Morreu Giorgio Trevisan, um dos últimos mestres do fumetto italiano de fama internacional

Giorgio Trevisan (13 de Outubro de 1934 – 5 de Outubro de 2024)

(13 de Outubro de 1934 – 5 de Outubro de 2024)

Por Mário João Marques

Morreu Giorgio Trevisan, um dos últimos mestres do fumetto italiano de fama internacional. Encontrava-se internado no hospital de Schiavonia, em Monselice, e dedicou a sua vida à arte, como desenhador e pintor. Em Portugal, era sobretudo conhecido pelas séries de banda desenhada História do Oeste (Storia del West), Ken Parker e Julia.  Se atentarmos na sua extensa biografia, Trevisan foi um autor com uma enorme produção, tendo colaborado com um grande número de publicações e editores italianos e internacionais. No entanto, sempre que o confrontavam com este facto, o autor respondia humildemente: “A sério? Eu pensei que tinha feito pouco!“.

Trevisan nasceu em Merano (Bolzano) em 13 outubro de 1934. Depois do liceu, rumou a Pádua para seguir estudos de agronomia. Contudo, uma vez que já tinha desenhado uma pequena história para um tipógrafo local, é aconselhado a dedicar-se ao desenho e à ilustração. Transfere-se para Milão e começa a colaborar com o Studio Dami de Roy D’Amy (Rinaldo Damy): entre 1956 e 1960, com esboços para Cherry Brandy racconta… e, posteriormente, esboços e tinta para histórias de guerra para o mercado britânico. Entre 1959 e 1977, trabalha para a editora do Corriere della Sera. Para o Corriere dei Piccoli pintou em têmpera as figuras da Storia di Roma e Storia del Risorgimento, seguindo-se a página central com a Storia d’Italia com textos de Mino Milani. Para o Corriere dei ragazzi desenhou histórias para as séries Catastrofi sulla Terra, Paura a Milano, I grandi generali e Processi alla Storia. Para o Corrieri dei Piccoli desenhou para a série I grandi capi indiani. Entre 1960 e 1968, através da Agenzia Maffi trabalhou para a editora francesa Lug, desenhando várias personagens, algumas, como Archie e Fury, chegarão às bancas italianas.

Entre 1961 e 1962, também produziu aventuras para a editora Vaglieri. Em 1965, com o Studio Dami, trabalhou para a Fleetway ilustrando em porcelana colorida os romances infantis Il giardino secreto, Il cane delle Fiandre, Till Ulenspiegel, Pollicino e Gulliver, enquanto fazia histórias em BD como Il mago di Oz. Trevisan também ilustrou alguns romances para as caixas de presente dos assinantes da Mondadori: em 1971, para contos de Poe, Melville, Melbourne; em 1972, para L’amore de Stendhal, Il giovane Werter de Goethe e Jacopo Ortis de Foscolo. Em 1971, começou a colaboração com Messaggero dei Ragazzi, desenhando Fátima. Toda a sua atividade para a editora da Basílica do Santo valeu-lhe o Prémio Europeu da Imprensa Cristã. Desde 1973, desenhou os oito números da série Medium (incluindo capas) para a editora Dardo, além de um número que permaneceu inédito, todos com textos de Romano Garofalo. Também para Dardo desenhou várias histórias de guerra para publicações como Super Eroica, Reportage, Prima linea e Uomini e guerra; No final dos anos 1970, Trevisan entrou como desenhador na Sergio Bonelli Editore, para a qual trabalhou em séries que se tornarão particularmente famosas como Storia del West e Ken Parker.

Mais tarde, juntou-se à equipa de Julia, a criminóloga criada por Giancarlo Berardi, sendo o desenhador do número comemorativo 100, Clowns. Durante os anos 1980, Trevisan desenhou a personagem de Sherlock Holmes publicada pela revista L’Eternauta com textos de Giancarlo Berardi, transpondo algumas histórias originais de Arthur Conan Doyle. Em 1991, Trevisan realizou os Tarot Romantici e del Rinascimento produzidos pelas edições Lo Scarabeo. Em 2001 ganhou o prémio HQ Mix com Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo, pela edição brasileira da revista Ken Parker. Em 2019, desenhou La voce del Killer, uma curta aventura a cores de Tex, escrita por Fabrizio Accatino.

Apesar desta elevada quantidade de produção, a carreira de Giorgio Trevisan deve ser sempre medida em termos de qualidade. Inspirado por colegas como Hugo Pratt, Dino Battaglia e Sergio Toppi, ou por outros grandes autores italianos como Gino D’Antonio, Renzo Calegari ou Mario Uggeri, Trevisan foi um artista pouco indulgente com o seu trabalho, mas que sempre se mostrou aberto a novas experiências, como por exemplo desenhar Tex aos 82 anos de idade, uma personagem capaz de fazer tremer os pulsos.

Para além da banda desenhada, Trevisan nunca abandonou a pintura, explorando temas como paisagens, figuras mitológicas e temas sagrados, numa busca constante pela beleza, valor que os seus filhos Elisabetta e Pietro continuam a levar por diante. Em declarações ao jornal italiano “Il Gazzettino”, Pietro recordou o legado do pai, afirmando que “ele procurava a beleza na arte, escolhendo os temas com os quais se sentia mais representado, desde os nus artísticos até às criaturas fantásticas. Nas suas pinturas ele fugia da realidade e nisso ele foi um verdadeiro mestre”.

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Um comentário

  1. Um dos grandes mestres que fará uma falta! Quando comecei a desenhar, Trevisan ao lado de Ticci, Galep, Nicolò, Muzzi e Fusco foram meus “professores”. Seu estilo rabiscado onde cenas em movimentos lembra um Hugo Pratt ou Buzzeli, é ótimo para aprender movimentos e traços fisionômicos.
    Ciao Giorgio. Vaya con Diós!

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