VENTOS DE MUDANÇA

Por Sérgio Madeira Sousa[1]

Fabio Civitelli em MouraPara quem se deslocou a Moura, ao festival da BD realizado em Maio último, facilmente se apercebeu que a grande estrela do festival, foi sem dúvida Tex Willer, personagem da BD italiana, também conhecida por fumetti, criada no já longínquo ano de 1948, por GianLuigi Bonelli e Aurelio Galleppini.
A parte dedicada a este herói da BD, ocupava cerca de metade da área de toda a exposição e estava claramente dividida em três secções:
Tex de Civitelli; exposição de várias pranchas deste grande desenhador italiano, para muitos leitores considerado um dos melhores desenhadores do Ranger.
Colecção de José Carlos FranciscoTex de José Carlos Francisco; exposição de parte da colecção deste coleccionador, colecção de todo o tipo de artigos dedicados a esta personagem, que engloba essencialmente livros e revistas de praticamente todos os países onde é, ou foi publicado. Colecção absolutamente fantástica, que desperta nos coleccionadores de BD um misto algo contraditório de sentimentos:
Admiração – Qualquer coleccionador pretende adquirir o máximo de artigos do que colecciona e se possível completar a sua colecção. O José tem sem dúvida, uma colecção digna de ser alvo de admiração, de tão espantosa que é.
Frustração – Por muita dedicação e esforço que empenhemos para conseguirmos uma colecção deste calibre, é quase impossível igualá-la, uma vez que o seu proprietário não pára de acumular artigos que a engrandecem a cada dia que passa. Parabéns José Carlos, pela colecção, pelo esforço, pela dedicação e por tudo o que tem feito em prol desta personagem que tanto admiramos.
Exposição dos novos desenhadores de TexOs novos desenhadores de Tex; exposição de pranchas ainda por publicar, dos quinze novos desenhadores de Tex. Nesta parte estavam expostas pranchas de cada um dos novos elementos, que começarão a abrilhantar as páginas das várias revistas dedicadas à personagem.

Quando soube desta entrada massiva de desenhadores para o staff de Tex, fiquei intrigado. Porquê?
Não pela entrada de novos artistas do pincel, mas sim pelo seu exagerado número. Quais serão os motivos que levarão Sergio Bonelli a tomar esta opção? Nunca colocando a opção em causa, apenas pretendo perceber os motivos.
Sergio Bonelli (Guido Nolitta)Nolitta já provou ao longo de todos estes anos de vida editorial, que é um excelente editor, apesar de ser sem sombra de dúvida, melhor a escrever histórias de BD. É pena não existir outra Tea Bonelli, para que à semelhança do que aconteceu com o seu pai, se dedicasse exclusivamente aos argumentos e roteiros de BD, onde é inigualável.
Apesar de ter escrito muito poucas histórias de Tex, em comparação com o seu pai ou com Claudio Nizzi, consegue colocar muitas delas na selecção de melhores histórias de qualquer leitor. Recomendo a leitura ou releitura de: Missão em Great Falls (Tex 131-134)[2]; O Solitário do Oeste (Tex 163-165)[2]; A Patrulha Perdida (Tex 177-179)[2]; A Grande Ameaça (Tex 182-183)[2] e O Assassino Sem Rosto (Tex 193-195)[2], só para mencionar algumas.

Zagor e Chico por Mauro LaurentiEm Zagor, explorou como nenhum outro a personagem Chico, ao ponto deste rivalizar com o protagonista da série e devido à popularidade adquirida ter ganho inclusive uma revista própria. Com Nolitta, as histórias são muito movimentadas, repletas de acção e aventura, sem nunca descurar outros ingredientes como o humor.
Como já referi, Nolitta dava grande importância ao Chico, ao ponto de inserir pequenas histórias, que por vezes não tinham qualquer ligação à trama principal e que ocupavam quarenta ou cinquenta hilariantes páginas.
Para os leitores mais recentes de Zagor, que não conseguem perceber o porquê de Chico ter tantos admiradores, sugiro que leiam a colecção Zagor publicada pela RGE e Globo. Ao todo são 38 revistas, com excepção da nº1 (escrita por Tiziano Sclavi), e dos números 27, 28 e 29 (Alfredo Castelli), todas são escritas por Nolitta. Esta colecção apresenta várias histórias que marcaram a vida da personagem, como as primeiras aparições do SuperMike, Kandrax e Winter Snake. Aparecem também histórias com o Helligen e o Vampiro, além de estarem presentes quase todos os amigos de Zagor, enfim, uma colecção “curta”, mas muito atractiva em termos de conteúdo.
Outra das características que muito aprecio nas histórias de Nolitta, é a carga de suspense que consegue introduzir nas suas histórias, existe suspense até ao desenlace final, o que Nizzi muito raramente consegue, nas muitíssimas histórias que já escreveu para Tex.

