A MAIS BELA COLEÇÃO DE TEX DO MUNDO

Por Jesus Nabor Ferreira*

Existe no Sonhar – o reino mágico de Sandman e dos seus súbditos – uma biblioteca maravilhosa de obras jamais editadas. São milhares de volumes de livros apenas imaginados por grandes autores da literatura universal.

Eu também sonhava, literal e figurativamente, quando criança e até ao início da adolescência, com maravilhosos álbuns onde Tex e os seus pards viviam as mais extraordinárias aventuras. Eram volumes gigantes, a cores, com histórias que só existiam na minha fantasiosa imaginação. Eu sonhava e tinha esperança… era uma época em que tínhamos apenas dois títulos regulares e mensais do Ranger nas bancas de revistas. Tex 1ª edição, que naquela época andava pelo número 84 ou 85, e a 2ª edição que dava os seus primeiros passos, permitindo-nos descobrir aqueles títulos iniciais que conhecíamos apenas de nome.

Havia um motivo, ou razão, para esses meus devaneios com relação aos quadradinhos de Tex. Eu nasci e vivi durante uma grande parte da vida em Uruguaiana, cidade que faz fronteira com a Argentina. Do outro lado do Rio Uruguai está a cidade de Paso de Los Libres. Ali, uma vez por semana, eu ia com o meu pai e o meu tio a um ginásio desportivo, bem perto onde havia aquilo que eles chamam de quiosque – que para nós, brasileiros, seriam as bancas de rua – onde via dezenas de revistas em quadradinhos com formato e estilo diferente daqueles que eram publicadas no Brasil. Eram títulos como El Tony, D`Artangham, Fantasia, Super Color, e outros, a cada uma trazia diversas personagens dos mais diferentes segmentos e estilos. Eram quadradinhos de ação, aventura, westerns, policial, terror, muitos com páginas coloridas e em um formato quase magazine. Eu olhava para aquelas capas apelativas e ficava a imaginar que no interior de alguma das revistas poderia haver aventuras do nosso Tex Willer. Infelizmente, nunca encontrei esse tesouro. Mas ao voltar para casa, à noite, dormia e sonhava…

Tudo começou com uma “Selva cruel”

Levou oito longos anos para que eu conseguisse completar a minha primeira coleção importada de Tex. E tudo começou com Ticci e a sua “Selva Cruel”. Em seguida, conto a verdadeira história em como os cartonados da Mondadori entraram na minha vida:

Foi em 2001, durante uma das minhas viagens a São Paulo, mais precisamente à cidade de Sumaré, onde morava a minha irmã e a sua família, que aproveitei a passagem para conhecer pessoalmente a Livraria Italiana e a simpática e atenciosa Maria Edy, com quem já havia contactado por telefone. Fazia pouco tempo que eu começara a utilizar a internet e, através desse ainda novo e fantástico veículo, vim a descobrir um imenso mundo novo de publicações importadas, assim como que no Brasil existiam lojas como a Livraria Italiana. Mas não podia imaginar que iria ser ali, na Livraria Italiana, que os objetos dos meus sonhos de criança ganhariam forma, textura e cheiro.

