Albo Speciale Tex nº 21 – “Il profeta hualpai” de 20 de Junho de 2007.
Argumento de Claudio Nizzi, desenhos e capa de Corrado Mastantuono. História inédita no Brasil e Portugal.
Sem deixar de ter em atenção o argumento, a verdade é que a principal curiosidade deste tipo de publicação é motivada mais pelo trabalho do desenhador convidado, um autor exterior à série que vem trazer o seu cunho e visão pessoal a Tex. Desta vez, a tarefa coube ao romano Corrado Mastantuono, desenhador versátil, sobejamente conhecido em Itália, onde já colabora com a SBE, e cujos trabalhos começam também a alcançar um merecido sucesso no exigente mercado franco-belga com a série “Elias le Maudit”.
Manitary é um profeta que, após uma visão, sente-se investido a dar seguimento a uma sagrada missão: reunir as tribos índias debaixo de um único comando para expulsarem os brancos das suas terras. Tex, Carson, Tigre e Kit vão lutar juntos contra o orgulho índio e tentar evitar uma provável carnificina. Nizzi mistura profecias, cultura índia, contrabandistas de armas, o exército americano, tudo em razão de um fanático vendedor de sonhos que sucessivamente vai criando ilusões junto de tribos dispostas a segui-lo.
É uma aventura interessante no tema focado (as rebeliões índias) com algum ritmo mas, como tem vindo a ser habitual em Nizzi, sem criar grandes emoções. Faltam ingredientes numa aventura que prima por alguma superficialidade, bem patente no modo, por exemplo, como Nizzi constrói a figura de Manitary. A bem dizer, o profeta índio assume-se como uma personagem quase nula, sem grande espessura psicológica e onde pontificam frustrações herdadas de infância. Assim como surge logo no início da aventura, Manitary desaparece em grande parte do enredo, vindo a regressar, não diremos apenas como corpo presente, mas realmente com uma total ausência de impacto ou de actuação, funcionando mais como elemento figurativo.
Nizzi divide sempre a história em dois planos narrativos, com Tex e Jack Tigre por um lado e Carson com Kit por outro. Não é original no autor, mas são poucas as vezes em que Nizzi consegue juntar a contento os quatro pards, o que confere outro interesse à estrutura narrativa. Uma estrutura que, no entanto, acaba por ressentir-se da já referida ausência de um toque que a conduzisse a outros patamares: sendo Manitary uma figura débil fisicamente e frustrada ao nível das emoções, como conseguiu congregar em seu redor a revolta índia? E porque razão Tex passa a aventura a ser identificado como Águia da Noite e nunca se assume como líder dos Navajos, alguém capaz de levar outro discurso às tribos índias? São pontos importantes, mas que ficam sem resposta, numa aventura ligeira, que se lê bem, mas que não figurará no top das preferências.
O grande motivo de interesse é então o desenho de Mastantuono. Apesar de se tratar da sua primeira prova com Tex, (o autor acaba de entrar para o staff de desenhadores regulares), Mastantuono apresenta um trabalho globalmente muito positivo. É mesmo um dos melhores Texoni dos últimos anos neste aspecto. A sua caracterização dos quatro pards é quase perfeita. O seu Tex, que o autor vai moldando gradualmente, é muito conseguido, denotando respeito e firmeza, sendo difícil identificar a sua influência. Carson, apesar de parecer um pouco mais envelhecido, consegue reunir as principais características da personagem, marcadas sobretudo pelo seu proverbial pessimismo. Kit, ao contrário, parece mais jovem, mas sem que isso signifique falta de maturidade ou maior irrequietismo. Finalmente, Jack Tigre, que é de uma grande elegância no tratamento dado por Mastantuono.
Ao longo das páginas existe sempre um desenvolvimento muito dinâmico, perfeitos enquadramentos e um traço fino, simples, mas de grande eficácia. Mastantuono domina as regras da composição gráfica, aventurando-se aqui e ali na elaboração de planos de conjunto soberbos. Finalmente, uma nota final para a capa. Confesso que a minha primeira impressão foi de alguma decepção no modo como Mastantuono compôs a figura de Tex, mas diante da mesma, essa primeira impressão dissipou-se e afinal surgiu-nos um Tex, diferente certamente, mas que consegue reunir as suas principais características.
Texto de Mário João Marques
Considerações sobre um belo álbum especial de Tex.
Corrado Mastantuono.
Por conta das suas espetaculares capas do Mágico Vento, espera-se que o miolo de um Texone desenhado pelo Mastantuono tenha o mesmo nível, o que de fato não ocorre e nem poderia.
O seu Tex é Mágico Vento sem cabelos longos, Jack Tigre também o é, com cabelos mais curtos e pena na cabeça.
O seu Tex tem olhos claros!
As mãos desenhadas pelo Mastantuono em alguns momentos são desproporcionais parece não existir punhos. Excetuando isso, os seus desenhos são primorosos, com direitos a tomadas de gruas tão boas ou melhores que o enquadramento de muitos diretores hollywoodianos e outras tantas vistas de baixo para cima.
Kit Willer, foi desenhado com as calças por dentro das botas, coisa nunca ocorrida antes!
Na página 120, primeiro quadro, o laço de enforcamento do Edwing foi desenhado numa posição errada, logo corrigida no primeiro quadro da página 121.
Cláudio Nizzi.
Fez um roteiro rápido e preciso, com muita ação e um final muito movimentado. Ponto para a forma como o Nizzi dividiu os quatro pards, nunca tinha visto o Kit Carson junto com o Kit Willer. Eles formaram uma dupla ágil e direta. Muito interessante com o “Zio” Kit protegeu o sobrinho.
Resumo da ópera.
Há muito tempo que não lia um Tex tão bom!!!!