TEX… ANTES DE TEX!

Por Mário João Marques*

O autor agradece a colaboração de Maurizio Dotti, Roberto De Angelis, Bruno Brindisi, Pasquale Del Vecchio, Fabio Valdambrini e Michele Rubini no envio dos seus testemunhos, bem como de desenhos, estudos e esboços que contribuíram e ajudaram na escrita do artigo.

Ilustração da capa da Tex Willer nº 1 – Arte de Maurizio Dotti

No decorrer do Festival Lucca Comics & Games 2018, Mauro Boselli teve ocasião de revelar a génese de uma nova publicação dedicada a contar histórias inéditas de Tex, a partir de referências e acontecimentos narrados nas primeiras aventuras. Uma ideia que partiu de Simone Airoldi, Diretor Geral da Sergio Bonelli Editore (SBE) que, influenciado pelo sucesso obtido com a aventura Nueces Valley, de Mauro Boselli e Pasquale Del Vecchio, que narra acontecimentos dos primeiros anos de Tex e mostrou, pela primeira vez, os seus pais, sugeriu uma continuação, ou seja, a possibilidade estimulante de recomeçar desde o início.

No fundo, aproveitar momentos e acontecimentos narrados nos primeiros episódios, para os aprofundar, possibilitando a todos os leitores usufruir de algo inédito, descobrir novas histórias que ocorreram antes do primeiro número e entre as aventuras seguintes. Não faria muito sentido que a nova publicação se dedicasse a recontar as histórias escritas por Gianluigi Bonelli, mas sim aproveitar momentos presentes nessas aventuras e desenvolvê-los, aproveitando personagens, locais e acontecimentos para, de certa forma, os aprofundar e interligar com os eventos já conhecidos dos leitores. Descobrir algo mais sobre personagens como Tesah ou John Coffin, conhecer as origens de Mefisto e como este obteve os seus extraordinários poderes, recordar o jovem Montales dos tempos da revolução mexicana, sem esquecer um ranger com os cabelos ainda escuros e não prateados. Mas também conhecer novas personagens, como o ladrão de cavalos Jimmy Jones, os dois desertores mexicanos (Pedro e Miguel) ou a agente da Pinkerton Kate Warne, a qual veio permitir a possibilidade narrativa de introduzir uma maior presença feminina que possa mesmo relacionar-se com o jovem Tex que, na altura, ainda não conhecia Lilyth, a sua futura esposa. Uma ideia capaz de cativar os leitores mais antigos, que dispõem de conhecimentos suficientes para fazer a interligação destas novas histórias com as que Gianluigi Bonelli escreveu, mas também os leitores mais novos que, desta forma, têm a possibilidade de começar a mergulhar no universo da mais famosa personagem do fumetto italiano.

Ilustração da capa da Tex Willer nº 2 – Arte de Maurizio Dotti

Um dos principais aspetos a considerar passava por um prévio estudo de mercado, na tentativa, sempre dúbia, de saber até que ponto esta nova publicação poderia ter sucesso, encontrar o seu nicho num mercado inflacionado por um sem número de publicações, a maior parte delas da própria SBE. Quando Tex surgiu pela primeira vez nas bancas italianas, trazia consigo o célebre slogan “o álbum mais rico ao preço mais pobre”, e foi com esta ideia que a editora “formatou” o leitor italiano ao longo de décadas. Produtos populares com uma qualidade, na maior parte das vezes, muito acima da média. Não era despiciente que a editora estudasse muito bem a conjuntura do mercado e os anseios dos leitores sabendo que, com as dificuldades económicas e o declínio gradual e constante da banda desenhada no gosto popular, o sucesso da nova publicação poderia significar uma quebra de vendas noutras publicações, certamente até da própria SBE. Conhecedora destas premissas, o trabalho da editora na preparação de Tex Willer durou cerca de um ano e meio e centrou-se em aspetos relevantes como o formato (igual ao da série principal, mas com 68 páginas em vez das tradicionais 116), a periodicidade (também mensal) ou o preço (setenta cêntimos mais barata que série principal).  

