Tex Série Normal (Itália): La grande sete

Tex 585Tex 585 – “La grande sete“, de Julho de 2009 e Tex 586 – “Giochi di potere“, de Agosto de 2009. Argumento de Gianfranco Manfredi, desenhos de Fabio Civitelli e capas de Claudio Villa. História inédita no Brasil e Portugal.

Estamos em plena renovação e, por isso, cada história depara-se perante o leitor apaixonado com um sentimento misto de ansiedade e receio. Ansiedade pelo facto de querermos descobrir o que vem aí de novo, mas também algum receio por podermos ver as nossas expectativas eventualmente defraudadas com algum trabalho de menor qualidade. Felizmente, cremos estar em plena fase dourada do ranger, com a vinda de novos e grandes talentos do desenho, mas também e sobretudo novas abordagens, novos caminhos no desenvolvimento de aventuras, tornando a série eventualmente na mais rica e pujante da actualidade no panorama editorial da casa Bonelli.

Arte de Fabio Civitelli
Depois da retirada de Nizzi, que tem vindo a ser gradual, uma vez que a próxima aventura da série normal foi escrita ainda por ele para o desenho de Andrea Venturi e do maior relevo assumido por Mauro Boselli, os leitores testemunharam e apreciaram trabalhos de autores como Tito Faraci, Pasquale Ruju, Gino D’Antonio, regressando agora o pai de Mágico Vento, Gianfranco Manfredi, com o seu segundo trabalho para Tex depois de La Pista Degli Agguati.

Tex, Carson e a paisagem
Em Phoenix, no Arizona, diques, canais e rios são desviados do seu curso normal, deixando secos alguns campos em favor da grande cidade. Tex e Carson encontram-se por aquelas paragens e por isso vão defender os nativos e os agricultores locais das garras do poderoso Bill Lansdale, um especulador que de um bem público como a água tenta obter um negócio lucrativo.

Tex 586Numa primeira apreciação ao trabalho de Manfredi em La Grande Sete, digamos que o autor bebe muito da influência de G. L. Bonelli, deixando pelo meio uma abordagem nizziana, dos seus velhos e bons tempos, convenhamos. A influência de G. L. Bonelli reside na escolha de um tema político que serve de crítica no seu argumento, porque tal como Bonelli aproveitou muitas aventuras texianas para deixar bem expressa a sua crítica e o seu modo de ver determinados aspectos do oeste americano (e do seu mundo), também Manfredi constrói aqui um argumento muito crítico, centrado na temática do grande proprietário que suga a seu bel prazer os recursos dos mais fracos, patenteando a sua superioridade em busca de qualquer lucro, seja material ou mesmo com o objectivo de uma carreira política. Alguém que corrompe, que ultrapassa a justiça e que manieta os seus homens como peões num jogo de estratégia.
No centro de tudo surge a questão da água, aliás um ponto importante e cada vez mais actual, surgindo Manfredi, tal como Bonelli, como um verdadeiro espectador atento do seu mundo, da suas realidades e das suas envolvências.

O povo ouvindo Tex
Trata-se de uma história reveladora de um contexto preciso, mas perfeitamente transposta para os nossos dias e que se vive sobretudo nas zonas mais áridas. A importância da água não se reduz ao velho oeste americano, ela está mesmo no centro da história dos homens e, por isso, Manfredi deixa aqui uma visão bem documentada, muitas vezes irónica, que acaba por se reflectir no próprio Tex, cuja conduta acaba por se revelar menos impulsiva que em Bonelli, para se assumir sarcástica e corrosiva que chega a divertir. Por outro lado, chamámos também Nizzi à liça, porque Manfredi traz-nos um argumento algo maniqueísta, onde cada lado está perfeitamente delineado, sem meio-termo, não privilegiando a espessura psicológica de Boselli, por exemplo.

Kit CarsonO trabalho de Civitelli é como sempre inspirado. O seu traço limpo, muito seguro, extremamente preciso e detalhado faz as delícias dos leitores texianos. Realce o facto de nos parecer que nesta aventura o autor utilizou muitos grandes planos, sobretudo de Tex e Carson, revelando uma aptidão para desenhar os dois pards que importa sublinhar. Na verdade, Tex e Carson surgem com expressões espantosas, denotando um grande à vontade de Civitelli, um prazer mesmo, em desenhar ambas as personagens.

Por toda a aventura existem cenas de antologia, como a do banheiro, mas aquela que mais marca é certamente a da emboscada no pueblo, onde Civitelli se ultrapassa. E mais: parece que os anos não passam por Civitelli, não se notando qualquer decréscimo na qualidade do seu trabalho.

Não é uma grande aventura, mas mesmo assim um bom trabalho, que vem sublinhar a excelência da actual fase em Tex.

Texto de Mário João Marques
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