Voltando ao assunto que me levou a escrever: Porquê quinze novos desenhadores para Tex?
Se acrescentarmos a entrada de Mario Milano nos finais de 2006, somam dezasseis novas entradas, o que significa uma autêntica revolução na personagem italiana. Podemos então concluir sem margem para erros, que Tex está para entrar numa nova fase, em meu entendimento, na 5ª fase da sua história.

1ª Fase – De Setembro de 1948 a Junho de 1966
GalepAs histórias eram escritas por G.L. Bonelli e desenhadas quase em exclusivo por Galep. Devido ao enorme sucesso da série, o que levou ao aumento do número de páginas publicadas mensalmente, Galep começou a ser auxiliado por outros desenhadores, (Virgilio Muzzi, Francesco Gamba, Guido Zamperoni, Lino Jeva e Mario Uggeri), que se limitavam a desenhar algumas pranchas por história. Pranchas essas, que por vezes eram retocadas ou arte finalizadas pelo mestre Galep.

2ª Fase – De Junho de 1966 a Janeiro de 1976
O que marca o início desta fase, é a primeira história totalmente desenhada por outro desenhador que não Galep. Em Junho de 1966, o Tex italiano nº 68, marca a estreia de Guglielmo Letteri como desenhador oficial da saga. A partir desse numero, Galep começou a alternar com outro desenhador a responsabilidade dos desenhos em histórias completas, alternando assim o trabalho, primeiro com Letteri, que a seguir a Galep é o desenhador que mais histórias têm desenhadas do Ranger e mais tarde com Erio Nicolò, Giovanni Ticci, Ferdinando Fusco e também Muzzi, que teve finalmente a oportunidade de desenhar histórias completas e não pranchas, como tinha acontecido na fase anterior. Fase de boa qualidade, quer a nível de desenhos quer de argumentos, que continuavam a ser alvos da genialidade do criador, GL Bonelli. Fase onde foram criadas algumas das melhores histórias de Tex, saliento as seguintes histórias publicadas na edição brasileira:
Entre Duas BandeirasForte Defiance (Tex 42-45), Entre Duas Bandeiras (Tex 53-55), A Cruz Trágica (Tex 50-52) e A grande Intriga (Tex 107-110), entre muitas outras histórias igualmente dignas de registo. Quanto a esta última, que a editora Mythos se prepara para publicar na próxima edição de Tex Edição Histórica, vai tornar-se um “marco” histórico para esta colecção e para a editora, se a publicar completa numa única edição. Uma das premissas de Tex Ed. Histórica, era publicar todas as histórias por ordem cronológica, o que rapidamente foi alterado devido à grande disparidade de páginas que cada história comporta, assim, agrupam-se pequenas histórias para que a revista tenha sempre um número elevado de páginas. A colecção também previa publicar unicamente histórias completas, o que foi conseguido até hoje. Mas então o que fazer a uma história que ultrapassa as quinhentas páginas? Apenas a editora Record teve a coragem de publicar uma revista de BD com esta dimensão, (Zagor Nº6, O Raio da Morte), mesmo assim esta história “só” tinha 436 páginas, ainda muito distante das quinhentas agora exigidas. Espero que a Mythos tenha essa coragem e resista à tentação de publicá-la em 2 partes. Se não o fizer, nas próximas histórias colocará sempre essa hipótese, acabando por banalizar esse facto e a colecção.

