Entrevista exclusiva: ALESSANDRO BOCCI

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco, com a colaboração de Giampiero Belardinelli e João Miguel Lameiras na formulação das perguntas, de Júlio Schneider (tradutor de Tex para o Brasil) e de Gianni Petino na tradução e revisão e de Bira Dantas na caricatura.

Alessandro Bocci por Bira DantasCaro Alessandro, bem-vindo ao blogue português de Tex. Para começar, fale um pouco de si, de suas leituras de BD na infância e adolescência, das leituras ou sugestões que o levaram a se envolver com desenho, e se já cultivava essa paixão desde pequeno.
Alessandro Bocci: Eu não me lembro bem quando começou, mas desde muito pequeno sempre tive uma BD nas mãos. Eu praticamente cresci com os quadradinhos. Ainda hoje eu me lembro que Mickey Mouse foi muito importante e fascinante, e depois o meu grande amor foi Astérix. Eu gostava muito das histórias que viam esses poucos gauleses se opor à grande potência de Roma de modo humorístico, mas a coisa fundamental eram os desenhos, belíssimos ainda hoje. Justamente em razão dessa paixão eu, desde pequeno, comecei a desenhar quadradinhos. Ainda me lembro que, por não conhecer os mecanismos da impressão, eu colava as páginas uma nas costas da outra, de modo a paginar as minhas BD pessoais. As histórias eram criadas por mim, mas geralmente traziam personagens já famosas nos quadradinhos e que eu me divertia em redesenhar. E assim se passou a minha infância quadrinhistica. Um pouco mais velho, descobri outros quadradinhos, e o meu preferido era Mister No, da Bonelli (que acaso, não?). Fiquei fascinado pela ambientação da série, tanto que acompanhei as aventuras do piloto na Amazónia por muitos e muitos anos.

Omulu - PortfolioVocê teve uma formação artística? De que tipo?
Alessandro Bocci: Como formação artística eu não tive nenhuma escola. Eu queria estudar no instituto de arte em Siena, a minha cidade, mas quando chegou a hora de decidir, acabei por dar uma virada e virei agrimensor – o que ainda hoje é motivo de arrependimento. Mas com o passar dos anos permaneci a desenhar quadradinhos. Eu considerava como meu passatempo.

Em 1994 você chegou à Star Comics para colaborar com Lazarus Ledd, de Ade Capone. Como foi o seu contacto com a editora?
Alessandro Bocci: Um belo dia eu li numa edição do Homem-Aranha (à época publicado pela Star Comics) que a editora buscava jovens desenhadores para um novo projecto de super-herói. Aí peguei a minha pasta com desenhos de super-heróis e fui a Perugia (sede da Star). Sergio Cavallerin, o editor responsável pelo projecto, sugeriu que eu voltasse depois com material em estilo italiano, porque os meus desenhos em estilo americano o convenceram pouco. Ele também me informou que em Lucca, dali a alguns meses, haveria a apresentação oficial de uma nova personagem italiana da Star. Eu voltei para casa e comecei a desenhar páginas em estilo bonelliano (eram páginas com Nathan Never, que eu guardo até hoje!).
Lazarus Ledd - Tav.27Quando chegou o dia da apresentação eu fui a Lucca com os meus novos desenhos, e ali aconteceu uma coisa incrível. Depois de passar o dia todo no meio de uma quantidade enorme de pessoas, cansadíssimo, eu sentei-me num sofá; eu estava muito desiludido porque não havia conseguido encontrar o editor da Star (Cavallerin) para lhe mostrar os meus novos desenhos. Ao meu lado sentaram-se casualmente dois jovens que eu não conhecia e que começaram a falar, com termos muito técnicos, de quadradinhos e roteiros. Fiquei um pouco a ouvir, até que perguntei a eles se podiam ver os meus desenhos. Eles olharam e apreciaram muito. Esses dois jovens eram Ade Capone (criador de Lazarus) e Stefano Vietti (futuro roteirista de Nathan Never). Foi ali que começou a minha aventura neste mundo mágico. Uma aventura que no início foi muito dura porque Ade, apesar de apreciar o meu desenho, pediu para que eu fizesse os testes de páginas por seis vezes antes de me passar o primeiro roteiro para desenhar (o n° 16, A Honra e a Espada).

