Todos os números de CLAUDIO NIZZI

Por Saverio Ceri

Há alguns dias atrás, na edição italiana nº 631 de Tex começou a aventura “L’oro dei monti San Juan“, que para além de ser o segundo trabalho de Lucio Filippucci na saga do Ranger, representa ao mesmo tempo a última peça posta por Claudio Nizzi no mosaico das aventuras de Águia da Noite.

Claudio Nizzi numa recente apresentação de um livro dedicado à sua carreira texiana

Eu tinha pensado em dedicar ao grande escritor de Fiumalbo, nascido em 1938, um post nesta rubrica já em 2011 a propósito dos seus 30 anos de carreira bonelliana, mas adiei-o para torná-lo mais completo já que estava prevista para 2013 a publicação da sua última história de Tex que representava ao mesmo tempo a sua última colaboração com a Sergio Bonelli Editore. E na realidade, passaram-se vinte meses desde essa data e assim hoje além de elaborar toda a carreira nizziana na Via Buonarroti (sede da SBE) podemos também festejar o 30º aniversário da sua carreira em Tex, visto que a publicação desta sua última aventura permite, casualmente, a Nizzi cobrir com as suas histórias um arco de precisas 360 edições (de Tex 273 a Tex 632) que equivalem a exactos 30 anos.

Mister No nº 78, edição de estreia de Claudio Nizzi na editora Bonelli. Capa de Gallieno Ferri

Mas vamos voltar um pouco atrás, retornamos a Novembro de 1981, quando na segunda parte da edição nº 78 se inicia a história “Paura nei Caraibi“, a aventura que marca a estreia de Claudio Nizzi na editora Bonelli, após uma dúzia de anos de séries e aventuras criadas para o semanário para jovens “Il Giornalino“, uma publicação das Edizioni Paoline. A ascensão de Nizzi é meteórica. Logo após um par de aventuras de Jerry Drake o autor é chamado a cimentar-se com a personagem principal da editora milanesa: Tex Willer. A estreia na série principal acontece em Julho de 1983, dois anos depois já é o escritor principal, tendo em conta que mais de 50% das páginas publicadas tinham a sua assinatura e em 1988, 1990 e 1992 cometeu a façanha de escrever todas as histórias publicadas nesses anos. Tal não acontecia desde 1975 quando pela última vez Gianluigi Bonelli tinha conseguido assinar todos os edições da série num só ano- e, sobretudo, não voltou mais acontecer até aos nossos dias.

Ser o herdeiro do grande G. L. Bonelli não impede que o autor, argelino de nascimento de criar para o editor da Via Buonarroti uma personagem integralmente sua: em 1988 nasce então  Nick Raider. Nas suas páginas Nizzi faz novamente dupla com Renato Polese, o desenhador que o havia baptizado no Comicdom em 1963, nas páginas de Vittorioso. A sua estreia no mundo da banda desenhada aconteceu portanto há exactos 50 anos atrás.

O policial – a outra paixão de Claudio Nizzi para além do género western – leva-o a cria em 2001 o noir Leo Pulp, muito mais do que uma banda desenhada humorística,  como erroneamente se poderia julgar pelo traço de Bonfatti, autor que desenha todos os três episódios.

Leo Pulp, a última criatura bonelliana de Nizzi, ultrapassou os confins italianos como podemos constara nesta capa alemã. Desenho de Massimo Bonfatti

A longa carreira de Claudio Nizzi na Sergio Bonelli Editore é resumida nos números contidos na tabela que mostramos de seguida:

Ano
Páginas
Posição
Tex
Nick Raider
Mister No
Leo Pulp
KP Magazine (Tex)
1981
168
14°
0
0
168
0
0
1982
411
10°
0
0
411
0
0
1983
158
14°
158
0
0
0
0
1984
500
500
0
0
0
0
1985
744
744
0
0
0
0
1986
1.012
1.012
0
0
0
0
1987
1.052
1.052
0
0
0
0
1988
2.202
1.544
658
0
0
0
1989
2.269
1.389
880
0
0
0
1990
2.142
1.544
598
0
0
0
1991
1.750
1.434
316
0
0
0
1992
1.860
1.544
316
0
0
0
1993
1.306
958
348
0
0
0
1994
1.172
636
536
0
0
0
1995
1.299
1.031
236
0
0
32
1996
1.811
1.463
348
0
0
0
1997
722
722
0
0
0
0
1998
921
921
0
0
0
0
1999
554
13°
554
0
0
0
0
2000
1.104
1.104
0
0
0
0
2001
1.308
1.214
0
0
94
0
2002
1.565
1.565
0
0
0
0
2003
1.768
1.768
0
0
0
0
2004
994
994
0
0
0
0
2005
1.622
1.434
94
0
94
0
2006
1.540
1.540
0
0
0
0
2007
1.304
1.210
0
0
94
0
2008
656
656
0
0
0
0
2009
550
15°
550
0
0
0
0
2010
330
23°
330
0
0
0
0
2011
444
13°
444
0
0
0
0
2013
220
(13°)
220
0
0
0
0
Total
35.458
 
