As Leituras do Pedro*
Tex apresenta Especial Sergio Bonelli
Guido Nolitta (argumento)
Aurelio Galleppini (desenho em Tex: El Muerto)
Roberto Diso (desenho em Mister No: Uma Nova Vida)
Gallieno Ferri (desenho em Zagor: A Porta do Medo)
Fabio Celoni (desenho em Mister BO)
Mythos Editora
Brasil, Agosto de 2013
160 x 210 mm, 340 p., pb/cor, brochada
R$ 39,90 / 17,00 €
Está finalmente disponível nas bancas portuguesas este Tex apresenta: Especial Sergio Bonelli apesar de inicialmente ter sido anunciado para Junho último. As razões para tão grande atraso, como diria Panoramix, só são transmitidas da boca da distribuidora para o ouvido da distribuidora – ou talvez nem sequer assim…
Independentemente disso, os portugueses podem finalmente conhecer a edição com que a Mythos Editora decidiu homenagear Sergio Bonelli, ano e meio após a sua morte, e esta é uma oportunidade rara – talvez única? – para encontrar num só volume histórias de três dos mais representativos heróis que o grande argumentista (sob pseudónimo de Guido Nolitta)/editor italiano criou – Zagor e Mister No – ou para os quais escreveu argumentos – Tex.
Tex apresenta: Especial Sergio Bonelli inclui as histórias Tex: El Muerto, Mister No: Uma Nova Vida e Zagor: A Porta do Medo. Vou saltar a primeira – datada de 1976, para muitos a melhor história de Tex já contada – porque já em tempos escrevi sobre ela e passar directamente a Mister No.
Americano, ex-aviador durante a II Guerra Mundial, Mister No – aliás Jerry Drake –em 1950 abandonou ou Estados Unidos, país em mudança acelerada rumo à perda de individualidade, para se mudar para Manaus, no Brasil, próximo da Amazónia, onde as pessoas mantinham a sua simplicidade e a natureza as suas características originais.
Amigo de cerveja, uísque e belas mulheres, construiu uma reputação nem sempre abonatória, e com ele o seu criador, Sergio Bonelli, pôde dar largas à sua paixão por aquela região brasileira que visitou por diversas vezes e onde muitas vezes esboçou os seus argumentos.
Uma Nova Vida (2006) – última aventura de Mister No, até agora inédita em português, que encerrou a série em Itália, ao fim de 379 volumes – apresenta o aviador em 1970, no seu último dia em Manaus, de novo de partida em busca do mesmo que o levou para lá e que já não consegue encontrar. Feita de deambulações por alguns lugares marcantes e de reencontros com personagens que o acompanharam ao longo da série, é um longo adeus, balizado pelas características mais intimistas da série.
Quanto a A Porta do Medo (1966), surge algo datada na estrutura e ritmo narrativo, embora seja uma oportunidade para descobrir um Zagor dos primeiros anos, equilibrado entre o mistério, a acção e o humor, tendo por base temáticas então em voga como as civilizações perdidas e os confrontos entre tribos.
Acreditando que Sergio Bonelli preferiria (re)ver as suas histórias no preto e branco original – e a cor surge algo penalizadora na história de Zagor – percebo a opção pela edição (semi-) colorida – Mister No é publicado a preto e branco – em especial pela possibilidade oferecida aos fãs de descobrirem El Muerto a cores.
Especial Sergio Bonelli apresenta ainda as 8 pranchas cómicas de Mister Bo – uma paródia que Sergio Bonelli fez de si mesmo – uma entrevista com Gianmaria Contro, que o acompanhou em diversas viagens e dois textos de apoio.
Uma edição destas, que sairia enriquecida se tivesse incluído uma biobibliografia de Sergio Bonelli e indicasse a data de publicação original de todas as histórias, é (mais) um bom exemplo da diferença que faz a opção pelo formato original italiano, mais a mais bem impressa e com óptimo papel.
*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro.
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