As Leituras do Pedro: J. Kendall – Aventuras de uma Criminóloga #71 – Morrerei à Meia-noite

As Leituras do Pedro*

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga
#71
Morrerei à Meia-Noite

Giancarlo Berardi, Lorenzo Calza (argumento)
Roberto Zaghi  (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2010)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal, 4,00 €

Resumo
Um desconhecido apresenta-se à criminóloga Julia Kendall, dizendo-se perseguido por uma cigana que desde há alguns dias prevê tudo o que lhe vai acontecer.

Desenvolvimento
Como manter mensalmente o interesse de uma série de banda desenhada?
Se a pergunta pode parecer algo estranha aos leitores de BD franco-belga – que podem sempre transpô-la para o conceito de série, tout-court – com certeza fará sentido para quem habitualmente lê comics de super-heróis ou os fumetti dos (não menos heróis) Bonelli. Para além de, certamente, preocupar regularmente os seus criadores.

Curiosamente, a resposta dificilmente escapa a seguir uma de duas vias, aparentemente contraditórias mas, em muitos casos, complementares. Que são: criar um modelo (mais ou menos) rígido, que satisfaça os fãs do herói, ou inovar regularmente para surpreender e (re)conquistar os leitores.

Tex, será o exemplo mais paradigmático do primeiro caso, seguido de perto pela maioria dos super-heróis (e é nesta continuidade que encaixa a necessidade de regularmente ressuscitar os que pelo caminho foram morrendo…).

Julia Kendall, a criminóloga de Garden City, tem no número agora em consideração um belo exemplo do segundo caso.

Desde logo porque não há nenhum assassínio. Também porque co-protagonistas como o tenente Webb ou o sargento Ben Irving estão ausentes – o detective Leo Baxter e Emily são as excepções do elenco regular. Depois, pela multiplicidade de referências cinematográficas e televisivas, perfeitamente inseridas na BD (no texto, no desenho, na planificação…)

Mas, acima de tudo, pelo tom estranho – quase sobrenatural aqui e ali – que o enredo assume. Porque, começando pelas previsões certeiras de uma cigana, a história continua pelo envolvimento amoroso de Julia com o (até aí) desconhecido, num tom (ainda) mais intimista (do que o habitual), avança por caminhos oníricos, lança dúvidas no leitor, coloca-lhe questões atípicas, deixa-o ao mesmo tempo na defensiva mas também ávido por conhecer o final.

Que, como se impõe, não deixa de ser inesperado e surpreendente, embora coerente e razoável, de certa forma “repondo a ordem” no universo de Julia.

A reter
– A inovação na continuidade.
– A multiplicidade de referências cinematográficas e televisivas…
– … e a forma como elas estão inseridas na planificação.
– O belo desenho de Zagui, cuja análise “não encaixou” no texto acima, mas que merece ser apreciado com detalhe, em especial nas cenas em que há maior contraste luz/sombra.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias e na revista In’ – distribuída as sábados com o JN e o DN), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro.

Um comentário

  1. É uma ótima leitura, ainda pouco valorizada no Brasil, não sei se por falta de divulgação e/ou preço, mas se bem analisada merece mais atenção de nós leitores.

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