L.L.n°51-GloryO seu Lazarus Ledd conquistou os leitores e os responsáveis pela Star Comics, tanto que, a partir do n° 18, você passou a fazer as capas. Como desenvolveu o seu trabalho de capista?
Alessandro Bocci: Depois do primeiro trabalho aconteceu muita coisa, e todas muito rápido. Olivares, o capista da série, passou para outro título e deixou vago o posto de capista, assumido por Stefano Raffaele que, por sua vez, largou tudo e foi trabalhar nos Estados Unidos. Foi aí que Ade – que considera o meu Lazarus Ledd como o definitivo (em nível gráfico, coisa que ainda hoje considero uma valorização pessoal e profissional) e também porque o meu modo de desenhar havia sido apreciado pelo público – convidou-me para ser o capista da série. E comecei o trabalho que me levou a fazer cerca de 100 capas, entre série regular e especiais. Foi muito fascinante envolver-me todos os meses com a capa de Lazarus, um trabalho que exige muita atenção porque à capa se associa, em nível gráfico e narrativo, o que se verá na história. Escolher a melhor cena para contar uma história inteira é um belo desafio, uma busca que entusiasma. E também agradeço a Ade pelas orientações que me deu no início.

L.L.n°53-Morte ad alta tensioneEm 2001, em coincidência com a sua estreia em Dampyr (SBE), você venceu o prémio INCA como melhor capista do ano, por Lazarus Ledd Extra n° 14, O Cavaleiro de São Jorge. Você não se sentiu meio nas nuvens, naquela ocasião?
Alessandro Bocci: Eu gostei demais daquela capa porque tratava-se de uma temática que aprecio – a Idade Média – e fiquei muito contente. E mais – a cereja do bolo – no mesmo período recebi um telefonema de Mauro Boselli para trabalhar com Dampyr, uma coisa extremamente gratificante. Eu havia decidido mudar, a Star não me dava mais certas garantias; e mudar, na Itália, significava ir só para a Bonelli. Naquela ocasião eu posso ter me sentido nas nuvens, mas só pelo facto de que eu poderia continuar a fazer esse trabalho que é o mais bonito do mundo. Eu já havia tentado entrar na Bonelli, na equipa de Nathan Never, porque sou aficionado por ficção científica e porque Antonio Serra havia gostado dos meus desenhos. Infelizmente a quantidade elevada dos desenhadores de Nathan impediu meu ingresso na Bonelli, mas depois houve o telefonema de Mauro e… parti com os Vampiros! Foi belíssimo!

Lazarus Ledd - Tav.33Na fase leddiana, que técnicas você usava para as páginas em preto e branco?
Alessandro Bocci: Eu não tenho uma técnica particular, eu limito-me a fazer um primeiro desenho da página a lápis (que, no meu caso, é muito definida; eu uso um H e um 2H) e depois repasso a tinta (Pelikan) com pincéis de pelo de marta, do 0 até o 3. Às vezes eu uso hidrocores, ponta fina (0.05) para os detalhes menores e ponta grossa para os pretos de fundo. Com o passar do tempo e com a continuidade do trabalho, eu afinei a técnica no uso dos materiais, mas no passado (fase leddiana) eu usava bem mais as hidrocores. Foi Fabio Civitelli quem me aconselhou, justamente, a aumentar o uso do pincel porque é um “meio” que deixa o desenho mais realista, agradável e fascinante (palavras dele, juro!).

Dampyr por BocciEm seguida, com a chegada definitiva a Dampyr, você acentuou o realismo quase fotográfico de suas páginas. Quais são os seus pontos de referência?
Alessandro Bocci: É verdade! Com o passar do tempo eu apeguei-me cada vez mais ao estilo realístico, e creio que é o melhor estilo para trabalhar numa série como Dampyr. Os cenários são reais (Praga, por exemplo) e torná-las graficamente o mais “verdadeiro possível” aumenta, na minha opinião, o fascínio das histórias. É óbvio que, para desenhar assim, é necessário buscar muitas fotos, entrar num mecanismo de trabalho que conduz a uma documentação bastante apurada. Para isso, como documentação eu uso muitos filmes, livros fotográficos ligados ao tema e sobretudo – ainda bem – Internet com todos os motores de busca fotográfica disponíveis. Para cada história eu arquivo uma quantidade enorme de imagens, tão grande que depois uso apenas 20%. Acrescento que ultimamente eu me dei conta de que consigo fazer páginas “fotográficas” mesmo sem seguir muito as fotos, e isso confirma o facto de que desenho é mesmo uma questão mental (habituar-se visivelmente a um certo tipo de imagem) além de, claro, ser um dom da natureza.

Dampyr tav. 77Os roteiros de Boselli sempre são detalhados e precisos na escolha dos enquadramentos. Que diferenças você observou, nos métodos de trabalho, entre os roteiros de Capone e os de Boselli?
Alessandro Bocci: Trabalhar com roteiristas… ainda bem que eles existem! Até agora eu só trabalhei com três roteiristas (além de Capone e Boselli, trabalhei com Cajelli na minha última história de Dampyr) mas devo dizer que todos têm um modo muito diferente de abordar o roteiro. Tentemos analisar.
Boselli. Mauro fornece um roteiro muito detalhado, tanto em nível de texto quanto de documentação (mas eu ainda caço imagens sem fim) mas sobretudo ele acompanha todo o processo de trabalho, atento a que não se afaste muito das suas indicações. É um profissional de grande talento (como se comprova pelo facto dele seguir um sem-número de histórias ao mesmo tempo) com quem aprendi muito sobre a construção da página, equilíbrio e enquadramentos. Obviamente eu lhe devo muito a partir da oportunidade profissional que me deu. Reputo o trabalho com ele uma verdadeira honra, também porque penso que, hoje, seja o melhor roteirista italiano!
Dampyr tav. 78Capone
. Com Ade eu tive uma abordagem profissional um pouco diferente. Se é verdade que durante a minha história de estreia ele manteve um comportamento muito semelhante ao de Boselli, depois ele deixou-me cada vez mais espaço, em nível de gestão gráfica da história, até chegar aos últimos trabalhos juntos, onde praticamente eu decidia toda a composição gráfica. Não é que ele abandonasse completamente a coisa nas minhas mãos, é óbvio, mas ao confiar em mim ele considerava o meu modo de trabalhar bom para o tipo de história que queria contar. Essa sua postura foi muito importante porque me permitiu um notável crescimento, tanto no aspecto gráfico/narrativo quanto na personalidade e segurança nos próprios meios. Creio que esse tipo de relacionamento profissional pode ser obtido também e sobretudo se entre as duas partes existe uma certa sintonia, coisa que eu sempre tive com Ade. Com toda a sinceridade, espero um dia ter a chance de voltar a trabalhar com ele!
Dampyr tav. 93Cajelli. Como eu disse, só tive uma experiência profissional com Diego, mas o roteiro dele impressionou-me! É óbvio que, por ser parte do projecto Dampyr, se vêem situações semelhantes às do estilo Boselli, mas eu apreciei muitas coisas em seu trabalho, do ponto de vista narrativo e das ideias. É muito interessante. Espero continuar a trabalhar com ele porque, ao conhecê-lo pessoalmente, fiquei impressionado com seu entusiasmo e com seu modo de contar as histórias (qualquer que seja o género).