3ª Fase – De Janeiro de 1976 a Julho 1983
Caccia all'uomoO Tex italiano nº183 apresenta a 1ª história de Guido Nolitta, essa história à semelhança da 1ª de Letteri também marca a entrada de uma nova fase. As histórias passam a ser escritas por pai e filho, com maior intensidade pelo criador. Fase muito semelhante à anterior, o nível das histórias é extremamente elevado, o naipe de desenhadores que se manteve da fase anterior era excelente e foi reforçado por Vincenzo Monti em 1982, já no final desta fase. Devido ao cunho muito pessoal e característico de cada um deles, qualquer leitor de Tex, folheava a revista em qualquer ponto e identificava automaticamente o desenhador. Apesar de não ser grande apreciador da arte de Fusco, talvez por ser um desenho muito detalhado que não brilha no formato em que é publicado no Brasil, (a prancha original têm um formato superior a A4, sendo muito reduzido para publicação), considero que a 2ª e 3ª fases são as melhores fases de Tex, G.L. Bonelli estava no auge das suas potencialidades de escritor e Nolitta engrandeceu esta fase com algumas das melhores histórias como já mencionei. Além das histórias escritas por Nolitta que já referi, destaco ainda as escritas por GL Bonelli: Trapper (121-124)[2], A Águia e o Relâmpago (136-138)[2] e Jogo Aberto (147-149)[2]
Recomendo aos leitores mais jovens a leitura destas duas fases; podem acompanhar as histórias em Tex colecção, (a partir do nº 96), ou Tex Edição Histórica, (a partir do nº 36).

4ª Fase – De Julho 1983 a Fevereiro a de 2007
Claudio NizziA entrada de Nizzi em Julho de 1983 faz com que se abra uma nova e incaracterística fase da personagem, muitos não concordarão comigo e provavelmente fariam subdivisões desta fase, no entanto, apesar de se terem passado muitos acontecimentos importantes ligados a Tex e aos seus criadores, não considero nenhum facto marcante que justifique essa mesma divisão, senão vejamos: GL Bonelli escreveu a sua última história em 1991, (Tex 364)[3] , tinham entrado para a série os seguintes desenhadores: Fabio Civitelli em 1985, Jesus Blasco e Claudio Villa em 1986, Rafaelle della Monica e Alberto Giolitti em 1989 e Raffaele Carlo Marcello no ano de 1991. Estas entradas como podem observar foram espaçadas no tempo, como tal, não provocaram nenhuma instabilidade. O próprio abandono de um dos criadores, foi feito de uma forma gradual, Bonelli escreve esta história para se despedir oficialmente de Tex, uma vez que ele já não escrevia nenhuma história desde 1989, (Tex 340)[3] e o principal responsável pelos argumentos já era o Claudio Nizzi, que nos primeiros anos seguia de uma forma metódica, a fórmula de Bonelli na elaboração das histórias.

Homenagem de Ticci a Galep O Falecimento de Galep em 1994. É verdade que o Ranger ficou “órfão” de pais a partir do Tex nº 401[3], no entanto, Galep apesar de ainda ter um belíssimo traço, como ficou provado em Tex nº 400[3], meses antes da sua morte, já desenhava muito poucas histórias, (a anterior, Tex 377[3], quase dois anos antes); Pelo que a sua ausência na série só foi mais notada, porque todas as capas tinham sido de sua autoria até essa data.
Entre 1991 e 1994 entraram os seguintes desenhadores: Victor de la Fuente em 1992 e José Ortiz em 1993.

A primeira história escrita por Boselli, Tex 407[3] em Setembro de 1994, para mim não marca o início de uma nova era, apesar de a partir desta história, os argumentos da série principal terem passado a ser escritos quase exclusivamente pela dupla Boselli/Nizzi. Não podemos esquecer que além de Boselli, tanto Michele Medda como Decio Canzio, foram testados como alternativa a Nizzi, tendo a opção recaído sobre Boselli. Mais um desenhador que entrou para o “staff”, após passar o teste no Texone, foi ele Aldo Capitanio em 1995. Andrea Venturi por sua vez, aparece pela primeira vez em 1996, no Almanacco del West desse ano.

Em 1997, na colecção MaxiTex surge um novo argumentista; Antonio Segura, que apesar de só ter visto publicadas as suas histórias nesta colecção, veio juntar-se à dupla oficial de escritores de Tex.

Tex de Joe Kubert Entre 1997 e 2007 muitos outros artistas da 9ª arte juntaram-se à prestigiada personagem, artistas como Alfonso Font em 1998, Miguel Angel Repetto em 1999, Bruno Brindisi em 2002, Manfred Sommer, Roberto Diso, Raul e Gianluca Cestaro em 2003 e Mario Milano no ano de 2006. Só me referi àqueles que constituem a equipe oficial, muitos outros tiveram participação, principalmente na colecção Texone, artistas do pincel como: Joe Kubert, Ivo Milazzo, Magnus ou Colin Wilson, ou ainda outros que participaram em Almanacco del West: Caleggari e Gattia nos desenhos e Pasqualle Ruju no texto.

