Jornal de Anadia dedica a capa e as páginas centrais à próxima Mostra do Clube Tex Portugal

Texto da secção Cultura de 20/03/2024
Edição 109
Adriana Vicente

Clube Tex Portugal está de regresso a Anadia
.

A capa (texiana) do Jornal de Anadia de 20 de Março de 2024

O Clube Tex Portugal volta ao Museu do Vinho Bairrada em abril de 2024 para mais uma Mostra anual, contando com a presença de dois desenhadores do Tex, os italianos Fabio Civitelli e Sandro Scascitelli, e com conferências dedicadas aos autores.

José Carlos Francisco e Mário João Marques, do Clube Tex Portugal, destacam a importância do evento para “divulgar a personagem e cultivar o relacionamento entre todos os presentes, sejam sócios ou não do Clube Tex“.

A Mostra decorrerá mais uma vez no Museu do Vinho Bairrada e o Clube Tex Portugal enfatizou o papel do Museu e do Município de Anadia na realização dos encontros. “Desde o início, ambas as entidades demonstraram o quanto importante seria a organização deste evento“, afirmaram José Carlos Francisco e Mário João Marques, destacando a disponibilidade de Pedro Dias, diretor do Museu”.

É de extrema importância a participação do poder público, o qual, combinado com a parceria do Museu, possibilitam a propagação da cultura e do lazer na sua melhor qualidade“, acrescentaram  os representantes do Clube Tex.

Com quase 100 anos de existência, o Tex é um caso raro de longevidade no panorama da banda desenhada a nível mundial. José Carlos Francisco e Mário João Marques destacam a relação entre o herói Tex e o contexto italiano de 1948, ano da criação da banda desenhada. “Tex ao protagonizar aventuras sem fim, lutando pela justiça, enfrentando tudo e todos, veio encarnar a esperança e a crença num mundo novo, livre, justo e igual, a mesma esperança que os italianos ambicionavam, numa época de transição de um regime de governo totalitário para um democrático“, afirmaram.

A força do personagem está sobretudo numa filosofia que sempre se adaptou à realidade e nunca defraudou as expectativas“, destacaram os representantes do Clube Tex Portugal, garantindo que “a longevidade de Tex fará sempre sentido enquanto o mundo necessitar de justiça”.

Sobre os planos para a Mostra do Clube Tex Portugal deste ano, José Carlos Francisco e Mário João Marques acrescentaram ainda que “não vai fugir muito do que tem sido apanágio nas edições anteriores“. Fabio Civitelli, um dos dos desenhadores da banda desenhada convidados, marcará pela sétima vez a sua presença em Portugal, assinalando assim em Anadia “um percurso único a nível mundial“. Sandro Scascitelli, desenhador também convidado, fará a sua estreia em Portugal.

O Clube Tex Portugal foi criado em 2013, por ocasião do 18º Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu. Já foram realizadas oito Mostras anuais do Clube, estando a de 2024 planeada para os dias 27 e 28 de abril no Museu do Vinho Bairrada.

Clube Tex Portugal está de regresso‘; Jornal de Anadia, edição 109, de 20 de Março de 2024

Copyright: © 2024 Jornal de Anadia; Adriana Vicente
(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Banda desenhada e filatelia: Correios italianos em Gardacon com o folder dedicado a Tex Willer

Os correios italianos terão um stand de filatelia onde estarão disponíveis os carimbos dedicados ao evento e onde será apresentado um novo folder dedicado a Tex Willer

Os correios italianos estarão presentes na edição 2024 de Lucca Collezionando, a feira de banda desenhada, dos videojogos e do mundo do coleccionismo marcada para este fim de semana, dias 23 e 24 de Março, no Centro de Feiras de Lucca. Também neste caso, como noutros eventos, os correios terão um stand dedicado à filatelia onde estarão disponíveis os carimbos dedicados ao evento e onde será apresentada um novo folder dedicado a Tex Willer em formato A5 contendo a folha dos selos emitida no dia 30 de Setembro de 2023 e um envelope do primeiro dia, além de outros produtos filatélicos criados e dedicados ao mundo da banda desenhada. Será, portanto, mais uma oportunidade para celebrar o 75º aniversário do histórico personagem italiano nascido em 1948 do lápis e da imaginação de Bonelli e Galep. Ao Ranger mais amado de Itália será dedicado também um espaço aprofundado durante o evento no sábado, dia 23, às 11h.

As Resenhas de Rafael: Maxi Tex nº 6 (Mythos Editora) – A grande conspiração

As Resenhas de Rafael*

Maxi Tex nº 6: A grande conspiração
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: Giancarlo Alessandrini
276 páginas
Editora: Mythos

Tramas políticas são uma das marcas da longa saga texiana. Exemplos não faltam: “Complô em Washington“, escrita por Gianluigi Bonelli e com lápis de Letteri, de 1979; “Os Homens que Mataram Lincoln“, da dupla Nizzi e Ortiz, publicada em 1998; e “Testemunha de Acusação“, com roteiro de Claudio Nizzi e arte de Victor De La Fuente, editada originalmente em 2000.

