Por Mário João Marques
Segundo rezam as crónicas, Roy Bean foi um excêntrico jurista norte-americano que se auto-proclamou de juiz. Personagem de filmes e de literatura, foi também fonte de inspiração para G.L. Bonelli que acabou por cruzar Roy Bean com Tex e Carson na aventura “La Legge do Roy Bean” desenhada por Letteri e publicada nos números 117 – 120 da colecção italiana.
Robusto, barbudo e irrequieto, Roy Bean reaparece no caminho dos Rangers numa nova aventura, agora assinada por Boselli, e que marca o regresso de Pasquale Frisenda, agora na série regular, depois da sua estreia na magnífica aventura “Patagónia”, sobejamente elogiada por leitores e críticos.
Desta vez, Tex e Carson estão no encalço de Lonnie Moon, um foragido que se aliou ao mexicano Pablo Morientes, com o intuito de se apoderar de vinte mil dólares, dinheiro roubado pelo irmão de Lonnie durante um assalto ocorrido anos atrás, tendo nessa altura sido acusado e condenado pelo juiz Bean.
Acreditando que foi o próprio juiz que ficou com o dinheiro, Lonnie Moon fará tudo para obrigar Roy Bean a revelar a verdade, não hesitando em tentar matar Lily Langtry, uma actriz inglesa de visita ao Oeste americano e que é adorada e amada pelo juiz.
Na aventura bonelliana, Roy Bean era um canalha simpático, alguém que administrava a justiça de modo muito particular. Sem que estas características não deixem, de algum modo, estar presentes na aventura boseliana, a verdade é que desta vez Roy Bean surge-nos mais como um velho homem eternamente apaixonado por uma mulher que não conhece pessoalmente. Um eterno romântico que idealiza uma relação nunca antes alcançada, alguém que consegue construir uma cidade em homenagem à sua musa (a cidade de Langtry), nela edificando mesmo um teatro que possa servir de inspiração e permanecer para as memórias vindouras como um hino ao seu amor. A personagem de Bean, construída por Boselli, revela-se assim com outra espessura e densidade que a da aventura bonelliana, assumindo-se mais complexa, uma figura que vive eternamente um amor que se revela trágico.
História simples, que para muitos certamente não ficará como uma das melhores da série, mas perfeitamente reveladora e característica do modo como Boselli sabe construir tramas eficazes e capazes de deixar bons momentos junto do leitor. Junte-se um desenhador que trata o western por tu e estão reunidas as condições para que tudo possa fluir, para que esta aventura seja sintomática do bom momento actual da série.
O desenho de Frisenda é, na realidade, um cartão de visita que apela e chama pelo leitor. Muito dinâmico e capaz de constantemente recorrer a variados ângulos e perspectivas, Frisenda reaparece em grande na série. Logo nas páginas iniciais, veja-se, por exemplo, toda a cena da fuga de Lonnie Moon, quando este salta do penhasco para o rio Pecos. Um primeiro ângulo lateral onde homem e cavalo parecem apenas um, e depois, sucessivamente, as mesmas personagens vistas de baixo para cima e de cima para baixo até mergulharem nas águas com Tex sempre a assistir.
Para além da habitual mestria de Boselli em construir este tipo de cena muito visual, elucidativa e apelativa à capacidade do leitor de saber transportar a sua imaginação para um verdadeiro écran, a verdade é que Frisenda assume-se como um desenhador habilitadíssimo a interpretar os sentimentos de quem escreve, revelando uma notável capacidade de interacção com Boselli. Este desenho respira Oeste e se muitos não esquecem as qualidades gráficas de Frisenda reveladas em Patagónia, cujo desenho porventura respira mais no formato gigante onde foi publicado, desta vez, em formato mais reduzido, apesar do efeito poder não ser o mesmo, mesmo assim permite ao leitor apreciar as qualidades do autor. Frisenda é um valor seguro da série.
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