As iniciativas promocionais aproveitaram o clima de celebração dos setenta anos de Tex, representada na Mostra “Tex, 70 Anni di un Mito”, assim como na publicação de um número zero de Tex Willer, que foi distribuído com os álbuns mensais de Zagor e Tex. Finalmente, foi ainda produzida uma Wanted Box com algumas variantes do primeiro número, uma reedição da publicação em tiras de “Il Fuorilegge” e a já famosa placa “Wanted”.

Box TEX WILLER WANTED – 2018 – SBE

Mas a principal responsabilidade centrava-se nos autores, quem iria escrever as aventuras, quem as iria desenhar e quem seria o autor das capas, em suma, alocar uma equipa que pudesse estar à altura do binómio qualidade e competência versus adesão junto dos leitores. Assim, foi o próprio curador Mauro Boselli que assumiu a responsabilidade de escrever as primeiras e mais extensas aventuras do jovem Tex Willer, assistindo-se, posteriormente, a uma gradual intervenção de Pasquale Ruju, algo que surge como perfeitamente natural. Por um lado, Boselli terá preferido “dar a cara” no início deste desafio editorial, criando assim as condições para que a publicação pudesse vingar. Por outro lado, apesar de escrever muitos argumentos ao mesmo tempo e para diferentes séries e desenhadores, Boselli é acima de tudo humano e não pode chegar e servir tudo a contento. Acresce o facto de Ruju ser um dos atuais autores de Tex, em cuja série principal já deu provas suficientes da sua capacidade em escrever aventuras de grande qualidade. Mas outros nomes se perfilam no horizonte, como o de Giorgio Giusfredi, que já escreveu uma história a ser publicada em 2021.

Ilustração da capa da Tex Willer nº 4 – Arte de Maurizio Dotti

Para as capas, o escolhido foi Maurizio Dotti, um dos mais apreciados desenhadores de Tex e do fumetto que, no entanto, teve de passar previamente por um curioso processo de seleção da editora, como o próprio nos conta: “No início de janeiro de 2018, entreguei na redação duas ilustrações, com as quais iria participar num concurso interno organizado pela editora e que se destinava a escolher o desenhador das capas da nova série Tex Willer, cujo primeiro episódio seria publicado em novembro do mesmo ano. Recordo-me de ter recebido escassas informações da parte de Mauro Boselli, e a única coisa que me foi dita foi que eu teria inteira liberdade para fazer o que desejasse. Eu estava entusiasmado, mas ao mesmo tempo também algo desiludido, uma vez que os outros participantes (Michele Rubini e Massimo Carnevale) eram profissionais de elevado calibre, que eu sempre me habituara a admirar, não tendo criado demasiadas expetativas. Sempre tive um forte espírito autocrítico e conheço bem os meus limites. Contudo, dediquei-me de alma e coração às duas ilustrações e com a serenidade necessária para não bloquear perante a ânsia do resultado, se assim posso dizer.

O resultado do concurso foi-me comunicado pelo Mauro Boselli que, com a sua habitual e proverbial ironia e devido à amizade que nos une, disse-me que eu tinha sido o escolhido e que seria então o autor das capas da série, apesar dele, como fez questão de sublinhar, ter dado o seu voto ao Massimo Carnevale. Depois do meu espanto inicial, foi a minha vez de sorrir e respondi-lhe que eu também teria votado em Carnevale”. Apesar desta honra, a verdade é que o desafio que se deparava a Dotti era enorme, devido ao facto da elaboração de uma capa ter por trás de si todo um processo de incertezas e de trabalho árduo, algo que o próprio Boselli fez questão de sublinhar ao futuro capista de Tex Willer: “O Mauro também me disse outra coisa que, naquela altura, surpreendeu-me, mas que agora, após três dezenas de capas realizadas, percebo perfeitamente. Referiu precisamente que eu era livre para decidir se aceitava ou não esta responsabilidade e a razão residia no facto do trabalho de capista ser conturbado por natureza, cheio de armadilhas e pleno de incógnitas, em resumo, nada é certo, e até ao momento em que a ilustração é publicada tudo pode ser discutido e colocado em causa. São tantos os estudos e os esboços, por vezes surge tudo naturalmente, outras vezes parece que nunca conseguimos encontrar o caminho certo e, além de disso, a realização de uma capa leva muito mais tempo quando comparado com uma prancha”.