Como podem Observar, foi uma fase muito longa e incaracterística como já referi, aos muitos desenhadores já mencionados temos de acrescentar aqueles que transitaram da fase anterior e que se mantêm até aos dias de hoje, casos de Ticci e Fusco, e também os já falecidos, Nicolò e Lettèri.
Argumentistas também foram vários, GL Bonelli, Claudio Nizzi, Decio Canzio, Guido Nolitta, Mauro Boselli e Michele Medda.

5ª Fase – De Fevereiro a de 2007 a ….
Senão fosse a confirmação oficial da editora, da massiva entrada de novos desenhadores, que praticamente coincide com a entrada de um novo argumentista: Tito Faraci, não poderíamos concluir que se estava a iniciar uma nova fase. Isto porque além dos trabalhos dos novos elementos, há que publicar também, de uma forma intercalada, os trabalhos de todos os outros desenhadores, assim, até se publicar um único trabalho de cada um deles, vão se passar anos, no mínimo três, pelo que a entrada dos novos elementos confundir-se-ia com uma entrada a “conta gotas”, o que estaria muito longe da realidade.

Voltamos à questão: Porquê quinze novos desenhadores para Tex?
Apenas podemos especular, eu como leitor interessado tenho as minhas ideias baseadas nas notícias que vou lendo sobre o assunto, ideias que passo a expor:
Arte de Giovanni Ticci Grande parte dos actuais desenhadores de Tex possui idade avançada, pelo que é de prever, num futuro muito próximo, alguns deles sejam afectados por problemas de saúde, problemas que os impeçam de exercer a sua actividade profissional. Estou a referir-me nomeadamente a: Fusco, Ortiz, Repetto, Marcello e Sommer, todos eles já ultrapassaram os setenta e três anos de idade, mas também a Ticci e a Font, que já ultrapassaram os sessenta.

A editora Bonelli possui um número muito elevado de colaboradores, colaboradores de elevada qualidade dos quais Nolitta não quererá prescindir, mesmo em situação de redução de publicações. Assim, “recruta-os” para o “staff” de Tex, reduz o número de trabalhos a cada um deles e torna possível a sua manutenção nos quadros da empresa, mostrando mais uma vez que além de óptimo gestor, também é um ser humano que muito se preocupa com os seus colaboradores.

O Texone sempre foi um problema “bicudo”, a tarefa de encontrar um desenhador de créditos firmados a nível internacional, que estivesse disposto a desenhar mais de 200 páginas, sempre foi muito difícil desde o início.
Parece-me que Nolitta, sem desvirtuar o teor da colecção, resolveu este problema por vários anos, alguns destes novos elementos, desenharão um Texone e posteriormente passarão então ao Tex normal; Brilhante!

Em vez de seleccionar 4 ou 5 desenhadores que porventura necessitaria nesta fase, coloca os 15 a desenhar algumas histórias e a selecção será posteriormente efectuada pelos leitores, reduzindo assim as hipóteses de errar na escolha e passando essa responsabilidade, àqueles para os quais a revista é publicada.

Publicação de uma nova revista ou a redução da periodicidade do Almanaco ou do MaxiTex.

Quanto aos novos desenhadores, cujas pranchas tive oportunidade de apreciar em Moura e correndo o risco de errar nas minhas apreciações, uma vez que não se pode ajuizar o trabalho de cada um deles, apenas pela visualização de 2 pranchas; Sabendo no entanto que, não existe uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão, passo a referir apenas aqueles que mais me impressionaram:

Pranghas de Marco Torricelli expostas no MouraBD2007– Positivamente: Marco Torricelli, fantástico! Soberbo! Em minha opinião o melhor de todos. Se conseguir cumprir os prazos, mantendo a qualidade evidenciada nas 2 pranchas expostas, tem tudo para se tornar um dos melhores desenhadores de Tex de todos os tempos. Espero que a sua entrada se faça através de um Texone, pois seria lamentável não termos um Texone desenhado por este artista, o que provavelmente irá acontecer se entrar directamente para o Tex mensal. Já basta não existir um Texone desenhado por Gallieno Ferri, para mim a grande falha de Sergio Bonelli como editor, Ferri merecia sem dúvida este prémio por todo o seu trabalho ao longo de quase cinquenta anos de dedicação à SBE, assim como Tex.