30.235
4.330
579
282
32

Com as suas 35.458 páginas Claudio Nizzi é o segundo escritor bonelliano em absoluto, após o inatingível G.L. Bonelli; e com as suas mais de 30.000 páginas de Tex roça o primado do criador  do Ranger que encerrou a sua carreira com 30.814 páginas. Realizar trinta mil páginas do mesmo herói não é coisa pouca: na editora Bonelli é uma façanha conseguida por apenas dois escritores; Nizzi teve o “azar” que o outro, Bonelli Pai, escrevesse para a mesma séria…

Os números evidenciados no quadro acima indicam que o protagonista deste post foi por 22 anos o autor mais prolífico de Tex, por 6 anos o de Nick Raider e por 3 (inevitavelmente!) o de Leo Pulp; por nove anos foi o autor mais produtivo da editora milanesa; foi também o autor mais publicado nos anos 90 no que diz respeito a exemplares bonellianos – ainda que o seu record pessoal, 2.269 páginas, seja datado de 1989.

Nizzi, graças sobretudo aos inúmeros Tex Gigante realizados, destaca-se também na classificação dos escritores de edições especiais: com 8.534 páginas especiais supera Burattini e Castelli que ocupam os outros dois degraus do pódio.

Tex 273 e Tex 632, o primeiro e o último álbum de Nizzi para Águia da Noite. As capas são respectivamente de Aurelio Galleppini e de Claudio Villa

Claudio – como se intui do quanto foi escrito anteriormente – na história da editora milanesa é o escritor que realizou mais páginas de uma não sua personagem; nesta particular classificação de autores com a produção de personagens criadas por outros é seguido, a uma distância segura, de  Moreno Burattini (18.567 páginas para Zagor), Mauro Boselli (11.911 páginas para Tex), Stefano Vietti (11.220 páginas para Nathan  Never e demais séries relacionadas) e Luigi Mignacco (10.518,5 páginas para Mister No). Curioso o facto de que – apesar da primazia nesta classificação transversal – Nizzi não detenha o primado em nenhuma das séries de longa duração em que tenha colaborado – nem sequer no seu Nick Raider, onde, na classificação final, é superado por apenas 28 páginas, por Alfredo Nogara.

Série
Histórias
Páginas
Tex
98
22.819
Nick Raider
32
3.212
Tex Gigante
21
4.702
Nick Raider Speciale
11
1.024
Almanacco del West
10
1.052
Maxi Tex
5
1.662
Leo Pulp
3
282
Mister No
2
579
Almanacco del Giallo
1
94
Ken Parker Magazine
1
32

A aventura mais longa concebida por Claudio, L’uomo con la frusta (Tex italiano 365-369,) desenvolve-se no arco de 504 páginas e contou com a colaboração de dois desenhadores, Fusco e Civitelli, que dividiram equitativamente a aventura: 252 páginas por cabeça.
 
A propósito de ilustradores: foram 59 aqueles com quem Nizzi colaborou neste trinta e dois anos bonellianos, como podemos constatar no quadro que se segue e onde estão ordenados pelo número de páginas e separados por séries.
 