Ilustração da capa da Tex Willer nº 5 – Arte de Maurizio Dotti

Ciente do empreendimento, mas com alguma tarimba pelo facto de ter substituído Claudio Villa nas ilustrações dos posters publicados no Tex Nuova Ristampa (entretanto cancelada), Dotti aceitou o desafio e colocou-se ao serviço da nova publicação, assinando capas de antologia, plenas de dinamismo e que permitem ao leitor respirar os ambientes onde se move o jovem Tex Willer, revelando ainda uma novidade, como por exemplo as capas da segunda e da quinta edição (as que o autor apresentou a concurso) apresentarem duas cenas que desaparecem uma na outra. “A capa é a imagem mais representativa do álbum, deve ser a mais cativante e apelativa e as opiniões sobre a eficácia de uma imagem sobre outra são sempre muitas e variadas e acabam por ter uma grande influência no momento e no processo de realização. O que é naturalmente compreensível, se pensarmos que estamos a falar da personagem mais importante da editora, mesmo que tudo se passe na sua fase jovem. Sobre a parte técnica da realização, não há muito a dizer: depois de falar com Mauro Boselli sobre o tema da capa, começo a preparar alguns esboços a lápis, desenvolvendo variadamente a ideia ou as ideias base que vão surgindo e, depois de escolhida a ideia, passo para a sua realização num desenho a lápis mais definitivo que será passado a tinta após a provação da editora. Por pedido expresso da redação, o original a tinta permanece assim, sendo a colorização feita por mim com acrílicos líquidos ou ecoline numa cópia, de modo a existirem duas versões da ilustração. É um trabalho bastante gratificante, apesar de árduo e que me faz sentir o peso da responsabilidade perante esta personagem. Se me tivessem dito, quando eu era apenas um jovem leitor e admirava a arte dos grandes profissionais que se alternavam nas suas incríveis aventuras, que um dia, eu próprio, seria chamado a fazer o mesmo, eu certamente não teria acreditado, algo que ainda hoje me custa a crer”. Sublinhe-se, entretanto, que foram entregues a Massimo Carnevale as capas dos álbuns cartonados de Tex Willer, que reúnem uma aventura num só volume e destinam-se às livrarias.

Página da revista Tex Willer nº 1 – Arte de Roberto De Angelis

Para desenhar as aventuras, a editora rodeou-se de uma equipa capaz de proporcionar excelentes trabalhos. Para começar, uma entrada com dois nomes sonantes, como Roberto De Angelis e Bruno Brindisi, dois autores de ponta da editora e com provas dadas em duas séries emblemáticas da SBE, ambas bem diferentes do western, respetivamente Nathan Never e Dylan Dog. Para De Angelis tudo começou no Festival Lucca Comics em 2016: “eu estava à mesa com Mauro Boselli e com outros colegas e, trocando umas impressões com o Mauro, perguntei-lhe se haveria alguma história de Tex que me pudesse ser entregue. Mantinha o desejo de regressar para, de algum modo, poder redimir-me do meu trabalho no Texone. Ele pensou um pouco e disse-me que talvez se arranjasse uma história, num Color ou num Maxi. Combinámos voltar a falar no assunto umas semanas mais tarde para definir as coisas, mas alguns compromissos recíprocos surgiram pelo meio, até que chegámos a novembro de 2016 e o Mauro pediu-me algumas provas de um Tex jovem para uma nova publicação guardada em segredo. Claro que eu fiz e creio que agradaram. E foi assim que me encontrei sem mais nem menos diante de um argumento com 248 pranchas (Vivo o Morto!) e poucas ideias em como realizá-las.”.

