XVII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu: o cartaz, os premiados e as exposições

De 10 a 21 de Setembro de 2011, realizar-se-à na cidade de Viseu, o XVII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu, cujo tema central aborda a temática ”Cidades na BD“, mas onde também não deixará de estar presente em grande destaque a personagem Tex Willer, não só pela exposição associada ao Ranger (As Cidades do Velho Oeste), mas também pela presença do conceituado desenhador italiano Fabio Civitelli.

O blogue do Tex tem o privilégio de divulgar o cartaz do evento, da autoria do Engenheiro António Mata, assim como de fazer uma abordagem mais generalizada ao Salão de Viseu deste ano de modo a cativar um maior número de bedéfilos de todo o país a fazerem uma visita a Viseu, sobretudo no dia 10 de Setembro, onde pelas 17 horas se registará a inauguração do evento, com visita às exposições, entrega de prémios Anim’Arte BD, convívio de Texianos e outras actividades.

A cidade e o Salão BD justificam a viagem.

CENÁRIOS URBANOS … e do ermo nascem as cidades …

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A temática do XVII salão internacional de banda desenhada de Viseu conduz-nos ao encontro da arquitectura construída ou imaginada, transporta-nos aos cenários urbanos edificados pelas mãos de gerações de artistas da pedra ou cenários fantásticos imaginados pelo génio de inesquecíveis nomes da arte de desenhar aos quadradinhos. As histórias de vida que atravessam o tempo e o espaço e se animam nos desenhos que enchem a nossa memória e despertam a nossa curiosidade vivem de múltiplos sinais e arquitecturas; uma cidade é também uma paisagem coberta de sinais, “estruturas de memória” assinadas pelos homens que a edificam, e pelo tempo; e o tempo deixa marcas nas cidades, que se entrelaçam nas histórias de vida, mas também na arquitectura, elemento artístico e humanizado de contextualização e harmonização.

É desta dialéctica entre o espaço e o tempo, a arte e a vida que se constrói em grande parte este XVII salão e banda desenhada, procurando divulgar e honrar os espaços edificados por onde viajam, respiram e nos inspiram os autores e os heróis, dando brilho às histórias. Porque há cenários urbanos que brilham como pedras preciosas nas páginas da banda desenhada. E uma cidade torna-se num imenso universo quando estamos apaixonados por um dos seus habitantes, ou pelos seus espaços de memória, como acontece com o jovem repórter Tintin, ou com o eterno e enigmático viajante Corto Maltese , o histórico Alix ou o bravo pistoleiro TEX. Boa viagem pelas cidades dos nossos heróis da banda desenhada. Boa estadia na cidade de Viriato, de Aquilino Ribeiro, de Grão Vasco e tantos outros heróis da História e da Memória da cidade.
A organização (Gicav – Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu) 2011.

PRÉMIOS ANIM’ARTE 2010

A banda desenhada nem sempre é reconhecida como uma manifestação de criatividade artística e fenómeno cultural secular. O GICAV pretende evocar e distinguir com estes prémios os criadores de BD com obra de reconhecido valor artístico e didáctico, que são apresentados no Salão de Viseu de Banda Desenhada.
Premiados: Eugénio Silva e Fabio Civitelli

EUGÉNIO SILVA

Eugénio Rafael Pepe da Silva nasceu no Barreiro, em 1937. Frequentou o curso de Desenhador – Gravador – Litógrafo, onde se iniciou na banda desenhada, impulsionado pelo Mestre Rodrigues Alves. Datam desta época as suas primeiras experiencias em trabalhos incompletos: O Ultimo Moicano, O Escaravelho de Ouro, A Perfeição (de Eça de Queirós). A sua lista de trabalhos é curta, em parte devido ao seu carácter meticuloso de investigação histórica e documentação confirmada que sustenta a sua obra. Expôs em variadíssimos salões e festivais, nomeadamente na Sobreda, Lisboa, Barreiro, Viseu, Amadora, Moura, Ourique, Porto, Viana do Castelo, Castelo Branco, e também no estrangeiro: Japão e Roménia. Organizou o 1.º salão de bd do Barreiro em 1986. Recebeu o Troféu Sobredão, como Homenageado Nacional, na Sobreda/Bd 94, ano em que foi também convidado de honra do salão de Ourique. Tem participado como actor em vários projectos de teatro do Barreiro. Publicações: Amoni (Nau Catrineta); A Gruta dos três irmãos, no Pisca Pisca; História Pequena do Vidro (Espiral/Covina); Matias Sandor – álbum (Ed. Publica); Eusébio, o Pantera Negra (Meribérica/Liber); On a retrouve la foret perdue (Narration/Marselha); O Coelho Branco (Ed. Asa); Inês de Castro (Meriberica Liber – 1994), provavelmente o seu melhor trabalho. Em 1996 os Cadernos Sobreda BD n.º 11 reeditaram-lhe “Amoni” e “ A Gruta dos três irmãos”. Tem em execução um álbum sobre a figura do Zé do Telhado que aguarda publicação. Grande amigo do salão de Viseu, tem sido presença habitual neste certame que acompanha sempre com renovado interesse.
Obrigado Eugénio.

