Tex Série Normal: Os Invencíveis

Capa Tex 350Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Carlo Raffaele Marcello e capa de Claudio Villa. Com o título original Gli Invincibili, a história foi publicada em Itália nos nº 438 a 440 e no Brasil pela Editora Globo e pela Mythos Editora nos nº 350 a 353.

Um grupo de irlandeses, soldados sulistas durante a Guerra da Secessão, anda a realizar assaltos no Texas e no México. Antigos revolucionários do IRA (Exército Republicano Irlandês), praticam os assaltos com o objectivo de financiar a causa pela independência da Irlanda. Tex é chamado para descobrir o paradeiro deste grupo e tentar alcançar um acordo, tendo como objectivo o seu regresso aos EUA, reabilitando-os dos crimes que cometeram. O ranger conhece alguns dos irlandeses e vai tentar a via legal e pessoal para os convencer a regressar.

Capa Tex 351O que existe em comum entre o IRA, o Imperador Maximiliano de Áustria ou o Presidente Juarez do México? Uma louca e épica aventura texiana que junta os quatro pards por terras mexicanas. Boselli revive todos os mitos e elementos texianos, tal como Bonelli os soube sempre construir. Elementos históricos, um passado carregado de simbolismo, amizade, lealdade, espionagem, caça ao tesouro, acção, e um Tex como nós nos habituámos a gostar.

O elemento histórico está bem patente com o recurso à luta pela independência irlandesa como fio condutor de todo o argumento, uma espécie de leitmotiv agregador da trama, tendo como pano de fundo um México caracterizado pela luta pelo poder entre o Imperador Maximiliano e o Presidente Juarez.

Capa Tex 352Boselli revive ainda um certo passado de Tex, mergulhando o leitor em plena época onde o ranger actual não passava de um fora-da-lei que até teve necessidade de atravessar a fronteira com o México para não cair nas garras da justiça.

Depois, existe uma amizade latente entre Tex e alguns elementos do bando, nomeadamente com Hutch, que de certo modo vai permitir com que Tex acompanhe o grupo na caça ao tesouro, porque o ranger acredita poder convencer os irlandeses de que a melhor maneira de servir uma revolução e os seus ideais é estar do lado da lei. Boselli transmite aqui uma certa ideia de romantismo, um sentimento forte tão ao seu gosto. Porque esta ideia de romantismo é outro elemento sempre presente, não um romantismo de uma época bem precisa, não o romantismo de um grupo ou de homens que se julgam invencíveis, mas um romantismo de uma luta, de uma causa, de um ideal, de um acreditar algo, de um altruísmo. Boselli nunca é inocente ao longo do argumento, o autor escolhe sempre um caminho e não o renega perante o leitor,  transparecendo esta ideia no modo como construiu a personagem de Shane O’Donnel, alguém para quem o ideal revolucionário está sempre presente, existindo sempre causas pelas quais há que lutar.

Capa Tex 353Todas as personagens são fortes, têm o seu próprio carácter bem vincado e uma psicologia bem presente: Halloran é pragmático, Kelly é nostálgico, Hutch sofre por Dolores e vai mudando os seus sentimentos para com Tex, Shane tem tanto de fanático como de idealista ou generoso, é alguém muito seguro de si. As personagens são verdadeiras e plenas de sentimentos, como pátria, amor, amizade, ódio e vingança. E a servir tudo, Boselli constrói um ataque final ao forte de Carrasco pleno de uma literal e puríssima acção, tudo em crescendo dramático até que a pólvora se cale e a poeira assente. Mais do que tratar de uma história de um grupo de invencíveis, Boselli demonstra simplesmente que os ideais é que são invencíveis e que a tudo se sobrepõem.   Marcello denota uma certa característica épica bem presente no seu  traço, um senso do movimento onde transpira poeira, sangue, suor e porque não também lágrimas. Os seu planos nunca são estanques e o seu traço, sem o detalhe de artistas como Villa ou Civitelli, atinge uma dimensão própria, um envolvimento natural com o leitor, convidando-o a permanecer sempre presente e atento na leitura. Marcello desenhou eventualmente algumas das melhores histórias texianas, mas a verdade é que o seu traço também contribuiu para deixar no leitor um sentimento de velho oeste, de um oeste carregado de simbolismos, de um oeste, afinal,  invencível no nosso imaginário.

Texto de Mário João Marques

3 Comentários

  1. Yudae,
    Obrigado pelas suas palavras, mas a verdade é que a aventura é mesmo linda. Sem esquecer outras grandes aventuras texianas, que todos os argumentistas (sem excepção) souberam construir, não renego que “Os Invencíveis” prendeu-me do princípio ao fim e deixou-me sem fôlego no final. Quando puder leia a aventura, porque ela merece estar no galarim das maiores de sempre da saga texiana.

  2. Uma das melhores aventuras de Tex já publicadas. Ainda não decidi em definitivo o meu “top 5” de histórias de Águia da Noite, mas esta certamente está entre elas — junto com “Patagônia“, “O Passado de Kit Carson” e “A Grande Invasão“.

    Ainda não decidi a última nem tenho certeza da ordem em que figurariam, mas o interessante é que são todas de autoria do Boselli. Três delas desenhadas por Marcello!

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