Como é trabalhar para Sergio Bonelli?
Alessandro Bocci: É como jogar na Juventus ou pilotar um Ferrari! Normalmente, quando desenho, não fico a pensar a quem é destinado meu trabalho, penso em desenhar e ponto. Mas quando penso em todas as pessoas que terão em mãos a revista que desenhei… bem, é uma bela sensação! É evidente que o facto dos leitores serem em grande número é devido à Editora Bonelli ter uma estrutura muito organizada, feita por profissionais cujo objectivo é produzir quadradinhos com um bom padrão qualitativo; objectivo atingido com perfeição. Com produzir quadradinhos eu quero dizer realizar por completo todo o processo de trabalho que está por trás de uma revista em quadradinhos. Do argumento até a impressão e a distribuição das revistas, em cada parte que compõe essa cadeia produtiva, a Bonelli é certamente a melhor editora da Itália e uma das melhores da Europa. Eu, de minha parte, procuro contribuir com esse padrão de qualidade ao dar o máximo a cada novo trabalho.

Lo sposo della vampiraEste é um blogue português, então pedimos que nos fale da aventura ambientada no nosso País.
Alessandro Bocci: A história de Dampyr ambientada em Portugal trata das obsessões pessoais de um director de cinema que, por trás de seu trabalho de direcção, esconde a existência secreta de uma vampira, uma sua antiga antepassada. Durante a realização do filme no castelo de Trás-os-Montes o director consegue arrastar toda a trupe a um clima de terror até revelar sua verdadeira intenção: devolver à vida a estirpe vampiresca da sua família e tornar-se ele mesmo um vampiro graças à intervenção da antepassada (que, nesse meio tempo, recuperou suas forças graças ao sangue dos membros da equipa). Plano genial! Pena que Harlan e Kurjak fazem parte da equipa, acabam com a vampira e arruínam os planos do director e a sua futura carreira!

A parte da história que se desenvolve em Portugal (Dampyr nº 75, O Esposo da Vampira) revela grande rigor, dos cenários até o cão de Vitorino Rocha, um cão dos montes, como se vê bem. Você já esteve em Portugal, mais precisamente na região de Trás-os-Montes?
Alessandro Bocci: Foi uma história muito interessante para desenhar, tanto pelos cenários portugueses quanto pelas cenas em trajes de filme. Eu vi muitas imagens da região (sim, inclusive os cães dos montes), mas infelizmente nunca estive em Portugal. Se alguém me convidar…

Castelo de Monforte da EstrelaQue modelos de povoados e castelos você usou para Riba Preta e para o castelo de Monforte da Estrela? Você baseou-se em desenhos ou fotografias genéricas, extraídas de livros ou da Internet, ou usou localidades portuguesas específicas (um determinado povoado ou o próprio Castelo de Monforte da Estrela)?
Alessandro Bocci: Para a documentação eu usei fotografias tiradas da Internet de lugares que existem (como para a localidade de Riba Preta). No caso do castelo, uni várias imagens e dei uma versão pessoal das coisas e paisagens.

No início da história, na cena do filme dos vampiros, o mordomo da mansão Kirby recorda estranhamente a personagem que, na Itália, é chamada de Zio Tibia, que apresentava as histórias da revista Creepy, da editora Warren. Foi uma simples coincidência ou tratou-se de uma homenagem (ou de uma olhadela) feita de propósito?
Alessandro Bocci: Sim, o mordomo do início da história foi tirado da figura do “zio Tibia”… foi uma homenagem!

Draka PortfolioSob muitos aspectos Portugal é um País mágico. Há um outro lugar adequado para ambientar uma história de Dampyr, a igreja de Batalha, com sua aparência gótica. Boselli certamente conhece o local: que tal sugerir isso a ele?
Alessandro Bocci: Creio que Mauro lerá esta entrevista e saberá dessa igreja espectral. Isso se já não a conhece, visto o seu conhecimento sem fim de assuntos góticos. Se ele fizer uma história sobre ela, então EU a desenharei (ah, ah)!

Quanto tempo você leva para desenhar uma página? Cumpre horários? Como seria o seu dia típico entre trabalho, leituras, manter-se informado, ócio, vida familiar?
Alessandro Bocci: Para a realização completa de uma página (lápis e arte-final) eu levo de 10 a 12 horas. Começo a trabalhar todos os dias às 8 horas e, como também sou um ser humano, faço várias interrupções durante o dia para os factos que a vida normal impõe (sobretudo com minha filha de 6 anos). Por isso acontece de o trabalho da página ir até o dia seguinte. Mas grande parte do dia eu transcorro a desenhar (é o meu trabalho) e isso tira espaço dos outros passatempos, especialmente a leitura (se bem que recupero com a leitura à noite).

