Tex Série Normal: Flechas Pretas Assassinas

Flechas Pretas AssassinasArgumento de Gian Luigi Bonelli, desenhos de Giovanni Ticci e capas de Aurelio Galleppini.
Com o título original Sulle Piste del Nord, a história foi publicada em Itália nos nº 121 a 124 e no Brasil, pela Editora Vecchi nos nº 50 a 52.

Na região dos Cem Lagos, no Canadá, vêem ocorrendo uma série de mortes, todas apresentando as mesmas características: um homem branco amarrado a uma cruz e morto com uma flecha negra. O capitão Jim Brandon acredita que por detrás destas mortes alguém tenta lançar a confusão. Em lugar de uma mera rebelião indígena, algo de ilegal poderá estar na base destes sacrifícios humanos.

Uma investigação complexa e difícil para o exército canadiano, que vai recorrer a Tex, cujos métodos, fora dos inflexíveis regulamentos militares, podem alcançar outro tipo de resultados.

Tex e Carson por Giovanni TicciFlechas Pretas Assassinas é a aventura bonelliana na sua plenitude. Primeiro no tema, com brancos sem escrúpulos a pretenderem apossar-se de terras indígenas ricas em ouro, através de contrabando de armas e de uísque. Bonelli nunca escondeu esta sua repugnância por ambições e métodos dos brancos que, corrompendo e servindo-se de interesses mesquinhos, lograram tornear obstáculos e acantonar os índios a meras reservas, quase sempre longe das suas terras naturais.

Arte de Giovanni TicciÁguia da Noite é a bem dizer o defensor da legalidade, mas acima de tudo o branco que nunca se vergou a estas políticas e a estas ambições. Em Águia da Noite, Tex representa a ponte sempre necessária entre o branco e o índio. Mas o Tex bonelliano é também um justiceiro, alguém que está acima da lei, porque esta revela-se muitas vezes injusta, cega e desadequada.

Quando são os próprios índios a servirem-se da força das armas, frequentemente de conluio com brancos sem escrúpulos, Tex surge com essa sua faceta de justiceiro.

Tambores de GuerraNesta aventura, Bonelli apresenta esta faceta dos rangers, um Tex que viaja até ao Canadá a pedido do seu amigo Jim Brandon, para tentar resolver um intrincado caso de mortes que podem ter por detrás de tudo a rebelião de tribos índias.
Em segundo lugar, toda a aventura é planificada como Bonelli sempre o fez, com a apresentação de acontecimentos, os factos e todo o trabalho dos protagonistas em busca da verdade. Com a planificação bonelliana chegamos a uma terceira característica, o próprio papel texiano. Com Bonelli não há meio termo, tudo é o que na realidade parece ser, não existe um jogo de dissimulações, nem o autor joga com a capacidade do leitor em ir além da apresentação dos factos.

Nós leitores sabemos bem ao que vamos. Tex é duro e frontal e isso já nós sabemos e apreciamos. Tex é decidido e empreendedor, nada nos foge, nada nos é cerceado. Com a chegada de Tex, a aventura passa a girar em redor do ranger, tudo é centralizado na figura texiana.
Os acontecimentos deixam de ser independentes e passam a ser provocados pela atitude do ranger.
Na Polícia MontadaAqui estamos em presença de uma característica acentuadamente bonelliana, o de saber controlar o rumo dos acontecimentos, enfrentando as realidades enérgica e de modo preponderante. Por isso, o repetimos, Flechas Pretas Assassinas traz-nos a aventura bonelliana pura, sem limites e sem concessões.

Giovanni Ticci desenha aqui a sua terceira aventura, onde o autor já começa a denotar o seu tão aclamado estilo. Ticci começa a afirmar-se com o seu Tex já altivo, elegante e vigoroso, mas onde naturalmente ainda falta um certo cinismo, decorrente de um traço ainda não totalmente vincado e assumido. Ticci abandona uma certa influência do seu mestre Giolitti, mas ainda deambula entre um modelo próprio (que serviria de inspiração futura a quase todos os que vieram a desenhar Tex) e um Tex falho de influências.

Tex de Giovanni TicciMas já é notável a sua aptidão para cenas de acção que identificam plenamente todo o dinamismo do seu desenho. Também as fisionomias humanas retratam bem a realidade dos acontecimentos, jogando Ticci com as expressões e com olhares carregados, demonstrando bem os sentimentos de cada personagem.

Texto de Mário João Marques

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