As Leituras do Pedro – El Otoño del Comisario Ricciardi: El Día de Difuntos

As Leituras do Pedro*

El Otoño del Comisario Ricciardi
El Día de Difuntos

Maurizio de Giovanni (argumento)
Sergio Brancato, Claudio Falco e Paolo Terracciano (guião)
Luigi Siniscalchi (desenho)
Marco Matrone (cor)
Panini
Espanha, 22 de Agosto de 2019
ISBN: 9788491679813
195 x 259 mm, 176 p., cor, capa dura
18,00 €

Fantasmas sob a tempestade

Cada vez mais atormentado pelos seus fantasmas, pelos fantasmas dos outros e – talvez mais ainda – pelos que ainda não o são, o comissário Ricciardi protagoniza o mais doloroso dos seus inquéritos, numa Nápoles atormentada pela chuva copiosa que não pára e que, em lugar de lavar a cidade, parece realçar a sua sujidade e o lado negro daqueles que nela habitam.

Infelizmente, quando o argumento – pesado e sofrido, acentuado pelo tom bordeaux carregado que acompanha o branco e o negro das pranchas – pedia tanto um traço firme e consistente, a escolha de Luigi Siniscalchi – desenhador regular da Bonelli, onde já desenhou Dylan Dog, Julia, Martin Mystère, Nick Raider, Mágico Vento… – revela-se algo infeliz, especialmente ao nível do trabalhado dos rostos, sempre demasiado indefinidos e com aparência de apenas esboçados, também por isso, menos expressivos.


El Día de Difuntos começa com o aparecimento do cadáver de um pequeno órfão, abandonado numa escadaria – mas não pelo seu cão. Ao contrário do habitual, Ricciardi não vê – literalmente – o seu fantasma a pedir justiça no momento da morte e isso intriga-o. A autópsia revela que a criança foi envenenada e lança o comissário em sucessivas pistas que o levam ao padre que gere um pequeno orfanato, à benfeitora que mimava o pequeno Tettè, ao ladrão que o usava nos seus assaltos, aos amigos que o atormentavam por ser o mais pequeno e gago…

Mas a identidade – e as motivações – do assassino tardam a ser descobertas e Ricciardi, torturado por uma forte gripe e dividido – sem o saber – entre a ingénua e doce Enrica e a bela e sensual Livia, terá mais uma vez de afrontar o poder instituído – para mais nas vésperas de uma visita de Il Duce a Nápoles – e contar com uma inesperada ajuda para levar a bom termo a sua investigação.


Que, mais uma vez, mais do que a descoberta de um criminoso, é uma oportunidade para Maurizio de Giovanni(continuar a) traçar um duro retrato da Nápoles – e da Itália (fascista) – dos anos 1930, dividida entre a ostentação de alguns e a pobreza extrema de outros, com a miséria moral a demonstrar não ser exclusivo de nenhuma classe social nem de ninguém.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Capa disponibilizada pela Panini Comics espanhola; pranchas disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

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