As Leituras do Pedro*
Para lá das fronteiras
Mundos como o deste Dragonero – ou como os de Saga a que voltarei muito em breve – permitem aos seus autores divagarem, diversificarem e entreterem o leitor, sem que este se canse ou se queixe de repetições desnecessárias.
O quarto volume de Dragonero revela isto mesmo, numa história de cortar o fôlego, que decorre (quase) integralmente fora dos domínios que até agora conhecemos – e mal espreitámos.
Se – mostra-nos o mapa nas páginas de guarda destas edições – Erondár é o mundo multifacetado que o humano Ian e ogre Gmor normalmente calcorreiam, sabemos depois desta leitura que existe vida – e também muitas formas de morrer – para além dele e Ian irá descobrir algumas delas na missão solitária que lhe é confiada.
Missão que o levará a atravessar territórios para lá das fronteiras, percorrendo água, terra e ar, atravessando mares, desertos e florestas com um intuito de que o leitor pouco conhecerá, mas sem que isso faça com que a leitura valha menos a pena. Porque, Más allá de Erondár é uma daquelas aventuras de cortar o fôlego, com os acontecimentos – surpresas, combates, ataques de animais extraordinários, alianças passageiras… – a sucederem-se a um ritmo acelerado, arrastando o leitor, sobressaltado, ao lado de Ian, em dirigíveis, estranhas montadas ou frágeis embarcações, até ao destino que nem ao protagonista, nem a nós é antecipadamente revelado.
Mas se é pouco o que este volume acrescenta à história pessoal do protagonista – embora revele várias facetas do seu carácter, das suas crenças e do eu modo de agir – é bem mais o que nos mostra do universo fantástico em que ele evolui e também dos seus habitantes, em especial, no que a estes últimos diz respeito, no dossier de duas dúzias de páginas com que Luca Enoch encerra esta edição.
Nota final
Habitual quando lemos comics, chocou-me um pouco a ‘divisão’ dos quatro capítulos desta aventura por vários autores – em duplas ou quartetos! – pela forma como isso afectou graficamente e ao nível da cor o resultado final, em especial na transição do primeiro capítulo, o mais conseguido naqueles dois aspectos, para o segundo, claramente mais fraco.
Uma faceta da produção da Bonelli que até agora desconhecia e que podem julgar nas quatro páginas – uma de cada capítulo – que aqui deixo a ilustrar este texto…
*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
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