Maria Eddy apresentou-me diversos volumes maravilhosos, das mais variadas personagens, algumas inéditas no Brasil. Lembro, perfeitamente, de um livro em particular, sobre Magnus, o renomado autor do Tex Gigante “O Vale do Terror”. Achei genial o livro, mas os meus olhos repararam, então,noutro volume… gigante, luxuoso, fantástico. Era o Tex cartonado de Giovanni Ticci “Tex nell’Inferno Verde”. Quase não conseguia acreditar no que os meus olhos estavam a ver e as minhas mãos a segurar. Um extraordinário álbum em capa dura, totalmente em cores maravilhosas, contendo a arte de um dos mais espetaculares desenhadores de Tex de sempre. Ticci era um dos meus artistas preferidos, um verdadeiro tesouro que só existia nos meus sonhos e que agora se materializava diante de meus olhos. Quase não podia crer, eu precisava comprar aquele livro.  Não lembro se pechinchei – talvez não, porque eu estava por demais impressionado – mas acabei por comprar o livro. Maria Eddy, então, contou-me que aquele era apenas um dos muitos volumes naquele formato, da coleção intitulada Cartonados Mondadori. Ali mesmo prometi-me que iria conseguir todos. Conversámos um pouco mais sobre quadradinhos, sobre livros policiais e suspense e então despedi-me, pois ainda devia regressar a Sumaré. Apanhei o autocarro na rodoviária para Campinas e, continuando a segurar aquela preciosidade, fui sonhando. Não… sonhando não! Desta vez eu estava bem acordado e fui deliciando-me com aquela magnifica obra de arte que eu tinha em mãos. Aquele foi o meu primeiro Tex Cartonado Gigante da Mondadori. Ao longo dos anos, os outros já lançados foram sendo adquiridos, uns mais facilmente, outros com maior dificuldade, mas ao fim e ao cabo consegui completar essa fantástica série, que julgo uma das mais bonitas, se não a mais, de todas as coleções dedicadas ao Ranger ainda em publicação.

Também chamada “Collana Grandi Opere Mondadori” ou “Grandi libri”, nasceu em 1975, por iniciativa da Arnoldo Mondadori Editore para levar às “bibliotecas“ dos fãs e colecionadores do Ranger um volume verdadeiramente luxuoso, formato grande (31×22), capa dura, contendo em cada número diversos artigos produzidos pela própria Bonelli, com os seus mais renomados articulistas, entres estes o próprio Sergio Bonelli e Decio Canzio. E, como se tudo isso fosse pouco, seriam álbuns totalmente coloridos. Um verdadeiro presente para os fãs, que não decepcionaram e fizeram desta uma das mais notáveis publicações em quadradinhos da Velha Bota. A sua periodicidade tornou-se anual a partir de 1996, e desde essa altura, podemos sempre contar com um cartonado gigante, colorido, geralmente no mês de setembro, agora publicado pela Sergio Bonelli Editore, para as comemorações natalícias.

O Assalto

Pouco mais de uma hora depois de sair de São Paulo,cheguei à estação rodoviária de Campinas e fui apanhar uma das famosas TUPIC – as vans que faziam as linhas entre Campinas e as diversas cidades que orbitam a região. Mal sabia eu que estava ali a começar a minha mais eletrizante aventura nestes anos todos de viagem a Sampa.

Quem já esteve na região da grande Campinas sabe que em redor da rodoviária existem dezenas de transportes alternativos para as mais diversas cidades e bairros dos arredores. Sumaré e Hortolândia são alguns destes lugares que os autocarros, vans e “tupics” atendiam. Eu costumava apanhar algum destes, ao invés do “buzão” que fazia a linha regular sempre sem nenhum problema. No entanto, naquela vez eu tinha demorado em Sampa mais do que o esperado e, ao chegar em Campinas, já era noite. Apanhei a van e sentei-me no fundo, com a minha pasta e sacola cheias de revistas que tinha comprado: Bloch, Ebal e, claro, o livrão da Mondadori. Dentro da minha pasta estava a minha carteira, o Mondadori e a minha agenda. Nas sacolas, diversas revistas. No meu bolso da camisa, o troco da passagem. Começo a ler tranquilamente e tudo corre como sempre quando, faltando poucos quarteirões para o meu destino, um dos passageiros levanta-se, aproxima-se do motorista e, sacando um revólver (possivelmente um .38 marca Taurus) da cintura anuncia o assalto. Congelo imediatamente… ele vai levar as minhas revistas e o meu livro. Que sorte cruel!

– Toca, toca ! diz o meliante para o motorista. Entra ali, entra ali…..

Todos na van estão tranquilos, nem mesmo a visão do revólver parece preocupar os meus colegas de infortúnio. O único que está com medo sou eu. O assaltante pede ao condutor que lhe entregue a “féria” do dia. Nessa altura, levanto a minha mão direita, com o troco da passagem, que devia ser algo como 30 ou 35 reais, enquanto alguns passageiros me olham com estranheza. O criminoso chega perto e agarra o dinheiro sem ao menos me olhar direito. Suspiro aliviado! Ele não me pede a pasta ou a sacola com as revistas. Estou salvo!

Tudo aconteceu muito rápido. O bandido já está a sair quando o motorista coloca o veículo em movimento novamente. Eu então, mais calmo, pergunto se aquilo é comum, pois estão todos tranquilos. Respondem que sim, que eu não deveria ter levantado a mão, que poderia tê-los colocado em perigo. Que ele, o assaltante, só queria levar o dinheiro do caixa. Acho que pensaram que eu fui um idiota, mas como é que eu iria saber?… Eu estava preocupado em salvar o meu Tex gigante Mondadori e os meus outros tesouros. Depois de se afastar do ponto onde o ladrão desceu, o condutor retoma a rota e em poucos minutos desço junto à casa de minha irmã. Que aventura! Teria história para contar para os meus sobrinhos. Que susto! Jurei nunca mais apanhar transporte “alternativo” por aquelas bandas. Felizmente, tudo acabou bem e pude chegar a casa sem maiores sobressaltos. As minhas coleções estavam salvas e eu tinha ganho uma inusitada e quase dramática história para contar. E foi assim que comecei a colecionar a mais linda série de edições especiais de Tex publicadas na Itália.

A edição deste ano (2020), Dakotas, terá uma capa inédita produzida especialmente por Giovanni Ticci e será uma republicação da aventura intitulada Un’avventura nel Nord. Esta edição também receberá nova colorização.

Será a sétima vez que teremos um álbum de Giovanni Ticci, ficando atrás apenas de Galep que, com as suas onze participações, dificilmente será alcançado ou batido. Enfim, mais um lindo álbum que abrilhantará uma série realmente especial.

Lista dos trinta e três álbuns em curso:
1 – Il mio nome é Tex – 1975 – 1976 – 1978 – 1980 – 1992 – 1994 – 1998 – 2000
2 – Tex contro Mefisto – 1978 – 1980 – 1994 – 1995 – 1999
3 – Tex e gli Indiani – 1980
4 – Tex e i Fuorilegge – 1982
5 – Un´avventura nel Nord – 1983
6 – la Piramide Misteriosa – 1985
7 – Tex La Conquista del West – 19868 – Tex e i Soldati – 1994 – 1995
9 – Tra due bandiere – 1996
10 – La Legge di Tex – 1997
11 – Tex e il segno di Cruzado – 1998
12 – La nave perduta – 1999
13 – Nell´inferno Verde – 2000
14 – Grido di Guerra – 2001
15 – La Pattuglia Sperduta – 2002
16 – Apache Kid – 2003
17 – Il Fiore della Morte – 2004
18 – I dominatori della Valle – 2005
19 – Fiamme di Guerra – 2006
20 – Sasquatch – 2007
21 – L´uomo Senza Passato – 2008
22 – Sfida nella cittá fantasma – 2009
23 – Gli Ultimi Guerrieri – 2010
24 – Wanted! – 2011
25 – Sentieri di Sangue – 2012
26 – Il Ragazzo Selvaggio – 2013
27 – Lotta sul mare – 2014
28 – Il segreto degli Anasazi – 2015
29 – I Giustizieri di Vegas – 2016
30 – El Muerto – 2017
31 – Il Giudice Bean – 2018
32 – Sangue Navajo – 2019
33 – Dakotas – 2020

* Texto de Jesus Nabor Ferreira publicado originalmente na Revista nº 13 do Clube Tex Portugal, de Dezembro de 2020.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

4 Comentários

  1. Parabéns, Jesus, Coleção fabulosa, tenho ela quase completa, me faltando os mais difíceis, La conquista del West, Fuorilegge, Piramide misteriosa, Un’aventura nell nord, (este tenho a republicação: Dakotas).
    Com Certeza a mais Bela Coleção de Tex.

    • Não, não é, tanto que a Panini já publicou histórias que nunca saíram nesta colecção italiana.

  2. Poderia ser lançado no Brasil essa coleção…
    Evidentemente não será…

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *