As Leituras do Pedro: A Lenda de Tex – Um outro Tex! ESTA quinta-feira com o jornal Público

As Leituras do Pedro*

Tex: A Lenda de Tex
Inclui: O último da lista; O Mescalero sem Rosto; Desafio na Velha Missão; Chupa-cabras!
Manfredi, Burattini, Rauch e Ruju (argumento)
Biglia, Rubini, Bocci e Tisselli (desenho)
Stefano Biglia (capa)
Levoir/Público
Portugal, 12 de Abril de 2018
190 x 260 mm, 136 p., cor, capa dura
10,90 €


Um outro Tex

A comemorar 70 nos de publicação ininterrupta este ano, Tex, ao longo deste tempo evoluiu de forma moderada e serena. Nos últimos anos, no entanto, surgiu ‘um outro Tex’, aquele para que este volume abre a porta.

A Lenda de Tex, Levoir & Público

Duro, inflexível, justiceiro, implacável, são alguns dos adjectivos que o ranger assumiu como imagem de marca ao longo dos muitos anos que leva em páginas desenhadas. Escrito durante décadas apenas pelos Bonelli, pai e filho, aberto depois, progressivamente a outros argumentistas, foi – é – controlado de perto pelos editores, para garantir sempre aos leitores o ‘seu’ imutável herói.

Depois dos Texone, os Tex Gigante com histórias escritas à medida dos desenhadores convidados, em tempos recentes, a exploração da cor, das histórias curtas, do formato álbum franco-belga, sem o descaracterizar (completamente), possibilitou que as abordagens se tornassem (mais) livres e originais. Para o bem e para o mal (de Tex).

A Lenda de Tex, volume inaugural da colecção que a Levoir e o Público dedicam a partir de hoje e durante dez semanas às personagens Bonelli, compila quatro dessas histórias recentes, curtas de ‘apenas’ 32 páginas – algo invulgar num percurso onde as narrativas contam geralmente uma a três centenas de pranchas.

Em O último da lista, surge um invulgar Tex, quase no papel de detective, numa pequena localidade perdida, à procura de um antigo assaltante, entretanto redimido, para o proteger de uma vingança, numa história em que o lado humano caminha lado a lado com a sua faceta justiceira e a aplicação do dito ‘atira primeiro, pergunta depois’.

Tex -O último da lista, de Manfredi & Biglia

Quanto à segunda narrativa, O Mescalero sem Rosto, é quase um remake, condensado, de uma das mais apreciadas histórias de Tex, El Muerto, e centra-se num homem que deixa um rasto de sangue no seu caminho para atrair Tex em nome de uma vingança.

O Mescalero sem Rosto, de Rauch & Bocci

Desafio na Velha Missão, apresenta-se como a mais original das quatro, embora dificilmente o futuro de Tex possa passar por aqui. A diferença começa no desenho a um tempo realista e de base fotográfica e contraditoriamente impressionista, servido por uma paleta de cores nada habitual em Tex, em que predominam os ocres e os tijolos. E acaba na verdadeira protagonista deste conto, Patricia Graves, mulher de um militar de alta patente e raptada por um comanche; vítima do síndroma de Estocolmo ou mulher nascida antes do seu tempo, terá uma surpreendente palavra a dizer quando o destino lhe proporcionar a oportunidade de escolher.

Desafio na Velha Missão, de Ruju & Tisselli

Finalmente, em Chupa-cabras!, o México é o cenário para uma história de tom fantástico mas também trágico, em que Tex e Tigre ajudam um cientista que procura os seres lendários que sugam o sangue de animais e humanos. Uma componente fantástica, geralmente afastada das histórias do ranger mas longe de ser caso único em 70 anos de tiros e cavalgadas.

Chupa-cabras!, de Burattini & Rubini

Graficamente, este tipo de histórias recentes teve uma vantagem, dotar Tex de um colorido próprio e personalizado, cada vez mais distante do colorido mecanizado que a Bonelli exibiu durante anos e que utilizou para recolorir a série normal de histórias do ranger. Ranger que, apesar de saltar de traço em traço consoante o desenhador que se ocupa dele na altura, e de tema em tema de acordo com quem o escreve, tem uma padrão e características que o tornam imediatamente reconhecível, mesmo quando é dada maior liberdade aos criadores do momento.

Apesar de díspares, estas quatro histórias são (mais) quatro contributos para a lenda de um herói de papel e, pela sua diversidade gráfica, narrativa e, apesar de tudo, temática, um bom cartão de apresentação para quem ainda não conhece Willer. Tex Willer.

A deslumbrante arte de Stefano Biglia para a capa exclusiva do volume 1 da Colecção Bonelli Portugal

Uma palavra ainda, para a belíssima aguarela de Stefano Biglia, criada especialmente para servir de capa a esta edição portuguesa, o que a valoriza e a torna (mais) apetecível para os muitos apreciadores de Tex espalhados pelo mundo.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. As expectativas são muito altas e a curiosidade também. Procurei pelo Pinhal Novo em 2 postos de combustível e em 3 papelarias e nada. Os postos de combustível só recebem extras gratuitos e as papelarias nenhuma delas recebeu os livros. Se não chega às papelarias vai ser difícil rentabilizar o produto.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *