Tex Série Normal: A Longa Caminhada

A Longa CaminhadaArgumento de Mauro Boselli, desenhos de Guglielmo Letteri e capas de Claudio Villa. Com o título original La lunga pista, a história foi publicada em Itália nos nº 473 e 474 e no Brasil pela Mythos Editora nos nº 388 a 390.

Tex encontra-se no encalço de um misterioso cowboy que seduziu Toyah, uma jovem navajo, e matou o irmão desta,  Gadhay. Em pleno deserto, Tex é também alvo de um ataque deste cowboy, que o deixa sem cavalo e sem mantimentos debaixo do sol escaldante.

Mesmo assim, Tex consegue caminhar e, ao fim de dois dias, chega até a um pequeno rancho onde conhece Rose Clampett, uma viúva que vive sozinha e cujo marido foi assassinado em circunstâncias nunca completamente esclarecidas. O rancho fica perto da pequena cidade de Faust, onde os homens do rico fazendeiro Sam Brackett mandam a seu belo prazer, chefiados por Indigo Jones, personagem fria e prepotente. Tex, sabendo que o misterioso cowboy que persegue encontra-se escondido num dos ranchos das redondezas, acaba por se instalar na casa de Rose e aceita ajudar Nat Merrick, um jovem advogado que a cidade contratou para xerife e para fazer frente aos homens de Sam Brackett.

Início de A Longa CaminhadaO argumento de Boselli é rico em factos, denso nas suas personagens e mantém a atenção do leitor praticamente até à última página. Vamos por partes. Quando a aventura começa, já a sua sustentação, se quisermos alguma da sua base, vem detrás, porque se a primeira imagem que nos é oferecida mostra um Tex em pleno deserto, vamos saber mais tarde que afinal o ranger está no encalço de um misterioso cowboy que matou um navajo e, com isso, provocou a morte da irmã deste.

Apesar de Boselli ter preferido iniciar a aventura numa fase posterior, integrando estes acontecimentos mais tarde na narrativa, o argumento é mesmo assim rico em factos. Não porque estejamos em presença de mais uma aventura onde um rico fazendeiro dá total liberdade ao seu capataz para espalhar a sua autoridade de modo prepotente, mas porque em redor disso, encontra-se um jovem advogado contratado para xerife e que, em pleno oeste, pretende fazer vincar a lei dos tribunais em detrimento da lei do colt e do chumbo.

Arte de LetteriPor aqui começa Boselli a construir uma galeria de personagens interessante, contrapondo o xerife Nat ao arrogante Indigo, assim como Tex a Sam Brackett. O ranger não tem a habitual ajuda dos outros pards, encontrando-se confinado apenas ao seu saber, à sua intuição, até porque na própria cidade de Faust ninguém ousa erguer a mão contra Brackett e Indigo, com a honrosa excepção dos homens de Stanley Dance, dono de um rancho vizinho que também se opõe a Brackett. É neste relacionamento entre personagens e na própria investigação de Tex que reside o interesse da aventura. No fundo, Boselli é um clássico e a sua arte está no modo e na forma como, congregando os elementos do western, os sabe adaptar convincentemente.

Tex no cemitérioLetteri desenhou décadas para Tex e só a sua recente morte veio terminar uma colaboração que se confunde com a própria essência da série. Por aqu, estamos falados e, indubitavelmente, Letteri deixou a sua marca, deixou o seu legítimo testemunho, a sua vida ao serviço do ranger. Apesar disso, apesar também da extensa legião de admiradores que soube conquistar e congregar em volta do seu trabalho, honroso e meritório, para mim guardo gratas recordações mais pela galeria de personagens que compôs (com El Morisco no topo) ou por certos ambientes recriados (os mexicanos ou os de magia e horror, por exemplo), do que propriamente pela qualidade do seu traço ou pelo desenvolvimento empreendido às aventuras.

O Xerife DoutorExpliquemo-nos: apesar do seu traço limpo e polido, Letteri nunca foi um desenhador de estilo dinâmico ou alguém cujas páginas respirassem a poeira do oeste. Letteri foi sempre um competente desenhador, que soube criar o seu próprio modelo para Tex (por mim apreciado), mas cujas páginas nunca souberam transpor verdadeiramente a aura do western. Letteri permaneceu sempre como um desenhador datado que, a meu ver, nunca evoluiu, desenhando sempre da mesma forma, transpondo sempre os mesmos cenários, os mesmos ângulos, as mesmas sequências. Com o passar dos anos, com uma certa ausência de rigor no seu fino traço (que afinal era uma das suas qualidades), o resultado acaba por revelar-se frouxo e inconsequente, acabando por denotar um trabalho final de fraca qualidade. Corro o risco de parecer injusto e ir ao arrepio de muitos texianos, mas esta é apenas a minha opinião.

Uma última palavra para a excelência das capas de Villa, nomeadamente a de Tex caminhando em pleno deserto, que já se tornou num ícone da série.

Texto de Mário João Marques

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