As Leituras do Pedro*
Ken Parker #7: La ciudad ardiente/Ranchero!
Giancarlo Berardi (argumento)
Ivo Milazzo e Giancarlo Alessandrini (desenho)
ECC Comics
Espanha, Fevereiro de 2018
140 x 210 mm, 200 p., pb, capa fina com badanas
ISBN: 978-84-17316-10-5
9,90 €
Onde é que já vi isto…?
Há demasiado tempo a aguardar leitura, feita de forma intermitente ao sabor das muitas novidades que – ainda bem! – têm surgido no nosso país, este era um dos vários volumes de Ken Parker que diariamente me desafiam por detrás do computador onde escrevo estas linhas.
A descobrir de forma cronológica a obra-prima de Berardi e Milazzo, o principal atractivo tem sido a evolução da personagem – quase me enganava e escrevi ‘herói’ – que nasce (quase) à imagem e semelhança de Tex e aos poucos se vai transformando no ser humano sensível e preocupado com os outros que hoje (re)conhecemos.
Este volume duplo – como todos os da edição da espanhola ECC Comics – correspondente aos volumes 13 e #14 da série original, reúne os relatos La ciudad ardiente e Ranchero!, que fazem parte do arco maior cujo protagonismo Parker partilha com a adolescente Pat O’Shane. Depois do magnífico La balada de Pat O’Shane – que deveria ter merecido uma análise aqui… – há um regresso a um registo mais rocambolesco e caricatural – sem colocar em causa as bases da criação – enquanto Ken e Pat vagueiam pelo Oeste profundo, em busca dos sonhos dela – que tanto podem ser a busca da mãe dela, um rancho ou um combate de boxe.
No entanto, a principal curiosidade deste volume está na primeira narrativa, que parte da reunião de um bando de fora-da-lei para levarem a cabo um assalto a uma cidade completa. Se esta situação vos soa familiar, possivelmente já a leram – como aconteceu comigo em O Golpe, uma das adaptações de (um outro) Parker, que Darwyn Cooke fez a partir da obra original de Richard Stark.
Possivelmente conhecedor do romance original, Berardi decidiu transpor para o seu universo a ideia base de uma cidade fechada por montanhas por três lados, por isso com uma única entrada e com uma mina ao fundo. Aqui a ideia do bando é roubar os salários dos mineiros e, de caminho, levar limpar também dois bancos e uma joalharia.
Ken Parker vê-se envolvido no esquema por acidente – ao contrário do Parker original – mas nem tudo correrá como previsto e, se a situação é similar, o desenvolvimento revela-se bastante díspar, bem para lá da diferença de épocas e (vontade dos) intervenientes, não havendo por isso qualquer risco de a leitura soar demasiado a déjá vu.
Outra curiosidade deste volume é o desenho de Ranchero! estar entregue a Giancarlo Alessandrini, que perde notoriamente para Milazzo, pese embora todas as tentativas de emular o original, num relato que se revela demasiado rocambolesco e caricatural, pese embora o peso do lado solidário, ingénuo e sempre disponível para ajudar os outros de Ken Parker.
*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
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