Tex por Alessandro BocciPassemos agora ao Ranger que dá nome a este blogue: hoje, quando você já é um desenhador bonelliano afirmado, gostaria de desenhar Tex? Nunca recebeu uma proposta?
Alessandro Bocci: Desenhar Tex… eu gostaria muito, mas jamais me foi proposto, infelizmente! Eu entendo que desenhar Tex não é simples como parece, é preciso entrar em certos mecanismos gráficos que exigem muita aplicação e atenção, além de boa familiaridade com o género faroeste. Mas jamais se pode dizer jamais! Aliás, aproveito para lançar um pedido à Bonelli: deixem-me fazer um teste para uma história de Tex!

O que significaria para você desenhar histórias de uma lenda dos quadradinhos como Tex?
Alessandro Bocci: Desenhar uma história de Tex creio que é o sonho de muitos – se não de todos – desenhadores italianos de quadradinhos. Para mim significaria contribuir, mesmo que em pequena parte, à lenda… e desculpem se é pouco!

Tex Willer por Alessandro BocciQuem ou o que é Tex, na sua visão? O que mais você gosta e menos gosta no Ranger?
Alessandro Bocci: Boa pergunta! Bem, podemos dizer que é uma das mais longevas personagens da BD e isso, por si só, é sinónimo de qualidade, na minha visão. Mas a longevidade não explica o seu sucesso: o seu sucesso é explicado por histórias como o último gigante Patagónia. Uma mistura perfeita de factos reais e história inventada, uma história de altíssima qualidade gráfica e narrativa. Numa BD o meu medidor de juízo qualitativo sempre foi a parte gráfica (senão eu não seria desenhador) e Tex sempre teve um alto nível gráfico. Eu não li a totalidade das histórias de Tex mas as que tive a sorte de ler tinham tal nível. Sempre gostei e gosto do Tex desenhado por Civitelli, porque foi em suas páginas que estudei para me tornar desenhador de quadradinhos. Fiquei bastante impressionado com o trabalho gráfico de Aldo Capitanio e de Giovanni Ticci, e agora aprecio muito o trabalho escrito por Boselli. Em resumo, para mim a qualidade de uma personagem está muito ligada à habitualidade dos intérpretes que trabalham com ela e, em Tex, essa habilidade é muito elevada e frequente.

Você acha que Tex mudou nos últimos anos? Se sim, sob quais aspectos?
Alessandro Bocci: Tex não mudou com o passar dos anos. Mudaram os autores que trabalharam com ele e, se alguém aplicou modificações ou inseriu novas temáticas, fez isso com o mais rigoroso respeito pela personagem. Esse é outro segredo do sucesso, na minha opinião.

Tav 7Para concluir o tema, como você vê o futuro do Ranger?
Alessandro Bocci: Com Boselli e aquele time de desenhadores que tem, o tição do inferno ainda viverá muito tempo… isso é garantido!

A BD da SBE sempre foi o seu objectivo ou você gostaria de fazer a chamada “BD de autor”, como Pratt, Battaglia, Toppi, Manara?
Alessandro Bocci: Eu nunca pensei na BD de autor também porque não me interessa e não sei escrever histórias (eu me canso a escrever, falta-me tempo para fazer isso e eu prefiro o imediatismo de uma imagem). Quadradinhos eu prefiro desenhar. Era o meu sonho e quero que continue a ser!