FABIO CIVITELLI

Fabio Civitelli nasceu a 9 de Abril de 1955 em Lucignano, província de Arezzo, Itália. Desde tenra idade mostrou uma grande aptidão para o desenho e com apenas 19 anos começou a colaborar com o StudiOriga, desenhando diversas personagens para a Edifumetto, com destaque para Lady Dust por ter sido o seu primeiro trabalho no âmbito da BD.
Em 1977, com o pseudónimo Pablo de Almaviva, inicia a sua colaboração com a Editora Universo, desenhando para as revistas Il Monello e L’Intrepido. Dois anos mais tarde, ainda para a Universo, desenha Doctor Salomon nas páginas da revista Blitz, desenhando também o Homem-Aranha e o Quarteto Fantástico para a revista SuperGulp. Nesse mesmo ano, 1979, começa a desenhar Mister No para a Sergio Bonelli Editore, série onde realiza uma mão-cheia de histórias, até que em 1984 é chamado a desenhar Tex, personagem na qual trabalha até hoje com um estilo caracterizado por um grande cuidado nos mínimos detalhes, por um hábil uso do preto e branco e pelo extremo asseio do seu traço, sendo a sua versão de Tex, uma das mais apreciadas pelos leitores, respeitando a tradição, mas sendo ao mesmo tempo, moderna e cativante.

AS EXPOSIÇÕES

As Cidades do Velho Oeste (Tex)

Tex Willer, a mítica personagem de Banda Desenhada criada em 1948, na Itália, pela dupla Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini, é hoje em dia uma das personagens de western, com maior longevidade na história dos quadradinhos a nível mundial, sendo inclusive ainda publicado em diversos países e ao contrário da quase totalidade dos heróis da BD, Tex percorreu, e continua a percorrer, um caminho inverso, seja nos confrontos com o público, seja naqueles com a crítica, facto este que é ainda mais interessante. Com efeito, enquanto as personagens comuns se vão desgastando ao longo dos tempos, com Tex acontece precisamente o contrário. Obrigado devido à sua natureza a navegar entre alvos bem definidos, que são obviamente aqueles das convenções do género western, ele continua a renovar-se interiormente, mas também exteriormente.

Por um lado, a Sergio Bonelli Editore está a nível editorial a proceder desde há alguns anos a uma sistemática actualização dos seus quadros criativos, sem descurar a qualidade, seja a nível de argumentistas, seja de desenhadores, como ficou bem patente na exposição dedicada à nova vaga de desenhadores do Tex, ocorrida em 2007 no Salão de Moura. Por outro lado, a editora italiana tem-se multiplicado nos anos mais recentes na sedução aos leitores, diversificando o produto, isto é, à série canónica dos clássicos volumes mensais a preto e branco acrescentou uma infinidade de outras séries, inclusive a cores, tendo também permitido a produção de outros itens associados à personagem e tem inclusive incentivado e patrocinado um cada vez maior número de exposições, como é exemplo “As Cidade do Tex” patente no XVII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu.

Tex vive as suas aventuras principalmente na segunda metade do século XIX tendo por base de acção a reserva Navajo situada entre o Arizona, o Novo México, o Utah e o Colorado, um território em grande parte desértico que inclui o Monument Valley, parte do Deserto Pintado e parte da Floresta Petrificada, onde o inimigo não é representado apenas pelo homem, mas também pela própria natureza dura e hostil, mas como um verdadeiro herói, Tex está sempre pronto a acorrer em socorro dos amigos, seja sobretudo nas cidades do velho Oeste, que deste modo ainda hoje habitam a nossa imaginação, com as suas peculiares cadeias, barbearias, armazéns, saloons, hotéis, ferreiros, xerifes, pistoleiros e cheias de incríveis perseguições a cavalo e de duelos, seja inclusive nas principais cidades dos Estados Unidos da América como São Francisco, Nova Iorque, Boston, Nova Orleães, Washington, ou até mesmo em cidades canadianas e mexicanas ou ainda em terras mais distantes como a Oceania.

