As Leituras do Pedro: Bom Willer, Dylan Mouse e Ganso Never

As Leituras do Pedro*

Bom Willer, Dylan Mouse e Ganso Never
Bom Willer em Um ranger em acção
Corrado Mastantuono
Dylan Mouse em O despertar dos roedores invasivos
Tiziano Sclavi, Roberto Recchioni e Tito Faraci (argumento) e Paolo Mottura (desenho)
Ganso Never Agente Espacial Alfafa
Riccardo Secchi (argumento) e Alessandro Perina (desenho)
Panini Comics
Brasil, Novembro de 2021
205 x 315 mm, 104 p., cor, capa dura
R$ 59,90

Para leitores Bonelli

Resumo

Esta edição da Panini Brasil compila três paródias a três dos mais carismáticos heróis Bonelli: obviamente – depreende-se do título, Tex Willer (o pai…), Dylan Dog e Nathan Never.

Desenvolvimento

Uma paródia só funciona – ou só funciona em toda a sua extensão – se quem a lê (neste caso) conhecer o original. Só dessa forma, tiques e estereótipos serão reconhecíveis e desfrutados no novo registo – ou não. Porque, nem sempre é fácil fazer humor de forma efectiva, mais a mais quando o alvo são monumentos dos fumetti, como no presente caso. No qual o objectivo foi plenamente atingido em duas das três homenagens. Porque, na prática, é disso (também) que se trata. Por isso, esta edição destina-se principalmente a quem conhece e lê aqueles heróis Bonelli.

Em Bom Willer, ter como autor completo Corrado Mastantuono, alguém que já trabalhou na personagem original, é sem dúvida uma mais valia. Dessa forma, foi criada uma história que segue a par e passo um dos estereótipos do género – a cobiça de terrenos – tantas vezes presente nas histórias do ranger, e que também funciona no registo humorístico. A este factor, há que acrescentar o bom uso das expressões e tiques do Tex original – bem como de Kit Carson (Pato Donald) e Jack Tigre (Professor Pardal) – para lá dos sempre inevitáveis tiroteios, ataques de índios e grandes cavalgadas para estarmos perante um relato que cumpre sem dúvida os seus propósitos.

No que diz respeito a Dylan Mouse, caricatura de outro “animal” homónimo, as coisas não funcionaram tão bem. O tom mais adulto do original – tanto no que ao terror diz respeito, quanto ao envolvimento romântico (e carnal) do protagonista com as clientes – era complicado de assumir – ou transpor – para um registo humorístico maioritariamente destinado a leitores de pouca idade e por isso algo falha, como os conhecedores do original notarão. Apesar disso, o argumento (a três tempos) dos veteranos de Dylan Dog Tiziano Sclavi, Roberto Recchioni e Tito Faraci tem alguns aspectos bem conseguidos, a começar pela transformação dos zombies do original, em viciados das redes sociais.

Finalmente, Ganso Never acaba por se revelar a maior surpresa deste tríptico, com a transposição da ficção-científica do operacional da Agência Alfa, para um relato igualmente futurista, mas, sendo protagonizado por Gansolino, centrado portanto na comida e no seu tráfico – que em mim evocou, de alguma forma, com as devidas distâncias, o Tony Chu de John Layman e Rob Guillory. Bem ritmada – ao contrário do relato de Dylan Mouse – e com alguns bons achados em termos humorísticos, acaba por encerrar com chave de ouro uma colectânea que também tinha tido uma boa abertura.

A reter

– O reconhecimento da popularidade (crescente?) dos heróis Bonelli que justifica edições como esta;
– As paródias bem conseguidas a Tex e Nathan Never;
– A boa edição da Panini Brasil, com capa dura e bom papel, que inclui uma introdução a cada história, bem como um esboço alusivo.

Menos conseguido

– Edição que, no entanto, beneficiaria se tivesse um tamanho menor, já que o actual, próximo do álbum tradicional franco-belga, tem margens brancas muito grandes e expande em demasia o traço dos autores – que não é feito a pensar nestas dimensões – sem benefícios de leitura. Possivelmente, o formato comic – ou mesmo o formato dito Bonelli – seriam os ideais;
– A paródia menos conseguida a Dylan Dog;
– A ausência nesta edição de Ratin Mystère, a sátira similar assinada por Casty que teve Martin Mystère como alvo.

Nota final

Os três relatos aqui reunidos – e a tal quarta história – foram publicados em Portugal durante o consulado da Goody à frente das edições Disney. Segundo Nuno Pereira do Sousa, do site Bandas Desenhadas, isso aconteceu nas revistas Comix #101 (2014, Bom Willer), #134 (2015, Dylan Mouse) e #192 (2017, Ganso Never) e Mickey #10 (2018, Ratin Mystère).

* Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro 

(Clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

Um comentário

  1. Quando esse gibi chegou na Comic Shop que frequento, o pessoal já separou uma pra mim. Comprei e li ao chegar em casa. Eu gostei demais. Concordo contigo que a paródia com DyD não funcionou tão bem, mas o Ganso Never foi muito bem. Ri muito ao ler a estória.
    Também achei esse formato inadequado e não sabia que há também uma paródia com o BVTM.

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