Conan de BocciQuais são as principais diferenças entre trabalhar para o mercado italiano e para o americano, para o qual você desenhou Conan?
Alessandro Bocci: Não existem diferenças particulares no processo de trabalho, mas sim – e são notáveis – na tipologia do produto. Com referência a Conan, grande personagem do imaginário colectivo que tive a sorte de poder desenhar, destaco as diferenças entre esse trabalho e o de Dampyr: para Conan eu tive um roteiro livre (eu decidia os enquadramentos e a estrutura da página, eu recebia apenas os diálogos e o argumento da página); para Dampyr, como eu disse, recebo roteiros definidos em todos os níveis; para Conan a minha página não teve supervisão gráfica porque, ao me passarem o trabalho, já conheciam a minha capacidade de desenhar; para Dampyr essa parte é supervisionada. Mas não me entendam mal, não digo que o pessoal da Bonelli é escravista! Não, são simplesmente duas formas diferentes de trabalhar, cada uma com suas qualidades e defeitos! E, para mim, o importante é apenas poder desenhar.

Harlan, Kurjack e Tesla - PortfolioQuais os seus projectos para o futuro? Pode nos antecipar alguma coisa?
Alessandro Bocci: No meu futuro profissional italiano está Dampyr (por muito tempo ainda, espero), uma personagem muito, mas muito divertida de desenhar. Se bem que não escondo que eu gostaria de me envolver com outras personagens da Bonelli que me agradam. Para o exterior já tive trabalhos publicados na França, para a Soleil, e tenho uma história para a editora Dupuis, mais a chance, muito concreta e ainda na França, de uma série completamente idealizada por mim (escrita por um roteirista italiano).

Que quadradinhos você lê actualmente? Com quais mais se identifica?
Alessandro Bocci: Infelizmente o meu tempo para ler quadradinhos diminuiu nesses anos. Entre trabalho e família sobra-me realmente pouco tempo para aquela que, apesar de tudo, ainda é uma forte paixão para mim. As leituras que faço não têm um endereço preciso, leio de tudo, mas o importante é como são desenhadas. Só leio se o desenho me agrada.

Alessandro BocciAlém de BD, que tipo de livros você lê? E quais são as suas preferências no cinema e na música?
Alessandro Bocci: Meu género preferido de livros é ficção científica. Um autor sobre todos é Dan Simmons (li os quatro livros da saga de Hiperion pelo menos 15 vezes!). Quanto aos filmes, os géneros que prefiro são ficção científica, acção (super-heróis) e thriller. Vou pouco ao cinema, mas alugo muitos DVDs. Para a música, um só nome: U2!

Caro Alessandro Bocci, em nome do blogue português de Tex, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
Alessandro Bocci: Obrigado a vocês pela oportunidade. E, a propósito daquele convite para ir a Portugal, poderíamos… Bem, um abraço e obrigado de novo!