Muitas das cidades onde Tex comparece ao longo da saga, são caracterizadas por uma “main street” (rua principal) delineada por duas filas de construções dispostas paralelamente, única barreira entre o homem e os vastos espaços desabitados que as circundavam e que se tornaram célebres como teatros de duelos sanguinários, encontros mortais e desafios infernais, mas também convém dizer que por norma os fãs de Tex podem se considerar afortunados porque os ambientes citadinos das suas histórias revelam sempre um surpreendente recheio de elementos dramáticos, em grado de oferecer um bom campo de acção a quem, como Tex Willer, tenha a vocação de reparador de injustiças e é impossível não recordar também as histórias de Tex acontecidas em inquietantes e melancólicas “ghost towns”, pequenas cidades “fantasmas”, nascidas nas vizinhanças de minas no decurso de poucos meses e depois entretanto rapidamente abandonadas quando a veia aurífera se esgotava ou se tornava uma trágica ilusão, ou nos pitorescos e misteriosos pueblos, aldeias índias construídas com pedras e tijolos de barro, no flanco de uma montanha, ou ainda nas perigosas e inacessíveis robber towns, inteiramente geridas por bandos de ladrões, assassinos e criminosos de todos os tipos, mas também nas fantásticas e improváveis cidades “esquecidas pelo tempo”, habitadas por comunidades de espanhóis, vikings, egípcios, astecas ou russos.

Cenários esses que podem ser admirados na exposição integrada no XVII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu, intitulada “As Cidades do Tex” e que contará com a presença de um dos mais renomados e admirados desenhadores citadinos de Tex Willer: Fabio Civitelli.

Cenários intemporais – Portugal

Esta exposição é uma homenagem do Gicav a alguns dos nossos grandes desenhadores que procuraram nas suas histórias aos quadradinhos perpetuar imagens e cenários do nosso património edificado, espaços de eleição e memória por onde se passeiam, meditam, viajam, vivem, crescem e morrem os heróis da histórias ou as vidas de insignificância daqueles que nunca alcançam esse estatuto especial mas que imprescindíveis são na construção da narrativa.
Nomes como Eugénio Silva, José Garcês, Luís Diferr, Luis Louro, Vítor Mesquita, José Ruy, José Pires, Filipe Andrade e Filipe Pina, Luis Correia, ilustram esta mostra de cenários de Portugal, muitos deles presença habitual no salão internacional de bd de Viseu.
Destacamos um nome estrangeiro, em jeito de homenagem, que partilhou trabalho com Luis Diferr – Jacques Martin (Portugal – ASA) , recordando a sua obra e a sua recente partida do mundo dos vivos (também dele se destaca a exposição ALIX, baseada num dos seus mais conhecidos heróis).
A todos o Gicav agradece pela qualidade do trabalho desenvolvido em prol da preservação e divulgação do nosso património monumental e artístico espalhado por muitas das nossas belas vilas e cidades. Bem hajam.

Fábula de Veneza

Cenários urbanos, mistérios e segredos

“Acontecem coisas inacreditáveis nesta cidade”, diz Corto Maltese sobre Veneza, tão bela e encantada que gera todas as preguiças, deleites e sortilégios. Um desses sortilégios é possibilitar a existência de lugares mágicos, secretos, portas que se abrem a mundos fantásticos e histórias eternas.
As cidades são espaços de memórias , vivências e cenários que fazem delas especiais, eternas. É o caso de Veneza,  visitada por Corto Maltese na obra “Fábula de Veneza”, e que nesta exposição se pretende revelar em alguns dos seus percursos e ambientes, a partir da obra referida e uma referência no conjunto da obra de Hugo Pratt.

As cidades nas aventuras de Alix

Em Portugal nas páginas da revista Tintin nascia um novo herói da banda desenhada de tema histórico, o jovem Alix. Filho de Astorix, chege de uma tribo gaulesa, e vendido como escravo no Oriente, no meio do caos dos conflitos bélicos entre impérios, seria libertado e adoptado por um senador romano. Doravante, os leitores podiam contar com um herói intrépido, generoso e humanista, num mundo onde a tolerância não abundava. Esse mundo, estranho e fascinante, do qual somos também herdeiros, era o Mundo Antigo na época de Júlio César e do seu rival Pompeu, em pleno século I a.C.
Nas aventuras de Alix, a par de figuras históricas como César e Cleópatra, os leitores convivem com uma galeria de personagens imaginadas pelo autor, entre as quais se destacam o jovem egípcio Enak, fiel companheiro de jornada de Alix ou Arbacés, o aqui-inimigo do herói.

