SOMOS HUMANOS

Por Júlio Schneider*

Somos humanos – Júlio Schneider na revista nº 2 do Clube Tex Portugal

Um dos adágios da editoria diz que, por mais que um material seja visto e revisto várias vezes e por pessoas diferentes, um erro será percebido poucos minutos depois da edição impressa estar nos quiosques. E, por melhores que sejam os profissionais envolvidos, ninguém está imune ao erro, nem mesmo os que trabalham com o nosso Tex, seja no gigante editorial italiano SBE (Sergio Bonelli Editore) ou na casa brasileira do herói, a Mythos Editora. Há casos em que o equívoco é corrigido em reedições ou em lançamentos em outros Países, como aconteceu com a capa da edição italiana de Ao Sul do Rio Grande, em que, para não ser arrastado pela corredeira, Tex segura… uma corda invisível! Na edição brasileira, o lapso do desenhista Claudio Villa foi ajustado.

E até os grandes mestres têm seus momentos de distração, como aconteceu há mais de cinquenta anos com o mestre Aurelio Galleppini, que desenhou o nosso herói com seis dedos na capa de O Coiote Negro.

Também há os deslizes de montagem, como aconteceu com os Tex brasileiros 446 (o primeiro lote saiu da gráfica sem o logótipo da editora e sem o preço) e 460 (Tex ficou com o rosto deformado): nesses dois exemplos, os equívocos foram percebidos a tempo e corrigidos antes da distribuição aos quiosques – e os poucos exemplares defeituosos, retirados de circulação, certamente fariam a alegria de colecionadores e aficionados como os sócios do Clube Tex Portugal.

E há casos em que o que pode parecer estranho não significa necessariamente erro, e sim alterações feitas na imagem em favor da composição, como as capas em que Tex aparece a empunhar a arma com a mão esquerda ou, como aconteceu com o Almanaque West italiano de 2004, em que o protagonista monta agachado como se estivesse a desviar de uma flecha (quando nenhuma flecha voa em sua direção): na verdade, Tex simplesmente teve que se dobrar para não bater a cabeça no título da revista.

Opções de composição ou erros, tudo colabora para enriquecer o folclore da editoria. Só que, quando o material com erro chega ao quiosque, poucos minutos depois que se cumpre o adágio comentado no início, há leitores que imediatamente entram em contato com a redação, para apontar o engano. Nessas ocasiões, Sergio Bonelli costumava responder com desportivismo: “Sim, nós erramos. Isso é ruim. Mas também é bom, porque nos lembra que somos humanos“.

* Texto de Júlio Schneider (articulista, redactor, tradutor e consultor editorial para as publicações Bonelli no Brasi) publicado originalmente na Revista nº 2 do Clube Tex Portugal, de Junho de 2015.

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