Pranghas de Bianchini & Santucci expostas no MouraBD2007Giacomo Danubio e Bianchini & Santucci, desenhos de grande qualidade, muito límpidos e detalhados à semelhança de Civitelli. O cenário está quase sempre presente, mesmo nos grandes planos, o que valoriza muitíssimo a qualidade do desenho – localizar o local da acção em todos os quadros.

Lucio Filippuci, apenas não aprecio muito a forma como desenha Tex nos grandes planos.

Alessandro Piccinelli, muito bom trabalho à semelhança dos já mencionados, no entanto, a quase ausência de cenários em grandes planos, desvaloriza muito a qualidade do mesmo como já referi, ainda mais se nota se a história abusar desta perspectiva, não sei se este artificio é utilizado pelos desenhadores para poderem cumprir os prazos ou simplesmente porque é mais cómodo. Melhorará substancialmente se as histórias não forem apresentadas sobre esta perspectiva. Tenho óptimas expectativas para este desenhador.

Pranghas de Orestes Suarez expostas no MouraBD2007Negativamente: Orestes Suarez e Corrado Mastantuono, desenhos demasiado “sujos” e de traço muito pouco preciso, enfim, a arte destes dois artistas não me impressionou, nem sequer gostei da versão do protagonista apresentada por eles, a de Suarez então, parece um energúmeno, um autentico “brutamontes”.

Quanto aos restantes, espero observar novos trabalhos para que possa ter uma opinião mais formada, as 2 duas pranchas observadas não foram suficientes.

Acredito que foi a conjugação de alguns pontos referidos que levaram o editor a provocar esta revolução em Tex; espero que esta fase não seja muito longa, (não ultrapasse 4 ou 5 anos) e estabilize num número mais restrito de desenhadores, com excepção dos convidados para o Texone obviamente.

Apesar de novos desenhadores poder significar novos leitores, leitores que acompanham o trabalho do desenhador independentemente da personagem, o inverso também é possível, com um número tão elevado de desenhadores, vão passar-se vários anos até vermos publicados os trabalhos daqueles que preferirmos. Este facto pode levar muitas pessoas a afastarem-se da série, assim como, o facto de Tex ter um numero tão elevado de rostos o fazer perder a sua identidade e muito provavelmente, também leitores.

E se eu estiver errado? E se a principal razão não for nenhuma das já mencionadas? Será que Bonelli está realmente preocupado com o Tex como aparenta à primeira vista? Sergio completa este ano 75 anos! É natural que comece a pensar na sua reforma e como a SBE irá funcionar após o seu afastamento. Será este o verdadeiro motivo? Preparar a sua saída a curto/médio prazo, garantindo desde já a viabilidade da empresa com esta reestruturação de pessoal?

O tempo se encarregará de responder, no entanto, seja qual for a resposta, espero que estas medidas garantam a continuidade da SBE por muitos e longos anos, para satisfação de todos os leitores de BD em geral e dos fumetti em particular.


[1] Coleccionador de Tex desde 1980.
[2] Tex – Edição Brasileira
[3] Tex – Edição Italiana

Fontes:
http://www.texbr.com/
https://texwillerblog.com/
http://www.sergiobonellieditore.it/
(Para aproveitar a extensão completa das fotos e desenhos acima,clique nas mesmas)

7 Comentários

  1. Excelente artigo, muito bem documentado, e que apesar da sua extensão se lê num ápice e com verdadeiro interesse, dada a clara exposição de argumentos e de factos antológicos (para quem, como eu, queira saber mais sobre o historial e as proezas do TEX)!

  2. Muito boa análise.
    Revela muito conhecimento e carinho por Tex e pelos bastidores editoriais.
    Pessoalmente concordo quanto ao aspecto negativo da existência de uma tão vasta equipa de desenhadores. Não conheço trabalhos de muitos dos mencionados, mas independentemente da qualidade que possam ter, pode de facto não ser um acrescento de qualidade sob ponto de vista de identidade, que tende a diluir-se nas suas incaracterísticas.
    Da anterior vaga de artistas, os meus preferidos são o Lettéri e o Ticci, especialmente do primeiro, com um traço solto e realista, mas infelizmente já desaparecido.

