As Leituras do Pedro: Júlia #6 + Tex #630/#631 + Tarzan #8/#9

As Leituras do Pedro*

Três leituras populares 

Há leituras que acabam por não passar por aqui. Falta de tempo, de inspiração ou simples indolência deixam quem visita este blog privado de apontamentos de leitura que – acredito – podiam ser úteis.

De forma breve, registo de seguida três leituras (mais ou menos) recentes que sofreram do descrito acima. Para além disso, porquê juntá-las? Porque, cada uma à sua maneira, espelham e afirmam o melhor da banda desenhada dita popular.

Por vezes a ficção adianta-se à realidade – ou ganha novo relevo devido às mudanças entretanto acontecidas. Júlia #6 (Mythos Editora, Brasil, 2022), é um desses casos. Um cadáver de uma mulher, violada, descoberto nu, ocultado nos arbustos de um parque, é o gatilho para mais uma investigação da polícia de Garden City, com a habitual assessoria da criminóloga Júlia Kendall, centrada num gang juvenil ucraniano. Natural na altura de publicação original (Sergio Bonelli Editore, Itália, 2015), devido aos (primeiros) confrontos entre russos e ucranianos no território natal destes últimos, ganha maior actualidade agora – e então há um ano atrás quando saiu no Brasil, nem se fala! – devido às proporções que o conflito assumiu.

O díptico O Monstro do Lago Salgado/Por trás da Máscara publicado em Tex #630/#631 (Mythos Editora, Brasil, 2022) destaca-se da produção normal do ranger por uma exponenciação da violência não muito habitual em Tex, pelo belo desenho a traço fino e detalhado de Michele Benevento e por algumas inflexões na narrativa de Pasquale Ruju, que termina de forma inesperada e até brutal, vincando que por vezes o ódio racial tem razões que a razão desconhece… sem que seja justificado embora de certa forma se entenda.

Sobre o Tarzan de Russ Manning – e da a magnífica recuperação por Manuel Caldas – já escrevi várias vezes e por isso conhecem bem a minha opinião e a forma como sempre me seduziu.

Na recta final da publicação de todas as pranchas dominicais que Manning assinou – o décimo tomo será (já?!) o último… – entre o exotismo e a violência da selva africana, com o fascínio das impossíveis civilizações perdidas e a beleza do traço do autor norte-americano, que faz brilhar o já escrito e deslumbra com a perfeição do corpo humano, da leitura sôfrega e com um sabor nostálgico indescritível de Tarzan Planchas Dominicales #8/#9, o que fica desta vez, o que marcou e não me sai da cabeça, é aquele olhar de Jane, na capa do volume oitavo, aliviada pela presença do seu Tarzan, desejosa dessa presença mas, mais uma vez e sempre incrivelmente sedutora, mesmo na desesperada situação em que se encontra…

* Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro 

(capas disponibilizadas pelas editoras; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

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