Jacques Martin, o criador de Alix, falecido em 2010, é um dos grandes autores da escola fraco-belga, tendo também sido um dos mais importantes colaboradores de Hergé, pai de Tintin. Após 1991, com a vista gravemente afectada por problemas de saúde, continuou a desenvolver as aventuras de Alix, entre outros projectos, com o apoio de diversos colaboradores. Por vontade do autor, foi garantida a continuidade das aventuras de Alix pela Casterman, com recurso a diversos autores; em Portugal após o contributo das Edições 70 na década de 80 do século passado a edição das histórias de Alix é actualmente assegurada pela Asa.

Fascinado desde tenra idade pela Antiguidade Clássica e apaixonado pela arquitectura, Jacques Martin vai fazer viajar o leitor com Alix através de diferentes culturas, aquém e além fronteiras do poder romano, num mundo onde as cidades são elementos estruturantes da vivência política, social e económica.
Não se poupando a esforços na obtenção da documentação histórica necessária e mestre de traço elegante e da capacidade de encenação, Jacques Martin recria cidades antigas, reais e imaginadas de Roma à longínqua China. Na presente exposição seguimos alguns desses percursos urbanos nas aventuras de Alix, dos telhados dos edifícios às ruas, dos aquedutos ao sistema de esgotos, dos bairros populares às grandes praças monumentais. E a aventura começa precisamente numa cidade.

Tintin – Hergé

Hergé, pseudónimo de George Remi, nasce no dia 22 de Maio de 1907, em Etterbeek (Bélgica). Desde muito cedo revela alguma vocação para o desenho, tendo publicado a sua primeira banda desenhada na revista Le Boy-Scout Belge, intitulada Les Aventures de Totor, C. P., dês Hannetons. Em 1925, concluídos os estudos, começa a trabalhar no jornal diário belga Le Vingtième Siècle, que passará a incluir, a partir de 1 de Novembro de 1928, o suplemento juvenil Le Petit Vingtième, que publica a banda desenhada Les Aventures de Flup, Nénesse, Poussette et Cachonet, desenhada pelo jovem Hergé.

No dia 10 de Janeiro de 1929, no número 11 do Le Petit Vingtième, começa a publicar-se Tintin no País dos Sovietes, a primeira aventura de Tintin e Milou, a que se seguirão outras 22, durante quase meio século. Hergé morre no dia 3 de Março de 1983 deixando incompleto Tintin e a Alpha Arte, o 24º álbum de uma obra que fez sonhar milhões de adolescentes em todo o mundo.

Numa época em que o acesso à informação era limitado, foi com Tintin e os seus inconfundíveis companheiros que começamos a descobrir o mundo. Foi com Tintin que fomos ao Congo e aos Estados Unidos da América, ao Médio Oriente ou à China. Aos Andes, à Escócia e ao Tibete. Foi Tintin que nos levou à Bordúria e à Sildávia, nos balcãs, e à sul-americana República de San Theodoros, que muitos procurámos encontrar nos mapas, sem sucesso.

Inebriado por um desenho eficaz, linear e com cores planas e vivas, ao serviço de argumentos progressivamente mais consistentes, conhecemos Chicago, Port Said, Bombaim, Petra, Xangai, Genéve, Katmandou ou as fictícias Klow e Los Dopicos. E foi com Tintin que fomos à Lua, no início da década de 50, muito antes da viagem pioneira de Neil Amstrong.

Cidades da ambição – Cenários intemporais

Os álbuns seleccionados para esta exposição marcam um período a todos os títulos notável na evolução da cultura e da mentalidade ocidentais: o período da Renascença Italiana (Renascimento). Os séculos XV e XVI tiveram uma influência determinante na construção da ocidentalidade moderna. A Pintura, a Arquitectura, a Escultura, a escrita, a Oratória, as Ciências Experimentais e outras áreas do saber tiveram progressos notáveis, onde se distinguiram alguns dos mais notáveis génios que a História já conheceu. Mas este período é também um tempo de crise nas mentalidades e na moralidade cristã, um período de excessos e cisões no seio do catolicismo, que vieram a resultar no aparecimento das igrejas protestantes. É neste ambiente de coabitação dos exageros de cortes papais arrogantes e imorais com a criatividade artística e literária em efervescência que decorrem os cenários e as histórias apontadas nesta exposição. O traço e a arte estão a cargo de alguns dos maiores nomes da banda desenhada europeia da actualidade: Didier Convard e Gilles Chaillet (VINCI) e Milo Manara/ Jodorowsky (BÓRGIA). Uma homenagem do Gicav a estes criadores de excelência, merecedores de uma Menção Honrosa neste Salão Internacional.

