Estatísticas Bonellianas – Tex, entre aniversários e recordes, é cada vez mais… ‘VILLANO’

Por Saverio Ceri

TEX, ENTRE ANIVERSÁRIOS E RECORDES, É CADA VEZ MAIS… ‘VILLANO’

Caro leitor, não entenda mal o título: Tex não está a tornar-se cada vez mais rude e indelicado; na realidade, com este texto gostaríamos de sublinhar como a imagem institucional do mítico personagem criado em 1948 por G. L. Bonelli é cada vez mais aquela delineada por Claudio Villa, em detrimento da clássica Galleppiniana.
Em primeiro lugar, gostaríamos de salientar que com a edição 761 de Tex, que chegará às bancas italianas dentro de alguns dias, Villa celebrará seu trigésimo aniversário como capista do Ranger; a sua primeira contribuição como ilustrador de capas de Tex remonta a Março de 1994.

As cores originais de Claudio Villa para a capa de Tex #761

A mudança histórica entre o criador gráfico do personagem e o seu herdeiro designado pela editora como capista, como os leitores de Tex um pouco mais velhos se lembrarão, ocorreu no final da edição 400. Uma decisão já tomada há meses, de modo a fazer coincidir a despedida de Galep com Tex com a edição colorida, contendo a última história, e com a sua última capa. E assim aconteceu. Quis o destino que no mês seguinte a primeira capa de Villa fosse lançada nas bancas poucos dias antes da morte de Galep, ocorrida em 10 de Março de 1994; O trigésimo aniversário de Villa como autor das capas do Tex coincide inevitavelmente com o trigésimo aniversário da morte de Galleppini.

Tex 401 e 761 – exactamente trinta anos após a estreia da Villa Tex continua a cavalo na neve

Refira-se que por acaso, acreditamos, a capa actual, a do “villano” de trinta anos de capas, tem em comum com a capa de L’Oro di Klaatu, a da estreia de Março de 1994, a ambientação invernal, com Tex, vestido com a casaca sobre a clássica camisa amarela, a cavalo, nas montanhas cobertas de neve do grande norte americano.
A capa de Tex 761, que sai dentro de poucos dias, também reserva um segundo motivo de interesse, neste caso histórico-estatístico: com esta capa Claudio Villa supera Aurelio Galleppini em número de capas inéditas criadas para a série principal de Tex. Esta é de facto a 361ª capa do desenhador de Lomazzo para a histórica revista mensal dedicada às aventuras do Ranger. Galep parou na 360ª porque pelo menos quarenta das ilustrações, das que apareceram nas 400 capas que assinou, não são capas que possam ser consideradas verdadeiramente inéditas, uma vez que foram criadas editorialmente através do recorte de capas de edições anteriores.

A famosa capa de ‘La mano rossa’ nasceu do recorte da ilustração da capa do quarto Albo d’Oro de Tex

Os fãs do ilustrador nascido em Casale di Pari não devem temer: Galleppini, com as suas 1565 capas oficiais do Tex, graças às quase mil strisce (álbuns de tiras), continua sendo de longe o artista de capas mais prolífico do Ranger. Por sua vez, Claudio Villa, se considerarmos também as 256 capas da Collezione Storica a Colori di Repubblica e os 428 mini-pósters que saíram inseridos em Tex Nuova Ristampa, na verdade ilustrações para capas, já utilizadas para esse fim em meio mundo, e recentemente também na Itália, chega a 1133 capas com esta ilustração. Nada mal em trinta anos como capista texiano.