A história “A Grande Conspiração“, publicada em Maxi Tex nº 6 da Mythos Editora, segue essa tradição, inclusive explorando um pano de fundo recorrente nessa espécie de subgênero nas aventuras do ranger: a corrupção forjada pelo conluio entre políticos e empresários que, partindo da capital americana, alcança as áridas paisagens do Oeste americano. Geralmente, os planos envolvem imputar aos indígenas alguma prática dolosa, de forma a justificar sua expulsão dos territórios que são alvo de cobiça, ou forçar um embate com forças militares, para que, assim, possam explorar as reservas em nome do lucro e do progresso.

Tex Willer, como sabemos, é a ponte entre os dois mundos, qual sejam, o do branco colonizador e o nativo americano. E costuma agir como mediador, acomodando as forças em conflito, embora assuma, antes de tudo, seu papel de guardião dos navajos – e, por conseguinte, dos povos nativos em geral. Todos esses elementos são habilmente manipulados por Claudio Nizzi nessa trama, que talvez seja o seu melhor trabalho desde o celebrado retorno ao universo de Tex.

Aqui reencontramos Ely Parker, figura histórica recorrente nas histórias do ranger. Descobre-se, de início, sobre sua vinda para o Arizona, de modo a vistoriar algumas reservas. Mas a viagem é cercada de mistérios, como Tex e seus pards percebem pelo telegrama que recebem daquele que desempenha a função de comissário para assuntos indígenas. Nele avisa de sua presença e os convida para acompanhá-lo, uma vez que Parker suspeita de ameaças contra sua própria vida. Como Kit Carson observa após ler a mensagem, “o mundo político de Washington é uma selva mais perigosa do que aquela dos animais de quatro patas”.

E não está enganado, pois na sequência já somos apresentados ao numeroso grupo que promove antagonismo à atuação do comissário. Liderados pelo senador Wallace, que cobiça o cargo ocupado por Ely Parker, eles arquitetam não apenas o seu fim, como também manipulam os fatos para que os navajos sejam imputados pela morte dele, de modo a se livrarem de qualquer responsabilidade pelas ações em curso. De seu gabinete na capital americana, Wallace movimenta as peças no tabuleiro, que vão desde um rico empresário do setor ferroviário, passando pelos comparsas do plano em Flagstaff, local do ataque planejado contra Ely, e chegando até Corvo Vermelho, renegado navajo que, corrompido pelos fartos dólares do senador, aceita participar do atentado.

À frente do seu bando, Corvo Vermelho perpetra um violento ataque ao trem no qual Ely Parker viaja, na companhia de seu secretário e dois seguranças da agência Pinkerton, o sequestrando e levando para o cativeiro, num rancho próximo. Ao descobrir tal patifaria, Tex, na companhia de Carson, Jack Tigre e seu filho Kit Willer, partem no encalço do indígena, começando uma verdadeira caçada aos responsáveis antes que o pior aconteça. E o tempo, nesse caso, é extremamente valioso, uma vez que seus adversários ocultos agem sem perder um minuto sequer.

Wallace, ao confirmar o sucesso do atentado, mobiliza de imediato seus associados em Flagstaff, como o banqueiro Griffith, para que iniciem pela imprensa a campanha contra os navajos, manipulando a opinião pública em prol da intervenção do exército. Não tarda e o coronel Grossman entra em cena, buscando a glória ao vislumbrar o extermínio dos índios. Apenas duas coisas podem impedir o senador de alcançar êxito em seu plano sujo: o resgate de Ely Parker por Tex e a divulgação de um documento comprometedor, elaborado pelo comissário, elencando os negócios espúrios de seu adversário. A procura por esse papéis corre em paralelo, tendo Washington como palco, e gerando inesperadas reviravoltas na trama.

Ainda que o roteiro tenha um mote já conhecido pelos leitores, ele é desenvolvido de forma coesa e instigante. A trama se movimenta em várias frentes, trazendo a tensão necessária para nos prender até a última página. Embora partam juntos no rastro de Corvo Vermelho e seu bando, os pards logo se dividem, conforme o caso se complica. Enquanto Jack Tigre e Kit Willer farejam o paradeiro de Ely Parker pela região, Carson volta para Flagstaff em busca de pistas e suspeitos, cabendo a Tex acompanhar os passos do exército na reserva navajo, de modo a evitar que um eventual conflito ecloda.

Nesse ponto, é interessante observar que nosso herói passa quase toda a ação com sua indumentária de Águia da Noite. Uma declaração de liderança, mostrando que o chefe branco dos navajos está disposto a tudo para protegê-los.

O enredo de Nizzi é trabalhado na arte por Giancarlo Alessandrini, que tem sua carreira marcada pelo trabalho na série “Martin Mystère”. Seu traço característico talvez não agrade aos texianos mais tradicionalistas, mas a dinâmica imposta no seguimento dos quadros revela um mestre seguro em seus domínios. Esse sexto volume de “Maxi Tex” sacramenta a mudança para o formato italiano da série, que até o número 5 tinha sido publicado no famigerado formatinho, em papel jornal.