No 2.º Centenário do historiador e escritor Alexandre Herculano

O ano de 2010 chegou ao fim (e até deixou poucas saudades…). Como comemorações de grandes vultos da nossa Cultura, dois nomes: o desenhista Fernando Bento (1.º centenário do seu nascimento) e o historiador e escritor Alexandre Herculano (2.º centenário do seu nascimento). Evocando o primeiro citado, as entidades de BD dos Salões de Moura, Sobreda, Viseu, Amadora e Beja não o esqueceram.

Quanto a Alexandre Herculano, chegou agora a vez de Moura e Viseu relembrarem este gigante da cultura portuguesa, numa exposição em parceria. Alexandre Herculano (aliás, Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo), nasceu em Lisboa a 28 de Março de 1810 e faleceu em Vale de Lobos a 13 de Setembro de 1877. Está sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.

Da grandeza da sua vida e obra não nos compete aqui falar agora, mas apenas da sua conotação à Banda Desenhada, pois vários textos seus foram adaptados à 9.ª Arte, a saber : «A Abóbada», por Fernando Bento, José Batista (Jobat) e Victor Mesquita;  «O Bobo», por José Ruy, editado em álbum pela Editorial Notícias; «A Morte do Lidador», por Eduardo Teixeira Coelho, publicado na revista «O Mosquito». Há também uma versão por José Garcês; «Eurico, o Presbítero», por José Garcês, publicado na revista «Modas & Bordados», na revista «Falcão» e mais tarde reeditado em álbum pela Futura;  «Nuno Gonçalves», por José Antunes, adaptação de «O Castelo de Faria»;  «Alexandre Herculano», uma biografia da autoria de Baptista Mendes, publicada no Jornal do Exército;  «A Dama Pé-de-Cabra», por José Garcês e Augusto Trigo; a versão de Trigo, onde o próprio Herculano aparece como narrador, está incluída no 2.º tomo de «Lendas de Portugal», pela Asa. Existe também uma versão, de José Pires, que se mantém inédita até hoje;  «O Monge de Cister», pelo brasileiro Eduardo Barbosa; publicado em 1954 no n.º 80/ Extra da colecção «Edição Maravilhosa», pela Ebal.; «O Último Combate», por Baptista Mendes, no «Camarada»;  «A Morte do Lidador», numa versão de José Pires, publicada no Tintin belga e que será, em breve, publicada pela primeira vez em português no «Alentejo Popular» e, posteriormente, no «Jornal do Exército». Por fim, e enquanto reuníamos todo o material para esta exposição, tivemos a grata surpresa de sermos contactados por José Ruy que nos enviou algumas pranchas, ainda em esboço, com a biografia (resumida) de Alexandre Herculano. Esta história destinava-se a ser publicada em jeito de preâmbulo na edição de «O Bobo» mas assim não aconteceu e este trabalho, até hoje, continua por concluir.

As Cidades dos sonhos (em redor das obras de Schuiten e Peteers)

“A capacidade da Arquitectura construir Cidade é incontornável, e por isso mesmo não deve ser negligenciada: “ (…) forma e espaço estão tão intimamente ligados que uma é negativo do outro, e vice-versa, pelo que não podem separar-se, assim as formas visualmente apreendidas mantêm entre si estreitas relações – harmónicas ou desarmónicas – mas de qualquer modo evidentes.” A forma de cada edifício produz, inevitavelmente, repercussões físicas no espaço onde se insere: a massa e o volume concretizam, configuram e condicionam espaço, enquanto a Imagem apenas o caracteriza.”
Assim inicia a Dra. Inês do Carmo Borges o seu artigo “As arquitecturas setecentistas de Piranesi e a das  Cidades Obscuras da BD de Scuiten do século XX – um elo artístico no trajecto do risco urbano”, na Revista Cultura entre Culturas, onde magistralmente aproxima a obra La Tour (As cidades Obscuras – Schuiten e Peteers) da obra do arquitecto setecentista Giovanni Piranesi.

