A BD DE COWBOYS E… O TEX WILLER

Por Jorge Machado-Dias*

Foi em 1962, aos 9 anos, quando vivi em Lourenço Marques com os meus pais, que descobri a banda desenhada. Nessa altura os meus pais iam ao cinema à noite e eu ficava no quarto deles com a minha irmã. Numa daquelas explorações que na generalidade os miúdos fazem, quando dão por si sem qualquer custódia de adultos, encontrei no guarda-fatos do meu pai, uma quantidade exorbitante (para mim na altura) de revistas de banda desenhada. Eram sobretudo exemplares d’O Falcão e do Mundo de Aventuras, entre outros de que não me recordo o nome. E, enquanto a minha irmã dormia, eu devorava uma série dessas revistas até ouvir a porta de entrada a abrir-se, sinal da chegada dos meus pais. Recordo-me que a maior parte das revistas era de cowboys – Cisco Kid, Cisco o Mexicano, Roque Texas, Texas Kid, mas também Tarzan, Mandrake, Tim Tyler, Fantasma, etc…

De regresso a Cascais, em 1964, fomos viver para uma das moradias do meu falecido bisavô, que tinha (na minha perspectiva de miúdo de dez anos) um grande terreno, cheio de capim – como eu lhe chamava devido à vivencia de cinco anos em África – árvores e… uma “casinha” com uma retrete, já desactivada, no meio daquilo tudo. Esse “território” foi o meu “faroeste“ de brincadeira, com os putos da vizinhança. Tive até uma pistola e cinturão, que me havia sido oferecida de prenda de anos. A casinha da retrete era o escritório do xerife, ou seja, eu próprio.

Depois, com a entrada na escola secundária, esqueci essas brincadeiras. O entretenimento virou-se, com a adolescência, para as “garinas” da escola. Reencontrei-me com a banda desenhada, com a revista Tintin, no início dos anos 1970. Mas só em 1975, quando fui em lua-de-mel passar alguns dias em Portimão, comecei a comprar livros de BD, mais propriamente os livros de Astérix.

Em 1978, quando andava a pintar logotipos e montras na Costa de Caparica, descobri a revista francesa A Suivre, numa tabacaria. Foi o reencontro com a banda desenhada, mas desta vez, com Hugo Pratt, Manara, etc… Mas onde também havia cowboys – Quatro Dedos, o Homem de Papel, de Manara, ou Verão Índio, de Pratt e Manara, El Gaucho, dos mesmos autores, Fort Weeling, de Pratt, etc… Regressou daí a apetência pelas aventuras no velho Oeste, embora as minhas temáticas preferidas fossem sempre e ainda são, múltiplas.

À esquerda: Luiz Beira, Paulo Monteiro e Clara Botelho; À direita: Geraldes Lino, José Carlos Francisco e Jorge Machado-Dias; Viseu – 2005

Só cerca de vinte e tal anos mais tarde, em 2005, no 14º Salão de BD pude Viseu, é que conheci o Zé Carlos Francisco e descobri Tex Willer. Já a saga do BDjornal estava em marcha. Mas só no número 4, de Julho de 2005 é que começa a haver matéria sobre o cowboy da Bonelli: Mythos Editora em Portugal, entrevista a Dorival Vitor Lopes, Helcio de Carvalho e José Carlos Francisco, por Nuno Pereira de Sousa e Bonelli, a Tradição do Fumetti na Modernidade, por Nuno Franco. O José Carlos começou a colaborar com o BDjornal no nº 7, de Novembro de 2005, com o artigo A Longa Cavalgada de Tex, o Ranger Sem Fronteiras. A partir daí o Ranger passou a ter morada fixa no BDjornal e, no nº 28, de Outubro de 2011, comecei eu próprio a escrever um longo historial (que ficou incompleto, dado o fim do BDj com o nº 30) sobre Os Desenhadores de Tex, que me levou a uma pesquisa quase interminável na Internet, onde obtive bastante material, muito embora quase tivesse que aprender a ler em italiano – não fosse o abençoado, mas um bocado trapalhão, tradutor do Google.

* Texto de Jorge Machado-Dias publicado originalmente na Revista nº 8 do Clube Tex Portugal, de Junho de 2018.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima clique nas mesmas)

2 Comentários

  1. Excelente relato!
    Aproveito para perguntar aos amigos se há alguma homenagem especial a algum escritor/desenhista na fascinante história de TEX MENSAL Nº 493 “O Homem de Baltimore“.

    • Eu pessoalmente acredito que haja uma homenagem, mas a quem especificamente, não sei responder…

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