“Fumetti” de luto: partiu Gianfranco Manfredi

Texto do Jornal de Notícias on line de 24/01/2025
BD
F. Cleto e Pina

Criador de Mágico Vento e Face Oculta e autor de histórias de Tex, Dylan Dog e Nick Raider, faleceu em Milão, aos 76 anos.

Percurso artístico de Gianfranco Manfredi estendeu-se por mais de meio século

Natural de Senigallia, em Itália, onde nasceu a 26 de Novembro de 1948, Gianfranco Manfredi faleceu na quinta-feira, em Milão.

Artista multifacetado, após se ter licenciado em História da Filosofia, na Universidade de Milão, com uma tese sobre Jean-Jacques Rousseau, estreou-se na música como cantor e compositor em 1972, com “La crisi”, um álbum de temas próximos do movimento estudantil e das questões sociais e políticas daquele período histórico em Itália, preocupações que sempre o acompanharam ao longo da carreira.

No ano seguinte começou a trabalhar no Instituto Italiano de História da Filosofia e a partir de 1974 compôs para artistas como Mia Martini ou Heather Parisi.

No início da década de 1980 abandonou quase por completo a música para se dedicar à representação, em filmes e séries de televisão e no teatro, e à escrita de argumentos e romances, entre os quais “Magia Rossa”, “Ultimi vampiri” e “Traisnpotter”, bem como livros de não-ficção centrados na música, na história social e na política. 

Em 1991 fazia a sua entrada no mundo dos “fumetti”, a banda desenhada popular italiana, com “Gordon Link”, para a Editoriale Dardo, mas seria na Sergio Bonelli Editore que, a partir de 1994, se afirmaria nesta área, destacando-se a criação de “Mágico Vento”, com 131 edições entre 1997 e 2010, um western de carácter histórico e sobrenatural que aborda a conquista do velho Oeste sob a perspectiva índia, assente nas suas lendas e susperstições.

Ao longo de três décadas de colaboração com a Sergio Bonelli Editore, Manfredi escreveu também argumentos para Tex, Dylan Dog ou Nick Raider, tendo ainda criado as mini-séries: “Adam Wild”, “Volto Nacosto”, que toma por cenários a Itália colonial e a Etiópia colonizada, em que explora temáticas históricas e culturais complexas, e a sua continuação, “Shanghai Devil”.

O seu interesse pela História, pelas questões sociais e pela política está também expresso em obras como “L’Inquisitore” ou “Cani Sciolti” que segue a história de seis jovens a partir dos protestos da Primavera de 1968 até aos anos 1980.

Se muitas das bandas desenhadas mais populares de Gianfranco Manfredi chegaram aos leitores portugueses através das edições brasileiras, no chamado “formatinho”, duas delas, protagonizadas por Tex, foram editadas no nosso país: “Ouro Negro” (Polvo, 2017) e “A Lenda de Tex” (Levoir, 2018).

A sua última obra foi um ensaio sobre Tarzan: “Il mito di Tarzan. Tra letteratura, cinema e fumetto.”

Ao dar a notícia do seu falecimento, nas redes sociais, a filha mais velha, Diana, definiu-o como “Um verdadeiro génio que sempre soube ler e interpretar o mundo e as suas mudanças, uma mente curiosa que nunca parou de estudar, descobrir e atualizar-se (…) Uma mente brilhante e um artista incansável que deu muito àqueles que tiveram a sorte de o conhecer pessoalmente ou através da sua música, dos seus livros e das suas bandas desenhadas”. 

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F. Cleto e Pina

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