O Tex de Antonio Segura: Um Maxi Tex!

Por Jesus Nabor Ferreira[1]

O Tex brutal de Antonio Segura

O Caçador de Fósseis e O Ouro dos ConfederadosSe há alguma diferença entre os actuais autores de Tex (Claudio Nizzi e Mauro Boselli) e o espanhol Antonio Segura, isto fica logo evidente nas primeiras páginas da sua história “O Caçador de Fósseis”.

Convidado por Sergio Bonelli (ou melhor, Segura ofereceu-se para produzir um texto de Tex e ouviu do editor italiano que este deveria ser original e ao mesmo tempo fiel à história editorial do Ranger) para produzir o álbum que daria continuação à colecção iniciada anos antes com “Oklahoma!“, Antonio Segura apresentou aos editores italianos (Decio Cancio e o próprio Bonelli) um roteiro onde colocava Tex e Carson às voltas com escavadores de fósseis (paleontólogos), um assassino insano e impiedoso, um desiludido chefe índio, um matador à beira da morte, um jovem sedento de fama e glória, um rico e desonesto comerciante e um velho mineiro beberrão. Amarrar todas estas pontas e movimentar uma trama coerente e envolvente em mais de trezentas páginas foi o que Segura fez, ilustrada soberbamente pelo seu velho companheiro de estrada: José Ortiz.

Mas o que faz com que Segura me pareça tão longe de um Nizzi? Ou de Boselli? É a crueza das suas personagens e um realismo brutal que empresta às suas situações. No seu primeiro texto para Tex, Segura impregna de sentimentos torpes os coadjuvantes da história e faz isto de uma maneira “segura” – com o imenso perdão do trocadilho -! Em nenhum momento temos duvidas quanto ao carácter das suas personagens e suas motivações. Segura constrói um Tex extremamente humano, inclusive com fraquezas que dificilmente estamos acostumadas a ver neste grande Herói. A cena em que Tex resolve a situação com Charles Sutter, fica marcada por mostrar um Tex implacável. Ao lado do Ranger, sempre o fiel amigo Kit Carson, que nas letras de Segura e traços de Ortiz parece-se cada vez mais com o grande irmão de Tex, sendo ele o contraponto para o seco e heróico Ranger.

No trabalho seguinte: “O Ouro dos Confederados”, mais uma vez os autores espanhóis tratam com extrema dureza um cenário comum ao género Western – O pós Guerra da Secessão. Com excepção dos heróis Tex, Carson e um soldado que os acompanha, todas as demais personagens são dúbias, amargas, cruéis e traiçoeiras. E mais uma vez, Carson joga o papel do irmão mais velho e bonacheirão que apoia e orienta os mais jovens. Os desenhos carregados de Ortiz transmitem uma sensação de angústia e decadência ao cenário desolado do pós-guerra.

As Duas Faces da VingançaEm “As Duas Faces da Vingança” (Tex Anual #3), Segura faz um Tex menos rude. Talvez por não estar acompanhado do seu parceiro habitual, José Ortiz, e sim do mestre Argentino Repetto, Segura opta aqui por valorizar mais as cenas de acção, com grandes movimentações das personagens, óptimas caracterizações dos elementos peculiares aos ambientes áridos e desertos dos grandes territórios mexicanos e a aventura envolvendo combates entre os nossos heróis (Tex e Carson) e os inimigos mexicanos ou então índios rebeldes e soldados do exército americano. Vemos um Tex mais aventureiro, menos intimista do que o dos outros Tex’s anuais anteriores, mas com muito mais acção directa, tiros e socos! O desenho limpo e de traços certeiros de Miguel Angel Repetto, torna agradável e leve uma leitura que com outras “tintas” seria pesada e amarga!

Os outros Tex's de Antonio SeguraOs grandes combates entre índios e soldados, entre os arrogantes proprietários de terras e pobres moradores da vila local no traço de Repetto ganham um ponto a mais. Nestas duas histórias mais curtas, Segura parece seguir o roteiro tantas vezes já usado pelos demais autores do Ranger, muita acção, muita luta, um Tex mais linear, o chefe navajo, o homem da Lei. Segura pouco se aprofunda no universo das demais personagens, vê-se claramente que a sua atenção está voltada apenas para a acção e o desenrolar da mesma. Mas, em se tratando de Segura, o leitor não fica decepcionado, ele entrega um grande banquete… mesmo que regado a sangue!

De todos os textos de Segura com Tex que li até o momento os que menos gostei foram justamente os deste Tex Anual #3! Mas mesmo assim ainda é um grande trabalho, muito acima da média da maioria dos textos de outros autores. O Tex de Antonio Segura sem sobra de dúvida é um dos mais empolgantes, divertido e cru que já tive a oportunidade de ler. Antonio Segura é um mestre e aguardo sempre ansioso pelo seu próximo trabalho.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens, clique nas mesmas)
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(Texto publicado originalmente no Blogue Zona Franca Comics, em 4   de Março de 2010)
[1] Coleccionador de Banda Desenhada desde 1976

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