Esboços de Bruno Brindisi para o “Tex jovem”

Por seu lado, com Brindisi tudo começou também em Lucca, mas no ano seguinte e, desta vez, foi o próprio Mauro Boselli que desafiou o desenhador: “Tens de desenhar Tex!”. No entanto, sabendo da maior carga de trabalho que o desafio implicava, a que se juntava um período difícil do ponto de vista pessoal, devido a uma série de despesas e problemas vários, o desenhador retorquiu: “nãooooooo, então quero já um aumento!”. Ao ver a reação de Mauro Boselli e Giorgio Giusfredi, Brindisi percebeu que não tinha margem de manobra e que em breve iria “começar a suar as clássicas quatro camisas, amarelas, para não reduzir o meu padrão mínimo de vinte pranchas mensais. E aceitei, até porque percebi que iria participar em algo de novo, o que para um desenhador com trinta anos de carreira é sempre muito bom”. No fundo, De Angelis e Brindisi são dois autores para quem Tex não é estranho, porque ambos tiveram oportunidade de desenhar um Texone e o próprio Brindisi já teve oportunidade de, entretanto, desenhar mais aventuras do ranger. Tanto um como outro demonstraram estar à altura do desafio, superando mesmo as expetativas, ou não estivéssemos diante de dois pesos pesados do fumetto.

Página da revista Tex Willer da aventura “I Razziatori del Nueces”. Arte de Bruno Brindisi

Durante a cerimónia de apresentação, De Angelis teve oportunidade de sublinhar que o seu trabalho incidiu sobretudo na luminosidade das pranchas, tendo ainda salientado para a Revista do Clube Tex Portugal que na composição do jovem herói estiveram “… alguns esboços e estudos do Tex Gigante de Andreucci, que ainda eram inéditos e que a editora me mostrou em primeira mão, onde o jovem Tex surge na sua forma quase definitiva”. A importância de De Angelis na série parece crescente, uma vez que, para além de ser o autor do frontispício da publicação, já assinou duas aventuras de grande fôlego, a já citada Vivo o Morto!, mas também Pinkerton Lady, onde o jovem Tex vai conhecer Abraham Lincoln numa spy story que decorre nos meandros da política e dos interesses do poder. “O meu futuro é nesta série e já estou a trabalhar numa épica aventura que dará um grande protagonismo à figura granítica de Cochise. Nathan Never pertence ao passado e digo-o com alguma amargura porque apaixonei-me profundamente por esta personagem triste e atormentada. Mas a vida é feita de mudanças, não é? Neste momento, estou a dar tudo para poder transformar-me no desenhador western que Tex necessita”.

Frontispício das revistas Tex Willer – Arte de Roberto De Angelis

O modelo do jovem Tex Willer de Stefano Andreucci também colheu a atenção de Brindisi, no entanto, a inspiração do desenhador vai ser outra, centrando-se “no herói jovem da sua primeira aparição com Galep, que se refina naturalmente com Andreucci e que acaba por ser interpretado por outros, como sempre aconteceu, apesar de alguns leitores desejarem um Tex sempre igual. A representação, os movimentos são peculiares em cada desenhador e, em termos de look, na minha história (I Due Disertori), por exemplo, aprofunda-se um episódio do passado em que Tex é campeão de rodeo, com uma camisa diferente e chapéu preto. Como o trabalho é de vários e esta releitura, reescritura, reinvenção necessita de um esforço titânico para manter a coerência, eu preciso de compor personagens já desenhadas por Galep, Mastantuono, Ticci, Dotti, De Angelis, Del Vecchio e eles também devem ter em atenção personagens inventadas ou reinterpretadas por mim. Se uma personagem funciona bem, o Bos[i] pode decidir aproveitá-la, como o ladrão de cavalos da minha primeira história (I Due Disertori)”. Se Nathan Never faz parte do passado de Roberto De Angelis, tudo aponta que Dylan Dog assuma o mesmo papel na carreira de Bruno Brindisi, a crer nas palavras do autor: “faço uma capa por ano para Dylan Dog[ii] e algumas ilustrações, quando surge a oportunidade, mas agora sou um servo de Tex Willer. E já desenhei o Tex recém-nascido nos braços da mãe[iii]. Que ternura!”.