Desenhador
Páginas
Tex
Nick Raider
Mister No
Leo Pulp
Fusco
4318
4318
 
 
 
Civitelli
3418
3084
 
334
 
Ticci
2699
2699
 
 
 
Ortiz
1874
1874
 
 
 
Monti
1617
1617
 
 
 
Villa
1575
1575
 
 
 
Letteri
1537
1537
 
 
 
Repetto
1195
1195
 
 
 
Blasco
1052
1052
 
 
 
10°
Venturi
1015
1015
 
 
 
11°
De La Fuente
978
978
 
 
 
12°
Galep
953
953
 
 
 
13°
Brindisi
661
375
286
 
 
14°
Diso
660
660
 
 
 
15°
Ramella
596
 
596
 
 
16°
Caramuta
564
 
564
 
 
17°
Polese
560
 
560
 
 
18°
Marcello
555
555
 
 
 
19°
Giolitti
551
551
 
 
 
20°
Rossi R.
528
528
 
 
 
21°
Mastantuno
478
224
254
 
 
22°
Trigo
470
 
470
 
 
23°
Della Monica
448
448
 
 
 
24°
Del Vecchio
440
440
 
 
 
25°
Milazzo
412
224
188
 
 
25°
Parlov
412
224
188
 
 
27°
Capitanio
407
219
188
 
 
28°
Irmãos Cestaro
330
330
 
 
 
29°
Cossu
326
326
 
 
 
30°
Sommer
314
314
 
 
 
31°
Bignotti
245
 
 
245
 
32°
Bonfatti
235
 
 
 
235
33°
Alessandrini
224
224
 
 
 
33°
Ambrosini
224
224
 
 
 
33°
Bernet
224
224
 
 
 
33°
Buzzelli
224
224
 
 
 
33°
De Angelis
224
224
 
 
 
33°
Kubert
224
224
 
 
 
33°
Magnus
224
224
 
 
 
33°
Seijas
224
224
 
 
 
33°
Wilson
224
224
 
 
 
33°
Zaniboni
224
224
 
 
 
43°
Rossi M.
222
 
222
 
 
44°
Filippucci
220
220
 
 
 
44°
Milano
220
220
 
 
 
46°
Antinori
216
 
216
 
 
47°
Nicolò
158
158
 
 
 
48°
Roi
128
 
128
 
 
49°
Fiorentini
94
 
94
 
 
49°
Sgattoni
94
 
94
 
 
49°
Siniscalchi
94
 
94
 
 
52°
Biglia
70,5
23,5
47
 
 
52°
Copello
70,5
23,5
47
 
 
54°
Buffagni
47
 
 
 
47
54°
Calegari
47
47
 
 
 
54°
Straffi
47
 
47
 
 
54°
Torti
47
 
47
 
 
58°
Leomacs
20
20
 
 
 
.
Fusco e Civitelli, já citados como desenhadores da aventura mais longa escrita por Nizzi, são também os seus mais fiéis colaboradores; O segundo já o tinha inclusive encontrado nas páginas de Mister No. Além de Civitelli, outros sete desenhadores trabalharam com Nizzi em duas séries diversas (como a tabela prova): Tex e Nick Raider.
 
Para concluir, duas curiosidades ligadas aos desenhadores: Nizzi baptizou o mais jovem desenhador de Águia da Noite, Luigi Copello, que estreou há quase 22 anos no primeiro Almanaque dedicado ao Ranger; também foi o escritor da única história bonelliana desenhada, pelo menos pela metade, por Iginio Straffi, o autor que mais tarde tornou-se internacionalmente famoso como criador das Winx.
 
Em suma, um ano para recordar este 2013 para Nizzi: 75º aniversário e 50 anos de banda desenhada – dos quais 30 ao serviço de Tex!

Saverio Ceri

Material apresentado no blogue Dime Web em 11/05/2013; Tradução e adaptação (com a devida autorização): José Carlos Francisco.
Copyright: © 2013, Saverio Ceri

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

2 Comentários

  1. Parabéns ao renomado roteirista Claudio Nizzi. A sua obra, nas páginas da SBE, é muito grande e um legado para essa e futuras gerações de autores e de leitores.

  2. Nizzi e Boselli são, para mim, os dois melhores argumentistas de Tex depois de Gianluigi e de Sergio Bonelli, cada um com estilos e registos diferentes, mas de produtividade igualmente notável. Nizzi revelou sempre maior apego à tradição do “western” clássico, enquanto que em Boselli avulta a influência de um “western” crepuscular, com temas de grande dureza e violência, que acompanham a evolução do género.
    Pela sua longa carreira, Nizzi merece, sem dúvida, todas as homenagens. Mas foram as suas criações para a Bonelli que o lançaram na senda do êxito, tornando-o mundialmente conhecido e apreciado por uma grande legião de leitores.

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