Na editora Bonelli, entre os dois capistas do Tex, agora ambos “históricos”, ultimamente parecem preferir este último, a ponto de implementar uma verdadeira “substituição gráfica”. Um exemplo desta prática são certamente os volumes de livraria no clássico formato “oscar”. Desde a estreia da divisão de livros da editora, treze foram publicados entre Outubro de 2015 e Janeiro de 2022, praticamente dois por ano, todos com capas de Galleppini. Bem, nos últimos dois anos foram lançados tantos, não novos, mas reedições de volumes anteriores e todos com capas de Claudio Villa; além dos cinco volumes dedicados aos confrontos com Mefisto, já lançados sob a marca Mondadori, antes da Bonelli começar a imprimir material para livrarias por conta própria, que de qualquer forma já contava com capa do desenhador de Como, foram repropostos em livrarias, ao ritmo acelerado de um volume aproximadamente a cada dois meses e meio, oito dos treze volumes já publicados entre 2015 e 2022.

De seguida mostramos o paralelo entre as duas versões dos oito volumes que viram a mudança Galep-Villa na capa.

‘Vendetta Indiana’ na primeira edição (Outubro de 2015) com capa de Galep e na segunda edição (Julho de 2023) com capa de Villa

‘L’idolo di smeraldo’ com capa de Galep (Maio de 2016) retornou às livrarias com capa de Villa (Outubro de 2023)

‘Trapper! ‘ nas duas versões com capa de Galep (Novembro de 2016) e Villa (Julho de 2022), a presenta o protagonista na mesma posição

‘Montales’ publicado com capa de Galep em Abril de 2017, retornou com capa de Claudio Villa em Novembro de 2022

‘Quartiere Cinese’ na arte de Aurelio Galleppini (Novembro de 2017) e na arte de Claudio Villa (Novembro de 2023)

‘El Carnicero’ passa da capa de Galep (Maio de 2018) para a de Villa (Fevereiro de 2023)

‘La cella della morte’ na versão Galep (Maio de 2019) e na de Villa (Fevereiro de 2024)

‘Proteus’ com capa de Galep (Dezembro de 2019) e de Villa (Abril de 2023)

Ainda restam cinco volumes publicados pela Bonelli com capas de Galep, que acreditamos serão substituídos por volumes com capas de Villa nos próximos doze meses, e supomos que só então a editora de Tex provavelmente começará a produzir “novos” volumes directamente com capas de Claudio Vila.

Outro exemplo de “substituição gráfica” vem da série Tex Classic, uma publicação que nós acompanhamos de perto por meio da rubrica Secret Origins. A revista quinzenal a cores era a única colecção de republicações de Tex que usava capas de Galleppini até muito recentemente. A meio de 2023 também nesta colecção foi decidido utilizar capas de Claudio Villa retiradas dos mini-pósters. Ilustrações já utilizadas no exterior como capas, mas não em Itália. Isso apesar de dentro das revistas ainda serem publicados episódios que datam do período das strisce, portanto em pleno período Galleppiniano.

Entre os números 167 e 168 houve troca entre Galep e Villa também no Tex Classic

Não sabemos exactamente o motivo desta escolha da redacção. Acreditamos que as capas de Claudio Villa são provavelmente preferidas porque estão mais próximas do gosto dos leitores de hoje, mas sobretudo porque em comparação com as de Galep são menos vistas, tendo em conta que, como dizíamos, mais de 400 apareceram em Itália apenas como mini-pósters anexados em Tex Nova Ristampa. Ao usar essas ilustrações como capa, certamente se confere aos livros e às revistas aquela aura de novidade que nunca é demais.

Em suma, em trinta anos desde que entrou ao serviço como desenhador de capas do Ranger, o criador gráfico de Dylan Dog percorreu um longo caminho, tanto que Tex hoje, para a redacção, e talvez também no imaginário dos leitores, é mais… villano, que galeppiniano.

Saverio Ceri

Material apresentado no blogue Dime Web em 03/03/2024; Tradução e adaptação (com a devida autorização): José Carlos Francisco.
Copyright: © 2024, Saverio Ceri

Um comentário

  1. Pard José Carlos, coleciono Tex desde 1978, e acho que as histórias que tiveram como sua capa original as de Galep devem continuar nestas histórias, pois só de olhar as capas clássicas de Galep já se sabe qual é a história.
    Fazer um especial com história desenhadas por Galep e colocar a capa de Villa é algo que não homenageia Galep.

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