“Os binómios Arquitectura/Cidade e Forma/Imagem que Schuiten apresenta na BD do século XX, com a série As Cidades Obscuras, e concretamente com o álbum “A Torre”, evidencia a Excepção numa crítica à Cidade Moderna, e num processo de colagem de fragmentos sobreviventes de Piranesi. Há uma desmaterialização volumétrica da parte do edifício, e uma imperceptibilidade das suas infra-estruturas, nestes autores relativo às obras citadas. O efeito cenográfico decorrente da estética da Estampa (setecentista) /imagética da BD (contemporânea) é concretizado numa mestria no controle do traço, e do efeito Luz/Sombra. De facto, o seu contributo faz-se pela excepção enquanto ruptura. Schuiten defende em “A Torre” uma Cidade Obscura que não rompe com a História nem com a Cultura, pretendendo assim uma obra que seja referencial, contextual. Os elementos dissonantes e por isso de Excepção de Piranesi tornam-se referências formais reconhecíveis no imaginário da Cidade, que os perdurará numa permanência de “estruturas da memória”.”

Schuiten e Peteer

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“O ilustrador de Banda Desenhada, François Schuiten nasceu em Bruxelas, Bélgica em 13 de Abril de 1956, no seio duma família de arquitectos, área em que nunca fez estudos. Trabalha desde 1980, com Benoit Peeters na série As Cidades Obscuras, um dos melhores modelos das cidades/ficção da BD. Estes álbuns foram traduzidos numa dezena de línguas europeias e ganharam vários prémios, constituindo-se na sua obra mais conhecida.

Esta série ficcionada decorre num universo paralelo ao nosso onde os protagonistas são quase sempre Cidades com características peculiares: Samaris, Alaxis, Calvani, Brüsel, Urbicande, Mylos, Galatograd, Xhystos, Pâhry, Blosssfeldtstad. Delas foi elaborado um guia turístico: “Le Guide des Cites” pelos geógrafos de Pâhry onde aparecem os espaços existentes no Continente Obscuro; um jornal, “L`Écho des Cites”; um site de Urbicanda na Internet, www.urbicande.be e diversas exposições. Autor de trabalhos de cenografia concebeu o pavilhão das Utopias na Exposição Universal de Hanôver, em 2000 bem como o pavilhão belga na Exposição de Aïchi, no Japão em 2005, com o pintor Alexandre Obolensky. Em 2002 foi distinguido com o Grande Prémio de Angoulême pelo conjunto da sua obra, no decorrer do 29.º Festival de Banda Desenhada que decorreu em França. “

“O processo de concepção desta obra de Benoit Peeters e François Schuiten onde a Cidade é compreendida pelo binómio beleza etrusco-itálica / arquitectura romana Piranesica, enquanto realidade intrínseca e incontornável, assume-se como um processo projectual de servir o Homem contemporâneo na sua dimensão artística. (…) Somos colocados perante as questões da posição do observador face à obra de arte, num contextualismo integrado que não repete a Cidade Tradicional.

(…) A distância temporal desta referência comprova-nos que possui uma capacidade de permanência e sucesso, demonstrando-nos que pode persistir no tempo, desde que aliado a significados e valores mais profundos que a sua própria Imagem. Estamos assim perante uma abordagem de edifício Ícone, mas que ultrapassa a questão da construção de uma Imagem de BD contemporânea forte e efémera, dada a continuidade com as Estruturas da Memória. A Excepção integrada do edifício nas Cidades Obscuras permite-nos compreender o diferente modo de com ele construir Cidade.”
Esta exposição surge como singela homenagem a esta obra magistral no panorama da nova banda desenhada europeia.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

5 Comentários

  1. Excelente matéria, para motivar ainda mais a presença em Viseu. Lá estarei, dias 10 e 11 de Setembro!

  2. Muito boa matéria, e muito interessante o tema escolhido. Na parte texiana excelente escolha: mestre Civitelli um dos mais competentes na área urbana (e não só). Os pards portugueses vão ter um evento grandioso.

  3. Muito bom este texto, lá estarei para apreciar tudo em direto e ao vivo, dias 10 e 11.

  4. Muito elegante a exposição, pois o que me chamou a atenção foi a cidade da ambição, cenários intemporais, por retratar a o fato histórico do surgimento das igrejas protestantes, e,ainda as imagens mostradas!!! É bem imoral mesmo…!!!!
    Não estarei lá na exposição, mas desde o Brasil desejo sucesso…

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