Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Alfonso Font e capas de Claudio Villa.
Com o título original I lupi rossi, a história foi publicada em Itália nos nº 523 a 525 e no Brasil, pela Mythos Editora nos nº 429 a 431.
Boselli assina aqui uma das suas mais complexas histórias para Tex. Não pela dificuldade de percepção ou compreensão, mas pelo tema proposto (a rivalidade entre as nações índias), assim como pela articulação proposta.
Perfeitamente delineada em duas partes distintas, Boselli apresenta uma primeira parte que vai deambulando entre o momento presente e o recurso ao flash-back e que serve para Tigre ir narrando a Kit Willer os acontecimentos vividos por ele e Tex anos antes, quando convidados a participar como observadores do governo nas negociações de paz entre as tribos índias. Nessa altura, Tex e Jack Tigre conheceram Cavalo Branco, um guerreiro pawnee, e o cheyenne Golpe Corajoso, dois inimigos leais que lutaram entre si desde a sua infância, mas sempre com um mútuo respeito.
Através do relato do navajo, Boselli foca temas sensíveis como a amizade, a honra, o respeito, a lealdade, o orgulho índio e o relacionamento com os brancos. São muitos temas, mais, são temas sensíveis que no fundo retratam muito da história dos Estados Unidos, da conquista do oeste, do desenvolvimento de uma nação. São temas que conferem uma espessura histórica e dramática que importa realçar, sublinhado pela vontade do autor em não cair na superficialidade. É por isso que esta aventura é densa, longa, acentuadamente dramática, complexa e que o autor pretende contar pelo prazer de trazer algo de novo, quanto mais não seja trazer a temática histórica, conciliando-a com a tradição da acção texiana.
Esta acção surge na segunda parte da aventura, quando, já na actualidade, Tex e os pards encontram-se em Loup Fork, onde os pawnees, antigos aliados dos brancos, são vítimas do agente indígena, do xerife e de um comerciante local, que querem apossar-se das suas terras. Nesta fase, Boselli recolhe alguns elementos da primeira parte para construir um argumento mais bonelliano, porque mais destinado à intervenção dos quatro pards. Uma parte onde se juntam os elementos maniqueístas tão caracteristicamente bonellianos e que permitem que Tex seja verdadeiramente interveniente e estratega, mas onde sobressai a acção de Kit Willer, em mais uma prova de quanto importante é a personagem para Boselli.
Alfonso Font é um bom desenhador, sobretudo porque consegue construir boas atmosferas, mas não é dos melhores na composição do ranger. O seu estilo refinado, pleno de traços e detalhes conferem um ambiente representativo do velho oeste. Mesmo as suas personagens conseguem adquirir os traços psicológicos com que foram caracterizadas, mas importa dizer que a sua representação dos quatro pards é desigual, porque se é boa em Kit e Tigre, ela é débil em Carson e imperfeita em Tex. Imperfeita porque não consegue interpretar graficamente a imponência do ranger, o seu cinismo, a sua segurança física.
Globalmente a opinião é muito positiva, ressalvando a excepção na construção do ranger.
Texto de Mário João Marques