As Leituras do Pedro*
J. Kendall #144 – Aventuras de uma criminóloga
Myhtos Editora
Brasil, Janeiro/Fevereiro de 2020
135 x 180 mm, 256 p., pb, capa mole, bimestral
R$ 24,90 / 8,00 €
Na Alegria e na Tristeza
Berardi e L. Calza (argumento)
Roberto Zaghi (desenho)
A vida é um pesadelo
Berardi e M. Mantero (argumento)
Antonio Marinetti (desenho)
Ao contrário
Começo o ano – analítico… – com uma das minhas últimas leituras de 2021 e uma das minhas paixões – tranquilas… – da última década e meia: J. Kendall, aliás Julia – ou Júlia na nova vida da criminóloga no Brasil – a criação de Giancarlo Berardi.
Desta vez, trago-a – mais uma (de muitas) vez(es) – a este espaço, devido à inovação presente na segunda das narrativas, em que o caso começa com uma premissa bem original.
Antes, a abrir esta edição dupla da Mythos Editora, temos Na Alegria e na Tristeza, em que, no casamento de um dos membros da SWAT de Garden City, no momento de ‘alguém falar ou calar-se para sempre’, a cerimónia é interrompida, sim, mas com disparos certeiros. Convidada da cerimónia, Julia irá dar o seu melhor para perceber as diversas inconsistências do caso e descobrir as motivações transviadas por detrás do drama.
Já A vida é um pesadelo, segundo relato deste volume, revela uma das razões para a longevidade de uma série que não ostenta grandes oscilações qualitativas, apesar de contar já quase duas centenas de casos: Berardi, regularmente, (ainda) consegue reinventar-se e reinventar Julia. Desta vez, a criminóloga, com a colaboração do detective particular Leo Baxter, desloca-se a uma pequena cidadezinha que vive dos proventos que o esqui lhe traz na época de inverno. Ao contrário do habitual, Julia e Leo estão lá para perceberem se quem os contratou cometeu realmente o crime que surge recorrentemente nos seus sonhos – nos seus pesadelos, para ser mais assertivo.
Na época estival, num meio pequeno e fechado sobre si mesmo, que aos olhos dos visitantes surge quase como uma cidade fantasma, com grandes espaços vazios e ruas desertas, os dois terão de perceber se a hostilidade latente se deve apenas à sua condição de estranhos – de intrusos coscuvilheiros aos olhos dos locais… – ou se existe algum segredo esconso que a comunidade se esforça por esconder.
De surpresa em surpresa – desde logo na premissa base – esta é mais uma bela criação de Berardi que mergulha no âmago do ser humano, não de forma crítica ou exibicionista, mas apenas para tentar perceber o porquê de comportamentos e decisões que, tantas vezes, fazem da vida… um pesadelo.
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* Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
(capa disponibilizada pela Mythos Editora; pranchas disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)