CURRÍCULO

Alessandro BOCCI, nascido em Siena, Itália, em 30/08/1965, mora e trabalha em Monteroni d’Arbia, cidadezinha a 16 Km de Siena.
Diplomado agrimensor em 1984, de 1987 a 1994 desenvolveu a profissão na empresa TECNA s.r.l. como decorador em lojas de decoração.
Em 1986 e 1988 venceu os concursos nacionais de humorismo de Siena com charges sobre o Palio, a tradicional corrida anual da cidade.
Em 1994 entrou para a editora STAR COMICS como desenhador da personagem LAZARUS LEDD, e fez estas histórias, com roteiro de Ade Capone:
N° 16 _ A Honra e a Espada
N° 22 _ Face a Face
N° 28 _ Energia Alfa
N° 38 _ A Floresta dos Mistérios
N° 39 _ Confronto Final
N° 50 _ Missão Impossível
Colaborou na realização dos números 89 e 151 (o último da série).
Colaborou na realização de Lazarus Ledd Extra n° 10 e n° 12, com roteiros de Ade Capone.
Tornou-se capista de Lazarus Ledd a partir do n° 18, e realizou no total 90 capas entre série regular e especiais.
Em 1997 a revista “Fumo di China” concedeu-lhe o prémio de “melhor desenhador jovem italiano”.
No mesmo ano realizou para Marvel Itália um episódio da serie “Conan, o Conquistador”.
Para a editora Liberty, de Ade Capone, desenhou várias capas das séries por ele publicadas (Erinni – O Poder e a Glória – Kore One ).
Em Junho de 2001, contactado por Mauro Boselli, entrou para a equipa de DAMPYR, da editora milanesa Sergio Bonelli Editore.
Histórias desenhadas para DAMPYR:
N°31 _ O Mar da Morte, roteiro: M. Boselli
N°46 _ O Castelo de Barba Azul, roteiro: M. Boselli
N°62 _ Os Danados de Praga, roteiro: M. Boselli
N°75 _ O Esposo da Vampira, roteiro: M. Boselli
N°97 _ Noite e Neblina, roteiro: M. Boselli
N°98 _ A Armada da Morte, roteiro: M. Boselli
N°102 _ Os Espectros do Takla Makan, roteiro: M. Boselli
N° ___ _ Terra de Ninguém, roteiro: M. Boselli (em elaboração)
N° 115 _ Desafio à Temsek, roteiro: D. Cajelli
Em 2001 venceu o prémio INCA como melhor capista (capa de Lazarus Ledd Extra n° 14, “O Cavaleiro de São Jorge”)
Em Março de 2003 (com a primeira história para DAMPYR) venceu o prémio Cartoomix-If como promessa dos quadradinhos italianos.
Em 2004 fez para a Contrada dell’Istrice (n.t.: bairro de Siena, Itália) a história em quadradinhos da última vitória do Palio de Siena, com o título “Sem Tempo”.
Em 2004 fez a capa do último CD musical de Max Pezzali (883)
Em 2005, com a história de DAMPYR “Os Danados de Praga”, venceu o prémio Fumo di China como melhor história realística do ano.
Em 2007 (Lucca Comics ) saiu seu portfólio “Os Mestres da Noite” (1 de 3)
Em 2007 foi contactado pela editora francesa SOLEIL para quem fez, na série HANTE’, uma história em volume cartonado com o título “Fontainebleau – A Casa de Sangue” com roteiro de Christophe Bec (publicado em Agosto de 2008)
Em 2008 a DUPUIS (editora franco-belga) passou-lhe o primeiro número da série “BUNKER FONDATION” com roteiro de Christophe Bec (5 números, primeira publicação prevista para 2009)
Em 2008 ( Lucca Comics ) saiu o portfólio “Os Mestres da Noite” 2 (2 de 3 )

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

4 Comentários

  1. Assumo que não leio Dampyr (li apenas um e não me cativou), mas gosto muito do traço de Bocci e certamente que vou comprar o exemplar cuja acção se passa em Portugal.

    Já agora, penso que ele tem “qualidades” para desenhar um Tex! Espero que na Bonelli lhe ofereçam uma oportunidade!

  2. E já se vê que o Bocci é bom… apreciar os desenhos do Civitelli e gostar das histórias do Boselli … está na minha linha…

  3. É uma pena que aqui no Brasil Dampyr não deu certo, só tendo doze números e pra mim todos excelentes. Quanto ao Alessandro Bocci, grande desenhista,ou melhor excepcional. Mas vou dizer uma coisa, nos Estados Unidos, tem muito desenhista ruim que trabalha para Marvel e para DC, mas na Bonelli ainda não consegui ver nenhum desenhista fraco. Cada um é melhor do que o outro.

  4. Só pelas considerações que o Bocci falou, já está no meu rol de desenhistas prediletos, além é claro pelo seu trabalho. Vejamos algumas colocações:
    Fiquei fascinado pela ambientação da série, tanto que acompanhei as aventuras do piloto na Amazónia por muitos e muitos anos.” (Sobre as primeiras leituras de Mister No).
    o melhor roteirista italiano” (Sobre o Boselli)
    a Bonelli é certamente a melhor editora da Itália e uma das melhores da Europa.” (Sobre SBE)
    Mas a longevidade não explica o seu sucesso: o seu sucesso é explicado por histórias como o último gigante Patagónia. Uma mistura perfeita de factos reais e história inventada, uma história de altíssima qualidade gráfica e narrativa.” (Sobre TEX)
    Enfim, acho que está na hora de dar uma história de TEX para ele desenvolver… E é claro com roteiro do Boselli.

    Abs,
    J Rios

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