As críticas do Marinho: Carovana di Audaci – Caravana de audazes (Tex italiano 662 e 663)

Por Mário João Marques

A gesta dos pioneiros faz parte de um oeste dramático, de um oeste verídico, de um oeste onde os homens rumavam a lugares distantes, decididos a enfrentar novos desafios em lugares desconhecidos. Terra Promessa, de Gianluigi Bonelli e Giovanni Ticci, terá sido a primeira aventura na série a exaltar esta gesta, quando Tex acompanha até à Califórnia uma caravana de Quaccheri, auto-denominados como a sociedade dos amigos, um grupo que recusava o uso da violência e das armas, uma opção difícil de entender e sobretudo manter no violento oeste. Mais tarde, Giancarlo Berardi escreveu Oklahoma, com desenhos de Guglielmo Letteri, uma das aventuras que os leitores mais apreciam, mas ao mesmo tempo uma aventura muito diferente daquelas que o leitor texiano estava habituado, apresentando um Tex que, não deixando de ser um herói clássico e sério, acabará por ser incluído no meio de uma diversidade de personagens que vão catapultar Oklahoma para uma aventura colectiva, onde o ranger não se assumirá como o protagonista tipicamente bonelliano.

Mais recentemente, em I Pionieri, aventura desenhada por Andrea Venturi, Mauro Boselli conseguirá captar a essência e a espessura dramática da epopeia dos pioneiros, nunca deixando de sublinhar as grandes linhas da série. São apenas três exemplos de aventuras sobre o tema, perfeitamente reveladoras das dificuldades de um grupo de homens agarrados a uma esperança e a um sentimento forte. Carovana di Audaci é mais um exemplo, uma aventura com um argumento linear idealizado por Luca Barbieri, grande conhecedor do western, e desenvolvido por Tito Faraci, história que, apesar de não conter a espessura e a densidade que encontramos, por exemplo, nos westerns de Mauro Boselli, está mesmo assim muito bem escrita.


Um bando de comanches, liderado pelo sanguinário Nevequaya, assalta um grupo de soldados, apoderando-se das armas que eram destinadas ao exército, iniciando então uma série de ataques e massacres na zona. Tex e Carson salvam um rancheiro e os seus filhos e juntam-se a uma caravana de pioneiros, que ruma em direcção ao Novo México, ameaçada pelo bando comanche. Mas o perigo está eminente, e depois de Kit Willer e Jack Tigre se reunirem ao grupo, os pards são obrigados a conduzir a caravana até uma cidade abandonada, de modo a prepararem a sua defesa, uma resistência desesperada contra a fúria selvagem dos comanches.


Uma clássica história de pioneiros e caravanas, onde é perfeitamente evidente a separação entre os bons (com um Tex bem determinado) e os maus (sobretudo o feroz Nevequaya), sem grandes aprofundamentos psicológicos e onde o veterano Tito Faraci parece ter captado melhor a série e a personagem. Não sabemos onde terminou a participação de Barbieri e começou a de Faraci, mas a verdade é que desta vez temos alguns sinais de mudança. Pela primeira vez, Faraci apresenta uma história com o quarteto de pards reunido. Para nós, humildes leitores, porque na realidade Faraci antes já tinha escrito Sangue Misto, uma primeira história onde se encontram os quatro pards, na qual Andrea Venturi ainda se encontra a trabalhar e cuja publicação se perspectiva para 2017. Depois, porque Faraci consegue apresentar um inimigo credível e que se assume na sua plenitude. Nevequaya é um comanche sanguinário e cruel, capaz de dificultar muito a acção de Tex, não só no assalto à cidade abandonada, mas sobretudo na cena final quando o ranger acaba por ser salvo graças a uma ilusão criada pelo filho Kit. Por fim, porque este Tex lembra o ranger bonelliano, capaz de segurar as rédeas dos acontecimentos, pronto a sacar a sua pistola e disparar a qualquer momento.


No capítulo do desenho encontramos o magnífico Maurizio Dotti que, depois de Zagor e sobretudo Dampyr, chegou recentemente a Tex, onde é já um dos seus autores mais aplaudidos. Sem esquecer a sua participação nos esboços de Glorieta Pass, a verdade é que foi com a aventura El Supremo que o desenhador assumiu realmente o seu trabalho na série, revelando logo ser uma grande aquisição para o staff texiano. O seu trabalho continuou em Rio Quemado, história curta publicada apenas por ocasião do Festival de Lugano na Suíça, deixando agora, uma vez mais, mais uma clara demonstração dos seus dotes. E que Dottes! As suas páginas são de um dinamismo ímpar, os seus enquadramentos originais e sempre diferentes, apresentando um desenho que consegue conjugar exemplarmente o clássico com o moderno, com um preciso cuidado no tratamento de personagens e ambientes. Domina todos os efeitos e contrastes entre o claro e o escuro, com realce para as atmosferas nocturnas, construindo pranchas sublimes e de enorme detalhe. Uma maravilha! Com Dotti não estamos perante banda desenhada, mas diante de um autêntico filme.


(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *