TEX – Da indiferença ao sucesso estrondoso

Por Paulo Guanaes *.

Da indiferença ao sucesso estrondoso - Paulo Guanaes na revista nº 1 do Clube Tex Portugal

Da indiferença ao sucesso estrondoso – Paulo Guanaes na revista nº 1 do Clube Tex Portugal

Se os leitores de Tex soubessem que a revista foi lançada pela editora Vecchi no Brasil sem a estrutura necessária, primeiro não acreditariam, mas, confirmada a notícia, certamente ficariam surpresos. Mas para tudo há uma explicação. Para esta circunstância também há. A editora Vecchi, na qual trabalhei como revisor de texto de 1970 a 1982, era especializada em publicar revistas de moda, revistas de fotonovelas e revistas híbridas, isto é, aquelas com notícias sobre o meio artístico nacional e internacional e fotonovelas.

Paulo Guanaes, ilustre Sócio Honorário do Clube Tex Portugal

A principal fornecedora de fotonovelas para a editora Vecchi era a empresa italiana Lanzio, da qual comprávamos as fotos já impressas em papel fotográfico e, chegando ao Brasil, as fotos eram montadas num gabarito (45x75cm) para depois irem para os letristas que desenhavam as letras em balões de papel cuchê e os aplicavam nas fotos. Neste processo de produção da fotonovela eu era um dos revisores que corrigiam as traduções feitas do italiano para o português comparando, balão por balão, o original italiano com a tradução em português. Assim também era produzido o Tex, só que com gabarito menor e cópias das páginas originais em papel cuchê.

De origem obviamente italiana, Lotario Vecchi, o principal executivo da Vecchi, tinha contatos na Itália e conhecia o sucesso do ranger naquele país. Foi dele a ideia de tornar a publicar Tex no Brasil, ao negociar diretamente com o “papai” de Tex, Giovanni Luigi Bonelli. Tex fora publicado nos anos 1950 no Brasil, na revista Júnior, pela Rio Gráfica Editora, portanto sem revista própria. Como a editora não tinha estrutura para produzir histórias em quadrinhos, Tex foi parar na seção de Fotonovelas! Imaginem a cara (e a reação) de Kit Carson ao saber da notícia… Devo dizer, a bem da verdade, que a revista Tex, antes de ser lançada, era considerada apenas mais um produto da seção de Fotonovelas. Mas não para os dois profissionais que faziam o trabalho de revisão (eu e o Sr. Cabral) tanto do texto do original traduzido, quanto do desenho das letras. Ler as histórias de Águia da Noite era puro deleite, pois, por alguns momentos, deixávamos de revisar monótonas reportagens sobre artistas nacionais e internacionais, receitas de culinária, e até mesmo horóscopos.

Tex nº 1 – O Signo da Serpente

Também não foi “mais um lançamento” para os aficionados brasileiros por histórias em quadrinhos. Em plena época de ditadura militar no Brasil, um Brasil que não tinha internet, facebook, tweeter, a chegada às bancas em 1971 do número 1 de Tex, O Signo da Serpente – com o histórico brinde de arco e flecha fixado na capa – foi um sucesso estrondoso, com uma venda de centenas de milhares de cópias. Iniciava-se ali a saga de um dos mais queridos e consistentes heróis das histórias em quadrinhos no Brasil.

* Texto de Paulo Guanaes (Jornalista, tradutor de Tex no Brasil há mais de 35 anos) publicado originalmente na Revista nº 1 do Clube Tex Portugal, de Novembro de 2014.

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