Argumento de Claudio Nizzi, desenhos de Fernando Fusco e capa de Claudio Villa.
Com o título original La bande dei messicani, a história foi publicada em Itália no Almanacco West 2010 e no Brasil pela Mythos Editora no Almanaque Tex nº 39, em Maio deste ano.
Pai e filho juntos ao longo de uma aventura, assemelha-se mais a um argumento idealizado por um autor como Boselli, que terá sido quem mais contribuiu para o crescimento e a importância da personagem de Kit Willer, dando-lhe redobrado protagonismo em algumas aventuras, deixando até por vezes para o seu pai um papel menos interventivo e primordial nos acontecimentos. Desta vez, cabe a Nizzi colocar Tex e Kit lado a lado o que, sem constituir uma inovação e, convenhamos, sem a mestria boselliana, não deixa de reflectir e sublinhar a importância que o filho do Ranger também assume para este autor
A trama é simples. Tex é contratado pelo comando dos Rangers para escoltar Ray Bonner, um jovem prisioneiro, até à penitenciária de Yuma. Ray participou num sangrento assalto, mas não revelou os nomes dos seus cúmplices, o que leva as autoridades a recear que, durante o trajecto, estes possam atentar contra a sua vida, calando-o para sempre. Mas quando Tex se prepara para levar Ray, este já se encontra morto, envenenado na sua cela, o que vem alterar tudo, levando-o a mudar os seus planos iniciais.
Até certo ponto, esta aventura contém alguns desenvolvimentos capazes de nos transportar até outras, como por exemplo “Caçada Humana” de Nolitta. Se bem que com contornos diferentes, Nolitta investe num gradual envolvimento entre Tex e Andy Wilson, também um jovem prisioneiro de Tex, culminando até numa vingança dura e violenta que ficou célebre na série. Nizzi remete tudo apenas para um mero jogo do gato e do rato, de um lado pai e filho a jogarem com as armas de que dispõem contra um bando de homens ciosos de os abaterem. A aventura nolittiana enriqueceu-se na relação construída entre os protagonistas e na gradual empatia que se foi formando, o que manifestamente aqui já não acontece.
Apesar de tudo, esta aventura de Nizzi, salvaguardando as debilidades actuais do autor, funciona. Resumindo-se certamente a emboscadas, tiroteios e cavalgadas, tal como evitando grandes densidades psicológicas, já habituais no autor, convenhamos que, desta vez, Nizzi soube dosear a aventura. Não há grandes tempos mortos, nem artifícios que apenas serviriam para encher páginas. Desta vez, a aventura funciona, porque Nizzi transmite desde cedo a sua opção e segue estritamente esse caminho, uma linha linear de desenvolvimento, com o leitor a saber ao que vai. Certamente que poderia, por exemplo, não ter morto logo no início a personagem de Ray, construindo assim uma trama mais sustentada na relação que esta personagem fosse mantendo com Tex, não evitando, mesmo assim, que o jovem Kit actuasse sempre na espreita. Poderia sim, mas isso talvez fosse pedir algo a um autor que, nesta fase, manifestamente já não consegue dar.
Fusco é um daqueles desenhadores não ultrapassados radicalmente pelo peso dos anos, ao contrário de outros autores cujo estilo não se soube modernizar ou porque adoptaram um traço mais económico em virtude de um cansaço natural. Pelo contrário, apesar da passagem voraz do tempo, o traço de Fusco, salvaguardando naturais imprecisões, consegue manter uma certa chama clássica, consegue mesmo assim continuar a transportar o leitor para uma época onde o western se afirmava, o que é sempre de realçar num autor nem sempre apreciado na justa medida pelos leitores. Fusco regressou após uma ausência devida a doença, mas rezam as crónicas que terá vindo fazer o seu último trabalho, agora que pretende dedicar-se com maior empenho a outra das suas paixões, a pintura. Vamos ver o que nos reserva o futuro, mas se para alguns a saída de Fusco das páginas de Tex representa o final de uma época, para outros, onde me incluo, ela adquire um significado mais sentimental, porque nos habituámos a respeitar este grande profissional que soube emprestar a Tex décadas de paixão e de grandes sensações. Fusco permanecia com Ticci como um dos últimos resistentes da idade de ouro. Por si só chega para nos curvarmos e agradecer o trabalho imenso que lega a Tex.
Texto de Mário João Marques
Não vejo debilidade no roteiro de Nizzi, quanto aos desenhistas daquele quinteto de ouro restou apenas o Ticci. Um final de trabalho desse quinteto genial se aproxima: Galep, Ticci, Letteri, Fusco e Nicolò, um esforço incomum destes fantásticos desenhistas, para manter Tex no ápice ao longo dos anos…