Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.
Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Aprígio Filho: Nasci no município de Serrinha, cidade do Estado da Bahia (Brasil) em Maio de 1964 (início da ditadura, portanto já tenho uma boa estrada). Formei-me como Técnico em Edificações em 1995 e mais recentemente concluí a licenciatura em História, ambição que sempre tive para aumentar o meu conhecimento do passado. Actualmente a minha actividade principal é a de projectista (projecto casas e desenvolvo também arquitectura de interiores – desenho de móveis, gesso, esquadrias, etc.). Desenho histórias em quadradinhos também.
Eventualmente ensino História.
Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Aprígio Filho: O meu interesse por histórias em quadradinhos nasceu ainda menino, quando eu fazia a 5ª série. Foram as histórias desenvolvidas pelos Estúdios Disney que me despertaram para esse mundo de fantasias. Personagens como Mickey, Pateta, Pato Donald, Tio Patinhas, etc.
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Quando descobriu Tex?
Aprígio Filho: Tex apareceu um pouco depois e de forma diferente. Um certo dia o meu irmão mais velho chegou em casa com uma revista velha, rasgada e com os quadradinhos em preto e branco, algo estranho para mim porque na escola eu só conhecia o formato colorido da Disney e da Bloch (super-heróis). Meu irmão disse que havia encontrado jogada no lixo e começou a lê-la sem parar. Depois virou um verdadeiro vício e ele dizia para mim que era uma personagem criada na Itália, assim, assim e etc.
Já havia decorado até os nomes dos seus criadores, Bonelli e Galleppini.
Outro dia ele chegou com outra revista e o título da história era “A cidade sem lei” e então resolvi ler. Rapaz, fiquei de tal forma impressionado com as personagens e com a atmosfera do enredo que passei a procurar outras revistas. Era uma personagem meio que anónima, à margem do sistema editorial. A mídia não comentava e seus criadores eram totalmente desconhecidos do grande público ao contrário de Walt Disney e outros. Mas o porquê disso eu aprendi estudando História, a verdadeira História.
E porquê esta paixão por Tex?
Aprígio Filho: Porque ele é diferente dos heróis inventados pelos americanos. Possui características mais próximas das humanas. Seus criadores preocuparam-se com esse aspecto indo na contra-mão dos super-heróis de Stan Lee e Jack Kirby que projectavam a ideia de superioridade do modo de vida americano, assim como o seu cinema. Tex não procura impor a ideia de superioridade de uma cultura. Ele age guiado pelo senso de justiça a favor de quem esteja sendo injustiçado seja branco, índio, negro, etc. Outra característica que o diferencia são as histórias engenhosas, longas e cheias de reviravoltas dignas de quem tinha talento e imaginação fecunda para escrever. Não acontece isso com os americanos, pelo menos nesse género.
O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Aprígio Filho: Todas essa características já citadas e muito mais.
Qual o total de revistas de Tex que tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Aprígio Filho: Não sei o número exacto, mas devo ter hoje umas cento e cinquenta. Algumas ficam com meu irmão. É muito difícil dizer qual a mais importante. Muitas de suas histórias estão no mesmo nível. Eu citaria “A Cidade sem Lei“, “O Grande Rei“, “El Muerto” e aquela em que Tex é vítima de uma conspiração e fica preso por um longo tempo, com Carson e Kit lutando para libertá-lo (“O Grande Golpe“) – uma obra-prima que poderia ser adaptado para o Western Spaghetti, assim como as outras atrás citadas.
Colecciona apenas revistas ou tudo o que diga respeita à personagem?
Aprígio Filho: Só colecciono revistas, álbuns, edições especiais ou até livros sobre o assunto se forem publicados.
Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Aprígio Filho: Aqule tipo de lenço (preto) que ele usa no pescoço.
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Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Aprígio Filho: Novamente eu respondo que pelo menos para mim é muito difícil dizer qual a história favorita. Muitas podem facilmente ser escolhidas nessa categoria. As quatro que foram citadas acima juntamente com “Chinatown” (que eu havia esquecido), “O Vale da Morte” escrita por Sergio Bonelli e desenhada por Fusco e muitas com a temática indígena. Quanto aos desenhadores, os editores italianos sempre apresentaram grandes talentos e entre estes eu destacaria Galep, Letteri, Erio Nicolò, Fusco e mais recentemente Fuentes e Marcello. Gostaria muito de conhecer esses autores.
O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Aprígio Filho: Seu grande senso de justiça e energia inesgotável no combate ao crime. No entanto não me agradam certas brincadeiras com seu grande pard Kit Carson. Algumas são muito pesadas, quando insinuam que este último não é muito inteligente e coisas desse tipo. Bonelli exagerou nesse aspecto da personalidade do Ranger conotando uma visão negativa (inconscientemente fascista, talvez).
Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que ele é?
Aprígio Filho: A sua consistência e longevidade.
Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Aprígio Filho: Não, isso ainda não ocorreu. Mas seria interessante para levantarmos discussões aprofundadas sobre esse fenómeno cultural.
Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Aprígio Filho: A demanda é quem vai dizer. Se a fidelidade dos fãs perseverar ele ainda vai durar por muito tempo. Por pelo menos mais uns sessenta anos. Assim eu espero.
Prezado pard Aprígio Alves de Oliveira Filho, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
(Para aproveitar a extensão completa das fotografias acima, clique nas mesmas)
Prezado Aprígio, quem sabe não somos parentes ainda, pois meu avô é dos Aprígio da Bahia (Poções) rsrsrs.
Lucílio Valério (Pernambucano)