Tex Série Normal: Caçada Humana

Tex nº 68 - Caçada HumanaArgumento de Guido Nolitta, desenhos de Fernando Fusco e capa de Aurelio Galleppini e Luigi Corteggi.
Com o título original Caccia all’uomo, a história foi publicada em Itália nos nº 183 a 185 e no Brasil pela Editora Vecchi nos nº 68 e 69.
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Esta aventura é marcante na saga texiana. Representa a estreia de Nolitta na série e dela guardo gratas recordações quando a li pela primeira vez. G.L. Bonelli teve um contratempo e o seu filho Sergio foi chamado a remediar esta momentânea ausência do pai. Sob o pseudónimo de Guido Nolitta, o autor construiu uma aventura onde está bem patente o Tex bonelliano, mas onde também impera um Tex que duvida e que coloca em causa a justiça premeditada dos homens.
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Em Springville, Tex e Jack Tigre tratam do aprovisionamento dos Navajos, quando encontram o xerife Tom Kenyon, que julgavam reformado. Farto do ócio que a nova situação lhe proporcionava, Tom Kenyon acabou por regressar ao activo e está na pista de Andy Wilson, um jovem procurado por assassinato.

Tex desenhado por Fusco.
Tex vai acompanhar Kenyon até a um rancho, onde o xerife julga que Andy se encontra. No rancho todos têm Andy em boa conta, guardando deste a melhor das impressões e por isso vão ajudá-lo a fugir depois de Andy balear Kenyon.

Tex acaba por solitariamente ir em perseguição do foragido no intuito de levá-lo até à justiça.Com este argumento, Nolitta constrói uma trepidante aventura onde Tex não tem a habitual companhia de Carson. Mas a ausência do velho resmungão e dos saborosos diálogos que sempre acontecem entre os dois rangers, acaba por ser compensada pela relação que se vai estabelecer entre Tex e Andy, demonstrativa de que os valores estão bem acima das leis dos homens.

Tex acompanha Kenyon

Tex em acçãoGradualmente, Tex vai descobrir em Andy um rapaz que tem tudo menos de assassino, alguém que busca apenas a harmonia e a paz, alguém com honra e com regras de conduta e cujas acções são estabelecidas com o único objectivo de poder lutar pela injustiça da sua situação.
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Toda esta envolvência que Nolitta muito bem apresenta e explora leva Tex a olhar para o caso de uma forma diferente e cada vez mais distante da inicial. Leva Tex a duvidar realmente dos antecedentes, marcando um certo corte com o Tex bonelliano, este mais pragmático.

Tex nº 69 - Justiça para um CarrascoA marca de Nolitta surge bem evidente na forma como a história é construída, na sua montagem, mas atinge o clímax nas cenas finais, quando Tex, paradoxalmente, afirma-se como um justiceiro perante o juiz Maddox. Este Tex que busca justiça é um Tex bonelliano, um Tex que ultrapassa todos os seus adversários, mas Nolitta vai mais além, porque transmite na sua conduta os seus próprios sentimentos e a sua acção é guiada por estes.
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Fusco assina aqui apenas o seu segundo trabalho na série, com um desenho nervoso e muito dinâmico. O seu Tex vai sofrer uma natural evolução, tornando-se ainda mais cínico na sua expressão e no seu olhar. Aqui ainda denota uma certa frescura ou uma juventude que o autor rapidamente abandonará. Fusco revela já uma notável capacidade em recriar qualquer ambiente, e esta aventura é bem caracterizadora, porque permite ao autor desenhar em pleno os ambientes da cidade, das extensas planícies, mas também do sufocante deserto, além de outros mais fechados, como os bares ou a notável sequência do palheiro.

Arte de Fusco

Texto de Mário João Marques

6 Comentários

  1. Confesso que quando li pela primeira vez uma história desenhada pelo Fernando Fusco (Missão em Great Falls) eu fiquei pasmo, de boca aberta literalmente, com o seu magnífico Tex. Eu já tinha ficado pasmo com histórias como El Muerto desenhada pelo Galep e posso dizer sem medo de errar que, à sua maneira, Fusco se iguala ao Mestre, ao lado de outros poucos gênios da raça

    Magno

  2. Essa história realmente é um marco na saga Texiana.
    Tinha eu algo em torno de 10 anos quando a li pela primeira vez. Como guri que era na época, não tinha ainda a capacidade de ver o novo Tex que ali aparecia, vindo da pena do SB/Nollita, mas, o impacto dos desenhos do Fusco em mim foi tão forte que nunca mais a esqueci, considerando-a como uma das melhores. Já na idade adulta, voltei a me encontrar com ela, dessa vez num volume cortonado da Mondadori que guardo com muito carinho na minha estanTEX.
    O Fusco, junto com o Ticci são dois mestres da velha guarda que muito aprecio.

    Caro Mário, parabéns pela forma como escrevestes esta sinopse, simples, direta e emocionada!

    Sílvio Introvabili

  3. Silvio, obrigado pelas palavras e pelo comentário que demonstra a importância que esta aventura tem nas suas preferências. Faço suas as minhas palavras, pois dela guardo em memória quase todas as passagens, revelando assim que a mesma também me marcou bastante. Além disso, adoro os desenhos de Fusco nesta fase.
    Um abraço

  4. Caçada Humana” é a história do Tex que mais reli. Nela vi um Tex mais humano e vulnerável, mas sem perder suas características e não menos vigoroso.

    Paradoxalmente o ranger vai aos extremos dos sentimentos, de uma sensibilidade comovente (sem ser piegas) a mais completa indiferença.

    Ao lado de “El Muerto”, é uma das aventuras que mais aprecio.

    Guido Nolitta foi realmente um maestro, acertou a mão no tempero daquela que considero uma das melhores HQs em qualquer gênero.

    Parabéns pelo texto Mário João Marques, sua leitura foi agradável e enriquecedora.

    Abraço!

    Fred Macedo

  5. Pude adiquirir agora em TEX Coleção. Fantástico, mas algumas vezes vejo os créditos para FUSCO e o desenho se parece como do TICCI.(confusão?)
    Ex: TEX 399 (Itália, jan 1994).

  6. De facto há algumas semelhanças entre o traço do Fusco e do Ticci, sobretudo em determinadas fases de ambos os artistas, mas creio que é fácil para um olho apurado saber quando é o Fusco e quando é o Ticci porque há diferenças evidentes, pard Paulo 😉
    Quanto à pequena história do Tex italiano nº 399 “La lettera bruciata” é mesmo do Fernando Fusco, basta ver a assinatura dele na última vinheta 🙂
    A propósito, Fusco tinha um desenho tão característico que foi o primeiro desenhador de Tex que eu conseguia reconhecer quando via uma história dele, isto nos meus inícios com Tex, já lá vão uns 30 anitos 🙂

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