancho, Sargento Kirk, Lucky Luke ou Blueberry, numa bela homenagem e curioso reconhecimento do género e citação de alguns dos seus intervenientes de eleição, numa série que tanto se afastou do western tradicional em nome da sua humanização…

Mestria narrativa

Mas a principal razão para este texto – por isso este terceiro sub-título ficou para o fim – é o segundo relato que o livro contém – Butch, el implacable – no qual Giancarlo Berradi dá mostras de toda a sua mestria narrativa – num modelo (desculpem a rudeza do termo) que iria aplicar anos mais tarde igualmente em Julia.

Com o herói a entrar apenas por volta da página 30 (!), aproveita o largo intróito anterior para nos dar a conhecer Butch, um caçador de escalpes, bem como alguns passageiros de uma diligência. Fá-lo através da acção e dos diálogos, tentando que os juízos sobre cada um caibam apenas ao leitor mas, nessas curtas páginas, aborda emancipação feminina, racismo, preconceitos em relação aos índios, servindo tudo com um grau de violência- várias vezes visual – invulgar na época…

Se os caminhos da diligência referida, de Ken Parker e de Butch se vão cruzar, vítimas comuns de uma perseguição por índios, tenham cuidado com as ideias feitas (que vão formar antecipadamente) e esperem tudo deste relato menos um western clássico e estereotipado, porque Berardi – com evidente prazer – troca-nos as voltas de forma magistral, mostrando como quem vê caras não vê corações – desculpem a recurso fácil à sabedoria popular – e entre redenções e quedas, o ser humano é sempre capaz de nos (des)iludir.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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