As avaliações do Mattheus: Tex 470/471 – Dez Anos Depois

(**CUIDADO: este texto contém spoiler. Se você pretende ler essa edição, não leia a crítica**)

Tex 470/471 – Dez Anos Depois

| Tex 471 | Rhonda Carpenter || Tex 470 | Desrespeito com as convicções religiosas |

Lançado no Brasil em duas edições (470 e 471), Dez Anos Depois trata-se de uma das melhores histórias com roteiro reciclado (reaproveitando personagens antigas) que Tex já teve.

Empunhar ou não uma arma contra seu próximo com sua casa e sua família em risco? Até que ponto vai a sua fé em Deus? Nesta aventura, este dilema é o foco da trama. Sem poder usar armas devido à sua religião, Marcus Glendon e os moradores de Paradise pedem a intervenção de Tex e Carson para defender o local da terrível Rhonda Carpenter, uma mulher impiedosa que é capaz de tudo para alcançar seus propósitos. Agora, cabe aos rangers impedirem os objectivos de Rhonda.

A primeira impressão não é a que fica
.

A primeira parte de Dez Anos Depois, ou seja, o Tex 470, é completamente vazia. Esta edição serve apenas para apresentar as personagens e preparar tudo de bandeja para o número seguinte. Tiroteios sem graça, sermões religiosos de Elias a todo instante em Tex e Carson e longos e improdutivos diálogos impedem o desenvolvimento da história.

Evolução mesmo no enredo ainda nesta edição, só na página 103, quando os capangas de Rhonda sequestram o jovem e impulsivo Doug. Mas fora isso, não há nada mais de relevante. Com isso, Tex 470 nada mais é do que um mero prelúdio em comparação ao que realmente acontecerá na próxima edição.

Bruxa atraente? E como…

.
Linda, ambiciosa e má: esta é Rhonda Carpenter. Outras mulheres também já foram vilãs das histórias do ranger, mas nenhuma (com excepção de Lily Dickart, irmã de Mefisto) teve tanta carisma como Rhonda.
Nizzi acerta em optar por uma antagonista feminina, e os frutos da escolha são interessantes: a discussão entre Rhonda e Tex (Tex 471) é interessante de se ver justamente porque Tex jamais ousaria levantar a mão contra uma mulher e o bate boca entre os dois mexe com o orgulho dela, fazendo com que a criadora de gado desafogue a sua ira com um ataque a Paradise. E seu caso amoroso com o jovem Quaker é o motivo de trágico e injusto fim.

Rhonda consegue, por mais má e ambiciosa que seja, conquistar o carinho e a admiração do leitor. Seja por sua beleza ou por sua frieza, temos aqui uma vilã inesquecível.

Emoções e surpresas do começo ao fim

.
Se a primeira parte de Dez Anos Depois é fraca e vazia, a segunda parte é o oposto: emoção do começo ao fim. Nesta edição, a história desenvolve-se num ritmo rápido e deixa o leitor sem fôlego. Seja a discussão entre Tex e Rhonda (mencionada acima), ou as cenas de acção, Tex 471 oferece-nos aquilo que faltou na edição anterior: crescimento do roteiro.

A cada página, uma surpresa. Aqui, é difícil eleger o melhor momento da trama, cada cena, seja ela acção ou surpresa, acontece no momento certo. Desta vez, Carson não fica somente na sombra de Tex e tem seu momento de destaque, quando nosso camelo velho liberta Doug dos carcereiros. E quando os rangers acham que está tudo resolvido, mais uma surpresa: a fuga de Rhonda.

Com o entrosamento entre desenhador e argumentista, temos aqui uma garantia de boa leitura.

Fé apenas no colt 45, né Tex?

.
Algo que para alguns pode ser divertido e até mesmo engraçado, mas para outros pode ser considerado como uma ofensa às crenças e convicções religiosas, são os momentos em que Tex e Carson desrespeitam o irmão Elias por ele ter fé (beirando ao fanatismo) em Deus. Carson e Tex “reclamam” pelo facto de sempre levarem sermões de Elias, pois para os rangers, apenas os revólveres livrarão os Quakers da ameaça de Rhonda e seus homens. Isso, para alguns “fanáticos” da vida real, deixará uma impressão horrível do ranger, principalmente se este for o primeiro contacto com Tex.

É sabido que o fanatismo de Elias foi explorado nesta história com o único propósito: ser o motivo da morte de Rhonda. Mas contudo, não havia necessidade alguma de Nizzi colocar Tex e Carson “contra” Elias, bastava um sermãozinho aqui e outro ali e pronto, sem Tex ter que retrucá-lo e/ou provoca-lo.

Conclusão:

.
Dez Anos Depois, é uma história deliciosa e interessante de se ler. Aqui, temos acção, emoção, surpresas e intrigas. Tudo isso sem exagero. Os belos traços de Rossi, também contribuem para tornar a edição atractiva. Afinal, como não gostar de desenhos que são inspirados nos do mestre Civitelli?

Com tudo isso, porém, como já foi dito logo no inicio do texto, o leitor pode não se interessar pela história ao ler a primeira parte da trama (Tex 470), por ser muito parada e pouco interessante. Mas vale a pena lê-la mesmo assim, pois o que vem na edição seguinte, compensará todo o “tédio” da edição anterior.

Nota para o Tex 470: 5,5
Nota para o Tex 471: 9,0
Nota geral: 8,0

*Material apresentado no blogue críticas texianas em 29/12/2012;
Copyright: © 2012, Mattheus Araújo

 

Um comentário

  1. Mattheus, quando comecei a colecionar Tex sistematicamente, comprando sem falta cada nova edição lançada, foi justamente por esse número 470. Bela história, até as capas são muito expressivas, principalmente a primeira. Concordo com quase tudo que tu escreveu, tua resenha é muito boa, mas queria discordar de alguns pontos:
    1 – Achei exagerada sua crítica ao 470 como “completamente vazia” e “fraca e vazia“, pois é a primeira parte de uma história e, ao meu gosto subjetivo, vai construindo um contexto bem interessante onde a religiosidade é questionada enquanto ideologia conformista em função de uma situação social prática de segurança pública, algo feito muito bem pelo roteirista;
    2 – Os choques ideológicos contidos nas falas de Elias e dos rangers vêm justamente para sublinhar esse aspecto trabalhado pelo roteirista de forma bem inteligível ao leitor, mesmo, claro, ele tendo de fazer isso dessa forma esquemática e maniqueísta, pois não se tratava de um livro específico sobre ética religiosa e segurança pública, mas sim de um gibi direcionado ao leitor comum;
    3 – É verdade que o fanatismo do personagem foi utilizado como elemento determinante para a morte da vilã, mas creio que o roteirista também queria, ao criar um religioso tão esquemático e quase caricato, distinguir bem a tensão entre uma determinada ética religiosa (e a do grupo específico é bem ortodoxa) e a necessidade de uma ação social coercitiva e violenta visando a preservação da integridade de uma comuna.
    Uma história complexa com o mérito de ter sido bem escrita com a simplicidade inerente a um gibi. Muito além de um raso bang bang tradicional de ação. Um abraço.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *