As Leituras do Pedro*
Dylan Dog: Até que a morte vos separe
Mauro Marcheselli e Tiziano Sclavi (argumento)
Bruno Brindisi (desenho)
G. Floy
Portugal, Abril de 2019
170 x 230 mm, 120 p., pb, capa dura
12,50 €
Cuidado!
Depois do magnífico O velho que lê, a segunda aposta da G. Floy em Dylan Dog é este Até que a morte vos separe, uma das histórias ‘fundadoras’ da série.
Razões para uma recomendação expressa da sua leitura e alerta para um grave problema…
Embora corresponda ao volume #121 da série original italiana – número especial para assinalar os 10 anos da publicação de DD – esta história deve ser encarada como uma das fundadoras da série, pois nela são-nos apresentadas as razões que levaram o investigador do pesadelo a deixar – a ser expulso… – da Scotland Yard o que, posteriormente, o levaria a abrir a sua própria agência de detectives. É importante também porque assinala o seu primeiro encontro com o seu (futuro) assistente Groucho Marx (clone do célebre actor cómico) e porque nos mostra a relação próxima com o inspector Bloch, da polícia britânica.
E ainda – como diria alguém – ou principalmente, porque narra a grande paixão que Dylan Dog viveu com Lillie Conolly, uma activista do IRA – o Exército de Libertação Irlandês, responsável por inúmeros atentados – e, possivelmente, como essa relação que se revelou trágica afectou todas as suas relações amorosas futuras.
O conflito, que opôs os nacionalistas irlandeses e os britânicos anos a fio e que assumiu proporções mais fatídicas – ou mais mediáticas…? – nas décadas de 1970 e 1980, serve aliás de pano de fundo e tema central a toda esta história, forte, densa e com uma elevada carga realista – algo que não é muito vulgar em Dylan Dog – questionando a forma de actuar de ambas as partes – o IRA e a polícia britânica.
Com Dylan afectado pela morte de um colega da polícia num atentado e dividido entre a sua obrigação profissional, as dúvidas sobre a justeza dos seus actos, o amor que sente por Lillie e as mudanças comportamentais desta, Até que a morte vos separe, pelo seu tom realista, as diversas referências factuais que apresenta e algumas citações que expõem o lado culto da série, é não só uma óptima porta de entrada em Dylan Dog como também um belo exemplo do seu potencial, que a tornou leitura de culto fora do círculo dos leitores habituais de BD.
…embora seja importante referir que Dylan Dog apresenta um grave problema: a sua leitura vicia, deixa o leitor carente de mais e os meses que previsivelmente será necessário esperar por nova edição portuguesa, certamente serão muito difíceis de passar.
Ficam avisados, para decidirem por vossa conta e risco…
Nota 1
O título português – Até que a morte vos separe – não faz jus ao título original italiano – Finché morte non vi separi, literalmente ‘Até que a morte não vos separe’.
Se a frase utilizada em português é a fórmula tradicional dos casamentos e faz sentido numa óptica de interpretação literal do relato, o original era bem mais forte pois, para além de utilizar um trocadilho, algo muito habitual em Dylan Dog, apontava igualmente para a perpetuação da relação de Dylan e Lillie, através das memórias, recordações e marcas que deixou no detective.
Nota 2
Este livro – já distribuído nas bancas e quiosques desde o dia 10 devido a um erro da distribuidora, tal como aliás O Velho que Lê que chegou a 17 – terá apresentação oficial na 6.ª Mostra do Clube Tex Portugal, que decorre em Anadia nos próximos dias 27 e 28 de Abril, e na qual estará presente o seu (excelente) desenhador, Bruno Brindisi.
*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
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