    Independentemente do estilo gráfico, penso que pelo menos os traços fisionómicos deviam ser uma característica imposta para bem dessa consistência na relação com os leitores, pois se por um lado há que veja uma mais valia nessa pluralidade de estilos, pelo contrário, há quem não goste.
    Neste sentido penso que o ideal seria uma equipa o mais reduzida possível e homogénea no traço.

    Américo Almeida

  3. Amigos,

    Li aqui no blog de Tex o que escreveu o leitor português Sergio Madeira Sousa, neste belíssimo texto e creio que ele merece conhecer minha opinião sobre o assunto em pauta.

    Acho adorável a simplicidade do leitor que quer ver sua revista favorita sempre maior, melhor, com mais páginas, mais barata e que só esteja na banca quando ele tem dinheiro para comprá-la. É natural pensar e desejar que seja assim, pois sempre almejamos um mundo perfeito, à nossa idéia, imagem e semelhança.

    Até o editor pensa assim, num primeiro momento, desejando que o leitor o acompanhe em suas “loucuras” editoriais e compre tudo o que ele publicar, a qualquer preço e sem restrições.

    Mas a realidade não é essa. Ao mesmo tempo que o leitor deseja muitas coisas, e até “exija” que o editor o satisfaça, ele é o primeiro a abandonar o editor se achar o preço da revista exorbitante ou aquém de suas posses.

    Publicar a história A Grande Intriga em uma única edição de 512 páginas seria a coisa mais natural a fazer. Mas o editor tem a obrigação de pensar no que é melhor para seu público, para a revista, para sua empresa e tomar decisões equilibradas.

    Como editor eu vejo três boas razões para não publicar essa história de uma única vez. A lombada teria 2,5 cm de altura e seria difícil para a gráfica colar tantas páginas juntas. Muitas páginas poderiam se soltar durante o manuseio da revista pelo leitor. Além disso, acho desconfortável ler uma revista muito grossa; ela não se abre direito e dificulta ver o que tem perto da lombada. Outro fator importante é o preço: essa revista custaria quase R$ 30,00, o que a colocaria fora do alcance de uma parte considerável de nossos leitores.

    Por essas razões peço encarecidamente a compreensão de nossos queridos leitores – parceiros da Mythos e razão de nossa existência -, mas essa história terá que ser publicada em duas edições – Tex Edição Histórica nr. 73 e 74 – cada uma com uma linda capa inédita de Claudio Villa e interessantes matérias de Júlio Schneider. Cada uma terá 256 páginas, ficando assim mais acessível ao bolso de nosso público, mais fácil de manusear e mais gostosa de ler.

    Um abraço a todos,

    Dorival Vitor Lopes
    Editor de Tex

  4. Dorival,

    Achei extremamente sensata sua reposta, como não poderia deixar de ser, visto que a Mythos, na minha modesta opinião é a editora brasileira que melhor tratou a linha Bonelli até hoje. Minha única critica é, e sempre será, ao famigerado formatinho, que, a partir de uma certa época, passou a padronizar as edições de HQ brasileiras. Ainda bem que a Panini e a Pixel estão começando a mudar este cenário com formatos mais gostosos de ler.

    A Record tinha uma grande vantagem na época, pois editava no formato Bonelliano e, pelo menos no inicio, sempre publicou as revistas sem o tão lamentável e triste: “Continua”… Mas, embora tivesse a vantagem de um parque gráfico próprio, a qualidade da impressão não era boa e o letreamento e balões deixavam muito a desejar. Mesmo tenho guardado tudo que eles editaram de Bonelli com muito carinho, pois como disse antes,julgo ser aquele formato o ideal. Além dos personegens, é claro.

    Sou um leitor 99,9% da Mythos, pois tenho tudo que saiu até agora de Julia, Mágico Vento, Nick Raider, Martin Mystère, Mister No, Zagor, Zagor Extra, Zagor Especial, Docteur Mystère, Jeremiah, Wil Bill Está Morto, Tex e os Aventureiros, Tex (edição regular), Tex Ouro, Tex de Férias, Tex Grandes Clássicos e Almanaque Tex. Vou começar agora a comprar o que já saiu de Tex Edição Histórica e Tex Coleção, pois eu não colecionava estas revistas.