* Rafael Machado é professor, escritor e jornalista. Publica suas resenhas no perfil do instagram “Leituras do Exílio“, além de colaborar com o sítio “Quinta Capa”.

(Imagens disponibilizadas pela Mythos Editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

SECRET ORIGINS: TEX CLASSIC 39

Por Saverio Ceri [1]

Desta vez, as origens secretas das capas  do Tex Classic fazem-nos recuar no tempo, mesmo que indirectamente, muito além dos 70 anos, que na data de lançamento, se festejava para o ranger bonelliano.
O trigésimo nono Tex Classic, reapresenta, a cores, os números 21 e 22 da segunda série dos Albi d’Oro, datados de Agosto de 1955, que por sua vez republicaram, em três tiras, as aventuras que apareceram originalmente nos números 37 a 42 da quinta série da collana del Tex, publicados entre Março e Abril de 1953.
Curiosamente, como acontece cada vez com mais frequência ultimamente, a capa não vem directamente de um dos dois Albi d’Oro reimpressos, mas de um mais ou menos do período habitual. Neste caso a capa que se vê abaixo é retirada do número 23 da segunda série dos anos 50, edição que voltaremos a ver apenas no próximo Classic. Além disso, a capa, embora pouco vista, não está entre as melhores disponíveis, com o protagonista relegado a segundo plano e um sujeito muito feio (até a nível gráfico) em primeiro plano. Abaixo, em sequência, exibimos a capa de 2018 e a capa de 1955. Curioso também o erro do título na capa da época com um Y em vez do J de Tiger Jack.

Tex Classic #39 – Tex passa al contrattacco

Albo d’Oro Tex #23 – Nuova Serie

Para a capa em questão, Galep inspirou-se na primeira vinheta da terceira página do álbum Il Messaggio di Morte, o quadragésimo quarto da quinta série de tiras de Tex.

A vinheta que serviu de inspiração a Galep

As duas capas “descartadas” provavelmente devem essa “rejeição” ao facto de já terem sido reutilizadas ao longo dos anos pela redação de Tex.
Vamos proceder na ordem inversa: o número 22 da série quinzenal Albo d’Oro tinha como capa a imagem abaixo:

Albo d’Oro Tex #22 – Nuova Serie

A ilustração reapareceu nas bancas italianas em 1958 como capa do décimo sexto álbum da primeira série gigante de Tex, com uma pequena diferença: a faca desaparece das mãos do índio em primeiro plano; e o que inicialmente parecia quase um sacrifício humano torna-se uma espécie de velório fúnebre.

Tex #16 – 1ª Série Gigante

Vamos continuar de trás para frente. A capa da edição 21 é a abaixo. Como se pode ver, apresenta uma inédita composição para a série: no canto inferior esquerdo, sem nenhum motivo específico, aparece uma vinheta completa com um balão de texto inclusive. Talvez para mostrar o protagonista na capa, mesmo que de costas?

Albo d’Oro Tex #21 – Nuova Serie

A natureza bizarra da vinheta na capa desapareceu no ano seguinte, quando a equipa editorial optou por usar a imagem como capa do décimo número da primeira série gigante de Tex Avventura nell’Utah título também usado, entre outras coisas, para o Classic anterior. Do desenho original, além da vinheta,  desaparece o fundo, sendo substituído por um sol poente atrás das rochas de um canyon.

Tex #10 – 1ª Série Gigante

A particularidade desta imagem, como nos conta Francesco Bosco no seu blogue Diario di un texofilo, é que ela vem directamente dos Estados Unidos da América e precisamente da capa que se pode ver abaixo, realizada por Raymond Everett Klinster para o número 25 da série Wild Bill Hickok, datada de Outubro de 1954. A hipótese mais provável é que Galep, sem ideias devido ao imenso trabalho, entre as tiras e as capas de Águia da Noite, achou aquela capa americana, encontrada na redacção, muito cativante e eficaz para Tex e a repropôs para a reimpressão quinzenal. É uma pena que o personagem não se assemelhasse em nada com o protagonista, tanto que na eredacção, estamos sempre  hipotetizando, foi considerado ser necessário fazer Tex aparecer de alguma forma, introduzindo a infeliz vinheta no canto inferior esquerdo.

Continuando a recuar no tempo, descobrimos que o próprio Klinster se inspirou para o seu desenho na capa de Thrilling Western vol.II, número 3, de Setembro de 1934, de um desconhecido, pelo menos para nós, embora um bom ilustrador.

Saverio Ceri

Encontre todas as outras origens das capas de Tex Classic na rubrica Secret Origins: Tex Classic

[1] Material apresentado no blogue Dime Web em 14/08/2018; Tradução e adaptação (com a devida autorização): José Carlos Francisco.
Copyright: © 2018 Saverio Ceri