Ken e Mae Willer com o filho recém-nascido, Tex. Arte de Bruno Brindisi

Outro nome escolhido para a equipa, e que nunca poderia ficar de fora, foi Pasquale Del Vecchio, uma vez que, tal como já referido acima, foi o desenhador da célebre aventura Nueces Valley que esteve na origem deste projeto. Aliás, tal como o desenhador refere, “o convite surgiu logo a seguir à realização de Nueces Valley, onde pela primeira vez surge o Tex em criança e adolescente, precisamente com dezassete anos. Daí a passar ao Tex com vinte anos foi um passo natural. Fiz alguns estudos preparatórios, mas o Mauro Boselli já tinha muita confiança no meu trabalho, visto que eu já tinha desenhado o Tex apenas uns anos mais novo. Neste Tex mais jovem agrada-me o modo particular de desenhar a sua face e aprecio as calças com a lapela sobre as botas. Prefiro mesmo às botas do Tex adulto”. Del Vecchio vai estrear-se com Paradise Valley, mas outros trabalhos o aguardam em Tex Willer, apesar do desenhador desconhecer o futuro: “ainda não sei se vou ficar permanentemente nesta série. Acho que sim, apesar de me agradar continuar a trabalhar com o Tex mais maduro”.

Artes de Pasquale Del Vecchio

Depois de Del Vecchio surgiu Fabio Valdambrini, um estreante em todo o universo de Tex. Desenhador de créditos firmados e com carreira na SBE, se nos lembrarmos de trabalhos em Mister No (série onde recentemente teve oportunidade de desenhar as capas das novas aventuras), Demian, Caravan, Cassidy e Saguaro, o desenhador de Arezzo tinha já tido oportunidade de mergulhar no western com o excelente Cheyenne, um Romanzo a Fumetti escrito por Michele Masiero. Em Tex Willer, Valdambrini assina I Lupi della Frontera com Pasquale Ruju, trabalho que, para o autor, “constituiu uma enorme honra desenhar” uma personagem mítica que sempre o acompanhou desde que, ainda criança, passava os verões a ler todos os Tex que encontrava. “Devo muito a Mauro Boselli e a Giorgio Giusfredi pelo facto de me terem incluído entre os desenhadores da série, mas também fiquei com uma grande responsabilidade em cima de mim. Não queria de modo algum desiludir os fãs e os leitores e por isso dediquei-me de corpo e alma ao estudo da personagem do jovem Tex, o qual, na minha opinião, apresenta muitas armadilhas, devido ao facto de estar presente no imaginário de cada leitor como algo de mítico, mas, ao mesmo tempo, também como qualquer coisa de inédito. Na verdade, a série desenvolve-se num período antecedente à primeira aventura (La Mano Rossa), quando a fisionomia de Tex ainda não estava perfeitamente definida. Mergulhei nesta aventura humildemente e recuperei todo o material do grande e inalcançável Galep, para tentar encontrar sobretudo as linhas e a fisionomia da face que eu acho que o Tex deveria assumir na minha história, assim como tentar atualizar ligeiramente toda a atmosfera gráfica. É um desafio que se renova todos os dias e que espero dê bons frutos. Aquilo que eu mais desejo é que o leitor reconheça no meu desenho o “seu” Tex, assim como o possa acompanhar na leitura da história da melhor forma possível”. Valdambrini espera poder continuar a desenhar as aventuras do jovem Tex por muito mais tempo, encontrando-se já a trabalhar numa nova aventura, desta vez escrita por Giorgio Giusfredi, cuja publicação se prevê para setembro de 2021.

Página da revista Tex Willer da aventura “I Lupi della Frontera”. Arte de Fabio Valdambrini

Michele Rubini, um dos primeiros alunos e colaboradores de Stefano Andreucci, foi outro dos nomes escolhidos para a equipa de desenhadores de Tex Willer. Colaborador da SBE desde 2003, sobretudo em Zagor (onde atualmente desenha as capas de Darkwood Novels), Rubini já teve oportunidade de trabalhar para outras séries como Morgan Lost (a primeira aventura), Dampyr e em algumas curtas aventuras da série principal do ranger. Em Tex Willer, coube-lhe a honra de ter desenhado a mais longa aventura publicada até à data, L’Agente Federale, um argumento de Mauro Boselli que se estendeu por seis números e mais de 380 paginas. “Esta aventura deveria ter sido publicada na série principal, com o Tex adulto e clássico… mas no decurso da sua elaboração acabou por ser transferida para a série Tex Willer, o que obrigou, inevitavelmente, a alguns ajustamentos. Fiz vários estudos de personagens para esta aventura e para o jovem Tex parti do trabalho que o meu mestre Stefano Andreucci tinha feito para o seu Texone e para o cartonado dedicado ao jovem Tex, adaptado um pouco à minha forma de desenhar. Não me recordo de ter feito provas específicas, até porque eu tinha uma ideia muito concreta daquilo que queria fazer. Em vez disso, fiz um par de estudos para as personagens de Carswell e Juanita”.

