Tex Série Normal: Rumo a Forte Apache

Capa Tex 373Argumento de Mauro Boselli e desenhos de José Ortiz, com capa de Claudio Villa. Com o título original Sulla Pista di Fort Apache, a história foi publicada em Itália nos nº 458 a 460 e no Brasil pela Mythos Editora nos nº 373 a 375.

O Arizona encontra-se a ferro e fogo, uma vez que um grupo de apaches rebeldes chefiados por Chunz luta contra o exército americano instalado em Forte Apache. Cansado dos métodos repressivos do tenente Parkman, Cardona, o chefe dos índios coioteiros, vai abandonar a sua reserva em Forte Apache e juntar-se a Chunz, apesar de não partilhar nem aprovar o ódio radical que este nutre pelos brancos. Entretanto, uma patrulha de soldados conduz Liz Starret que chegou ao Arizona para se encontrar com Parkman,  o  seu  noivo, mas cai numa cilada, sendo salva por Tex e Tigre que estão na região para resgatar alguns jovens navajos que se juntaram a Chunz. Ingredientes quanto baste para um ambiente tenso e violento, onde Tex vai jogar muita da sua perícia e diplomacia como Águia da Noite.

Capa Tex 374Índios  confinados  a  reservas onde não são permitidas muitas das suas práticas e tradições parece ser um tema recorrente na saga texiana. G.L. Bonelli tratou por diversas  vezes  da  temática, criticando sempre de modo bem vincado a pouca dignidade com que Washington tratou as tribos índias. Boselli vai buscar um pouco destas raízes  bonellianas  e constrói uma aventura plena e grandiosa, uma verdadeira epopeia. No ambiente que a rodeia, com um forte isolado em pleno território controlado por índios rebeldes; no estoicismo de alguns em defesa de valores; pela relação que se estabelece entre duas personagens  (Liz e Laredo)  que se opõem numa primeira fase e que é digna dos melhores clássicos do género; ou ainda pelo conjunto de sentimentos contraditórios, como o ódio índio ao branco ou a repulsa por métodos inflexíveis em defesa de políticas  emanadas  dos gabinetes de Washington.

Capa Tex 375Esta real capacidade de Boselli em saber sempre ir mais além dos cânones texianos, começa sempre na natural habilidade do autor em construir personagens, conferindo outra densidade e alcance às aventuras do ranger. Repare-se, por exemplo, que a ausência de Carson é notavelmente compensada pela personagem de Laredo, um batedor do exército que passa por toda a aventura como um verdadeiro aliado de Tex, compreendendo-o, auxiliando-o e sustentando toda a acção de Águia da Noite. Numa só aventura, Laredo assume-se como uma personagem marcante, por força da sua vincada personalidade. Boselli também marca pontos com a composição do tenente Parkman, um oficial inflexível, cujo ódio aos índios não lhe permite actuar na melhor defesa dos interesses dos homens que comanda, preferindo sempre adoptar uma postura que lhe granjeie outros voos na sua carreira.  Em  Parkman Boselli representa toda a cegueira  e  a  prepotência de Washington e só quando acossado e diante de uma inevitável derrota, consegue afinal destrinçar o real do acessório.

Laredo e TexTambém o traço de Ortiz contribui,  e  de  que maneira, para a dinâmica da aventura. Ortiz consegue sempre expressar no papel a plenitude de sentimentos e o dramatismo da acção, construindo personagens de modo expressivo notável, com especial realce para a caracterização física do bando que vende armas aos rebeldes, onde o autor espanhol adopta um profundo maniqueísmo que nos habituámos a ver,  por  exemplo, em Ticci. Ágil e nervoso,  o  seu  desenho marca pontos nas cenas nocturnas, onde os seus pretos intensos e carregados conseguem ampliar o suspense da acção, conferindo-lhe ainda uma maior carga dramática.

No fundo, uma aventura vivamente aconselhada a todos os amantes do verdadeiro western.

Texto de Mário João Marques
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2 Comentários

  1. De salientar ainda nesta histórias, dois aspectos:
    – Mostra em detalhe algumas das tácticas de luta dos apaches, em várias sequências de excepção.
    – O Forte Apache, ponto estratégico do Exército na zona, não possuía paliçada por forma a mostrar aos Apaches que o Exército não os temia, o que dá origem a acontecimentos dramáticos durante a trama, mas ao mesmo tempo concorre para a sua eficácia narrativa.
    Uma história a ler e a reler com atenção, um autêntico clássico “à la John Ford”.

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