As Leituras do Pedro: Tex #608 (A aldeia dos danados) e Tex #609 (A fúria de Makua)

As Leituras do Pedro*

Tex #608 A aldeia dos danados
Tex #609 A fúria de Makua
Pasquale Ruju
(argumento)
Alfonso Font (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Junho/Julho de 2020
135 x 175 mm, 114 p., pb, capa fina
R$ 12,90

Tex #608 (A aldeia dos danados) e Tex #609 (A fúria de Makua)

Regresso ao passado

Já referi por aqui, a propósito da Tex #600, a actual tendência nas aventuras do ranger para ‘recuperar personagens que de alguma forma foram marcantes pelo tempo de uma história‘.

Obviamente, este tipo de exercício presta-se a diferentes interpretações – que também estão relacionadas com o posicionamento de cada leitor em relação a Tex. Uma delas, crítica, é associar a opção a falta de imaginação dos actuais argumentistas, daí a necessidade do regresso recorrentemente aos ‘bons tempos passados’. Outra, mais favorável, é considerar que as personagens (agora reencontradas) eram tão ricas e fortes que era uma pena limitá-las a uma única história.

Este díptico, A aldeia dos danados/A fúria de Makua,é mais um exemplo.

Tex #608 – Arte de Alfonso Font

Exemplo esse personalizado em Makua, que se cruzou com Tex em meados de 2012. Era um mestiço, duplamente rejeitado por brancos e índios, o que o levou a más companhias e a tornar-se pistoleiro ao serviço das piores causas. Derrotado de forma cruel pelo ranger, que lhe inutilizou a mão com que disparava, acabará apesar de tudo com a vida poupada – não são muitos os que se podem gabar disso… – para pagar pelos seus crimes na prisão.

Agora, a história arranca anos depois, quando Makua deixa a penitenciária após cumprir a sua pena; à sua espera está Tex, que acreditou que no fundo o seu antigo adversário podia ser um homem bom.

Esse reencontro, após algumas peripécias, levá-los-à a cruzarem-se com um bando de índios renegados que espalha a destruição e a morte e que, de forma dramática, obrigará Makua a repensar as suas opções, colocando nos pratos da balança, de um lado a confiança que Tex nele depositou, do outro a sua posição perante uma tragédia que se desenrolou perante os seus olhos.

Tex #608 – Arte de Alfonso Font

A escolha feita, as decisões tomadas, não tão evidentes ou lineares como parece do que atrás fica descrito, são o âmago de um relato tenso, assinado pela mesma dupla – Pasquale Ruju e Alfonso Font – que tinha criado Makua. Este regresso de uma personagem forte e com espessura psicológica, revela-se feliz, pois volta a colocar o (co-)protagonista perante escolhas difíceis e capazes de abalar as mais fortes convicções.

Desta forma, um dos aspectos a destacar é que Makua sem a proximidade física de Tex, é obrigado a decidir sozinho quando a vida o coloca perante uma encruzilhada (quase) impossível, numa história em que as cenas de acção se multiplicam, mas em que o fundo dramático está sempre presente.

Outro aspecto que me agrada bastante, é o traço fino e expressivo de Font que, apesar da considerável idade, continua um mestre na representação da figura humana e da natureza, bem servido por um belo uso dos contrastes branco/negro.

Tex #609 – Arte de Alfonso Font

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Ótima análise da história. De certa forma ler essa continuação foi nostálgico para mim. O motivo: a primeira história de Tex que li na vida foi justamente a história “Mestiço” que saiu pela Mythos nas edições 521 e 522, nunca esqueço. Foi a partir dali que comecei a cavalgar junto com Águia da Noite pelas pradarias do Oeste…

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