Página da revista Tex Willer da aventura “L’Agente Federale” – Arte de Michele Rubini

Um trabalho monumental, onde a variedade de personagens e situações não dão descanso ao desenhador e onde este parece encontrar um estímulo acrescido no final de cada prancha. Prova do seu imenso talento, o facto de Rubini estar atualmente a trabalhar para a série principal: “estou a desenhar uma aventura escrita por Moreno Burattini para o Tex clássico, mas não sei se no futuro Mauro Boselli quererá que eu regresse ao jovem Tex Willer, o que para mim seria bom”. A verdade é que esta aventura que vê Tex ser perseguido implacavelmente por um agente federal, até se refugiar na Louisiana e incluído no meio de uma guerra entre o exército e os índios Seminoles foi um trabalho árduo que exigiu o máximo de Rubini: “os muitos e diferentes cenários, a pesquisa sobre os trajes seminoles e os uniformes do exército, os armamentos, o grande número de cenas de massa com os soldados, tudo contribuiu para o trabalho mais complexo e cansativo que eu já realizei. Diverti-me nas cenas com as personagens femininas e a inventar as personagens secundárias, as quais, muitas vezes, são as mais difíceis de conseguir”.

Estudos (esboços) realizados por Michele Rubini para a aventura “L’Agente Federale” iniciada na edição nº 18

Destaque ainda para Marco Ghion, desenhador do primeiro Speciale da série, Fantasmi di Natale, uma aventura natalícia publicada em bicromia, uma iniciativa inovadora da editora, apesar de não se tratar de uma novidade em Tex, uma vez que, na época das tiras, as séries Nevada (1957), Gila e Colorado (1958) já o tinham feito.

Em suma, apesar de Tex continuar a ser produzido e realizado com paixão, tudo reunido, a personagem é hoje um produto de sucesso e surge articulado e inserido como tal pela editora, assumindo-se esta nova publicação, publicados mais de vinte números, como um produto de continuidade e de canonização do passado do herói. Tex Willer representa a aventura genuína de grande qualidade, capaz de divertir e dar a conhecer algo mais. Aventuras que servem para desenvolver o herói, maturar a personagem, viver experiências fora da tradicional narrativa do Tex adulto. Uma perspetiva estimulante para os autores, mas sobretudo para Mauro Boselli, herdeiro direto de Gianluigi Bonelli e para quem Tex, mais do que uma série do fumetto é um produto de estudo. O que Boselli está a criar é um Tex moderno e adequado ao tempo, com aventuras ritmadas, divididas em pequenos ciclos e desenhadas num estilo clássico e limpo e menos verbosas. É um Tex antes de Tex, respeitando a personagem, mas ao mesmo tempo dotando-o de uma variedade narrativa que permite ao leitor descobrir, não um clone da série principal, mas uma nova série. Tudo, porque ainda há leitores que não se importam de dedicar um pouco do seu tempo a ler as aventuras de um herói capaz de dar cabo dos bandidos e dos corruptos e trazer um pouco de justiça, algo que vai rareando cada vez mais.

Páginas do presente e do passado impressas em bicromia

[i] Alcunha de Mauro Boselli na SBE
[ii] Para o Dylan Dog Magazine
[iii] Cena que se desenrola em I razziatori del Nueces, Tex Willer 24, publicado pela SBE em outubro 2020.

* Texto de Mário João Marques publicado originalmente na Revista nº 13 do Clube Tex Portugal, de Dezembro de 2020.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Texto bastante interessante, e atualmente já com 75 edições lançadas + os Extras comprovam o sucesso da série, VIDA LONGA AO NOSSO QUERIDO TEX WILLER…!!!

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