    Como leitor de quase 100% do que a Mythos edita ou editou, gostaria de fazer tres sugestões:

    1 – A Volta de Tex e os Aventureiros, no mesmo formato, mas sendo que a história principal (e maior) fosse sempre do Tex, se possivel um grande clássico ou uma inédita, complementando a revista com várias histórias curtas dos outros personagens Bonelli. Ou que um outro personagem Bonelli, que não tenha revista própria atualmente no Brasil, complementasse a revista a cada edição, em sistema de rodizio. Assim teriamos a garantia que os leitores de Tex seriam atraídos para a nova publicação e também os fãs que estão órfãos dos outros personagens.

    2 – Que o Tex Coleção deixe de ter aquela capa plastificada e passe a ter a capa igual ao Tex mensal. Ou que se engrosse o papel da capa, pois atualmente, com o manuseio a capa fica desde o primeiro momento com as pontas levantadas e rapidamente faz aparecem as orelhas.

    3 – Que nas edições com maior número de páginas a margem junto a cola da lombada seja maior do que é atualmente, pois como ela é colada muito rente dificulta a leitura. A abertura forçada da revista para ler o texto junto à margem interna acaba fazendo a cola quebrar. Acho que poderia aumentar um pouco a margem interna e diminuir a externa, visando contornar este problema.

    Desejo ao amigo muito sucesso, e que a Mythos não pare de nos surpreender, positivamente, nos próximos cem anos.

    Grande abraço

    José Manoel Alvarez
    Rio de Janeiro/Brasil

  5. Mais um excelente e prazeroso artigo do pard Sérgio Sousa (que espero contribua com novos artigos no futuro), com ideias muito claras e bem fundamentadas provando que sabe e muito do nosso Tex!

    Ah, antes que me esqueça, agradeço as palavras referentes à minha colecção, parte dela, exposta em Moura, como o Sérgio escreveu 😉

    Sobre o assunto principal do texto, bem, acredito que estes 15 novos desenhadores (e além do Mario Milano, não nos esqueçamos por exemplo dos fantásticos irmãos Cestaro, ou seja, efectivamente são mais de 15 num curto espaço de tempo)entraram para o staff do Tex, alguns a título especial (somente uma história, seja Texone ou Almanacco) outros efectivos, porque os desenhadores na actualidade têm uma produção cada vez menor, e há muitos desenhadores que não fazem sequer 10 páginas por mês (por diversos motivos, inclusive porque cada vez mais muitos optam por um desenho muito detalhado, como é o caso por exemplo do Civitelli)… por mais incrível que pareça e há casos até de 5 páginas… e os desenhadores de maior produção no passado estão saindo do staff por causa da idade avançada ou até por falecimento e até o Claudio Villa está há bastante tempo sem desenhar páginas da sua história, porque está produzindo uma média de 8 capas por mês, ou seja se não entrassem reforços para o “time”, poderia haver algum colapso e em determinado mês não haver uma história pronta… mas claro que há outros factores, mas aí só o Sergio Bonelli para responder… embora o Sérgio Sousa muito inteligentemente focou alguns…

  6. O autor deste belo texto, o Sérgio Madeira de Sousa vai ter decerto uma surpresa agradável ao ler o Tex 454 e mais não digo por agora 😉

  7. Prezado(a)s:

    O Souza tocou em algo que é simbólico: a questão da identidade (visual) de Tex.

    Quem, como eu, começou a ler Tex na década de 80 – e, por isso, teve acesso – de imediato – às primeiras (e principais) histórias (produzidas na decádas de 50/60)formulou em seu imaginário uma “imagem identitária” de Tex (e de seus parceiros).

    Assim, é normal que os leitores mais antigos – e exatamente por isso mais conservadores (no sentido de querer conservar aquilo que “estava lá no princípio”) resistem aos desenhistas cujo traços escapam daquela imagem inicial. O desenhista até pode ser bom, mas suas características (de traço) personalíssimas não se moldam à identidade visual de Tex (dada pelo imortal e genial Galep).

    Por isso é necessário que os gestores de Tex tentem, dentro do possível, buscar profissionais que tenham aptidões artisticas capazes de manter a identidade visual do “ranger”.

    Isso é necessário porque o segredo do sucesso de Tex é “mudar conservando”, alterar o periférico para manter o o assencial. E a imagem identitária de Tex é a sua “alma”.

    Uma abarço, Charles Leonel Bakalarczyk (São Luiz Gonzaga, Missões, RS)

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