Tex, Lilyth e Tigre Negro na arte de António Lança-Guerreiro

Por José Carlos Francisco

António Lança-Guerreiro, um conhecidíssimo pard português que quase sempre está presente nos eventos dedicados a Tex que se vão realizando por Portugal ao longo dos últimos anos, surpreendeu muito e boa gente em 2012 ao participar na homenagem dedicada a Sergio Bonelli promovida pelo nosso blogue ao fazer um belo desenho de Sergio Bonelli com uma expressão inefável como bem frisou o conceituado Jorge Magalhães num comentário feito aquando da publicação.

Fabio Civitelli, António Lança Guerreiro e uma bela Lilyth

Pois bem, António Lança-Guerreiro comprovou que tinha jeito para a arte de (bem) desenhar e por isso o blogue português do Tex volta e meia pede-lhe que nos presenteie com novas ilustrações e nestas férias da Páscoa o nosso pard não se fez rogado e enviou-nos cinco belas ilustrações de Tex e Lilyth, como poderemos ver a ilustrar este texto onde também ficamos a conhecer um pouco mais de António Lança-Guerreiro através das suas próprias palavras:

Não é fácil falar em causa própria, mas aqui ficam algumas linhas.

Nascido numa pequena vila debruçada sobre o Tejo, no distrito de Santarém, sempre tive uma ligação com as imagens que ilustravam os livros da escola ou da biblioteca escolar, mais tarde a municipal, que frequentava assiduamente para devorar páginas de aventuras, umas ilustradas, outras somente imaginadas e recriadas em imagens enquanto saboreava a leitura dos “júlio verne” ou dos “salgaris”. Mas o meu encontro com as bandas desenhadas das revistas, que então podia ler na escola primária, com autorização especial da professora, foi o momento mais fascinante e o despertar do meu gosto pela 9ª arte, que desde então passei a ler e a coleccionar.


Para minha felicidade, nessa altura da minha infância, banda desenhada e revistas de BD era coisa que abundava, graças à Agência Portuguesa de Revistas e ao amor incondicional que o editor Roussado Pinto teve na divulgação de todos aqueles heróis de papel que preencheram esta fase da minha existência e foram o motivo de grandes aventuras imitativas, e também alguns ralhetes dos progenitores, quando a banda desenhada era ainda vista como uma arte menor e desviante do recto caminho a que um jovem tinha de se dedicar para ser homem.

Eram outros tempos. Tomei contacto com muitos heróis de papel, dos mais diversos: as personagens da Disney da Abril, os clássicos americanos do “Mundo de Aventuras” e de “O Grilo”, a escola franco-belga com  a revista “Tintin” e “Spirou”, os comics da Marvel e da DC, e também com os fumetti, que na altura não sabia que se chamavam assim, com o Tex, o Zagor e o Mister No, que se destacavam de entre aqueles a que chamávamos “os livros de Cowboys”, dos muitos que então havia.


Talvez este meu fascínio pela banda desenhada me tenha levado ao gosto de desenhar “os meus bonecos”, que carinhosamente ainda guardo como lembrança desses tempos idos de juventude. Estranhamente, um dos meus primeiros desenhos foi um cowboy num saloon. Seria influência de Tex Willer? Já não me lembro, mas ainda tenho esse desenho, algures…

Mais tarde, quando andava no liceu, fiz alguns desenhos, ilustrações  e BD que publiquei em jornais escolares e regionais, os “lá da terra”. Já na faculdade, em Coimbra, para além das caricaturas que fiz para os livros de curso dos finalistas, também participei na aventura da publicação do franzine BDMIX, do qual acho que só saiu um número, em colaboração com os então também estudantes de faculdade Fernando Correia e José Lameiras.


Fui participando em algumas exposições colectivas de pintura e criando as minhas BD que, ou por falta de tempo ou dispersão por outras actividades, foram ficando no fundo do baú, umas completas, outras inacabadas. Às vezes penso que se porventura as tivesse divulgado, talvez pudesse ter feito algo no campo da BD. Mas não foi esse o caminho trilhado para a aventura da vida. No entanto, sou um viciado consumidor de BD e coleccionador inveterado e, por isso, dói-me a alma quando vejo alguma revista de quadradinhos desaparecer da vida dos seus leitores. E, infelizmente, ao longo dos anos é o que mais tem acontecido. Mas enquanto na nossa memória durar a lembrança desses inúmeros heróis e das suas extraordinárias façanhas e verosímeis aventuras, eles e os seus criadores nunca morrerão para nós.

Acabei por falar mais dos personagens de BD do que de mim? Talvez… porque, enquanto leitor, eles serão sempre mais importantes do que eu; e, enquanto “fazedor de bonecos”, talvez os meus desenhos falem por mim melhor do que eu.


(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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