TEX SEM FRONTEIRAS: “Somente as montanhas não se encontram”

Por G. G. Carsan*

G. G. Carsan e Silvio Raimundo

Mais de Dez Anos Depois –  O Encontro de G. G. Carsan e Silvio Raimundo, dois texianos determinados.

Férias significam aventuras e missões fora das nossas amadas revistas de banda desenhada. Unindo o útil ao agradável, quando voltava para casa depois de uma dessas, resolvi passar na aldeia de um velho trapper dos grupos de conversa, o pard Silvio Introvabili Raimundo. Um pard inteligente, sensível, amigão, abnegado… pudera, é texiano, kenparkeriano, zagoriano e outras milongas mais. Tem participações no Blogue do Tex, em chats, sites especializados como Universo HQ, etc).

Nos velhos tempos, com uma pintura de sua autoria

Há mais de dez anos que a gente teclava, moramos a menos de 300 km um do outro e nada de se conhecer pessoalmente. Aí, no caminho, enviei sinais de fumaça e fomos nos comunicando toda vez que eu passava por uma montanha (cidade com sinal da Oi).

O nosso encontro foi na tarde do dia 21 de Dezembro de 2014, quando cheguei em Belo Jardim, no Estado de Pernambuco com a minha turma, vindos de Exú, onde fomos acalmar umas pessoas nervosas e visitar Luiz Gonzaga, o rei do baião.

Fomos ao seu apartamento, mostrou-me a sua estante recheada só dos clássicos. A leitura do Sílvio vai de Sandman até Luluzinha, passando por Astérix e Flash Gordon, isso nos quadradinhos, pois ele já leu o Padre Antonio Vieira e Camões. Vi as suas telas e quadros nas paredes – sim, ele é artista plástico nas horas vagas, com viés caricaturista, como veremos adiante. Fizemos fotos, tivemos uma conversa apressada e depois fomos almoçar num restaurante ali perto de sua morada. Nada de cervejas ou bifes de três dedos e nem conversas longas, pois eu estava de passagem e precisava voltar à aldeia urgentemente – e dirigir de estômago pesado e alcoolizado é proibido para quem pretende chegar a algum lugar.

G. G. Carsan e Silvio Raimundo em família

Foi um prazerzão enormíssimo conhecer pessoalmente esse pard. Um dos poucos da velhíssima guarda de 1998-2000 quando começamos a teclar (fase pré-grupos) (não é Jose Ricardo Lima, Joe Fabio Mariano Oliveira, José Carlos Francisco, Levi Trindade, Gervásio Sant’Ana), que se mantinha eremita e eu ainda não havia dado um abraço e matado a curiosidade.

Ele superou todas as expectativas, mostrando-se um ‘cabra bom da gota’, como havia passado nas centenas de mensagens. Em nosso rápido encontro, falamos pouco, é verdade, e havia a conversa com a sua esposa, com a minha esposa, com os meus acompanhantes, com o seu filho. E entre uma palavra e outra, passou um filme muito bom das nossas antigas conversas. O Silvio na empresa que trabalha, a Moura; o Silvio amigo do Zé Ricardo e as viagens e aventuras deles; o Sílvio que raspou a cabeça em sinal de força e motivação a um amigo em tratamento de cancro; o Sílvio que me desenhou um Zé Carioca caracterizado de Tex cuja arma era uma máquina fotográfica (sou fotógrafo); o Silvio de matérias e entrevistas em nosso meio; o Sílvio família com seus filhos grandalhões… Um pard realmente fantástico.

Zex Carsan, a homenagem de Sílvio Raimundo a G. G. Carsan

Agora ele ficou devendo uma visita na Aldeia e vamos aguardar o período de caça e das tais cervejas e bifes. Creio que seja um encontro para breve, ou quem sabe para mais longos 10 anos.

Fazendo um flashback, temos que: Bem, o Silvio Raimundo sempre foi um sujeito bom de se lidar. Para começar chegou até nós com um apelido bastante intuitivo: Introvabili. Esta palavra bonita e misteriosa, em italiano, donde vem, significa algo que não se pode definir. Entenderam? Aí chegaram até nós as suas sacadas inteligentes sobre quadradinhos e suas tacadas politizadas e socialistas quando se agregou no grupo Yahoo ‘Amigos do Tex’, existente até hoje, agora via Facebook… mas não temam, os arquivos ainda existem no banco de dados do Yahoo, com as mais de 20 mil mensagens trocadas entre os pards, onde fui buscar esta do Sílvio, de 31 de Junho de 2003:
Caras, hoje eu tô cá gota!!!
No tempo que eu morava em Sampa, tinha um programa de rádio que eu adorava ouvir com o meu pai, não lembro do nome, mas, lembro do
radialista, era um tal de Zé Bétio, o programa era de música caipira, mas, aquelas de verdade, de raiz, não essa chatice de hoje que essas duplas goianas cantam (se alguém daqui gosta, me desculpe a forma rude de me expressar),algum paulista daqui sabe algo acerca desse programa, ou do radialista?
Quando vim para o NE, tinha um outro programa que eu ouvia com o meu pai, esses vocês não conhecem, mas, o cara que mais cantava lá, e que eu me apaixonei pelas suas simples e belas “cantigas” era o sr. Luiz “Lua” Gonzaga, o cidadão que tornou o NE conhecido no eixo Sul/Sudeste, era fantástico, ele cantando falava das coisas do NE que eu tanto conheço, então, eu me punha a imaginar as cenas, parecia história em quadrinhos.
Inté.

G. G. Carsan e o seu livro dedicado a Silvio Raimundo

Naqueles dias, reportei-me ao Silvio com a seguinte escrita:
Introvabili,
tu és mais rodado que pneu de caminhão… tens mais histórias do que o “homem da cobra”… és um poço de “info and news”…
Lembro-me do Zé Bétio, um sujeito à carioca, que (hum… a memória está meio enferrujada)… parece um pouco com o Paulo Betti, ator global, porém mais envelhecido, e portanto parece um pouco contigo também (mais jovem)…
mas não é do meu tempo ouvir seus programas no rádio… seria na extinta Tupi ou na Rádio Nacional nos idos de 50 do último século?

São histórias de um tempo que não volta mais. As novas tecnologias como Orkut, Facebook e Zapzap engoliram essa ferramenta. As nossas conversas eram extra-Tex no grupo, pois no grupo do herói não eram permitidos assuntos extras e nós tínhamos muito a nos falar. Lembram? Nossa, de receita de bolo, festas de fim de ano, viagens espectaculares, trabalho, clima, TV, filmes, até banda desenhada… falamos de tudo. Para que todos possam captar com clareza o que significou esse grupo durante bons anos, reproduzo uma mensagem de 2009 que enviei:”Informo que aqui se pode falar de tudo e que esse grupico foi criado para tratarmos de off-topic lá do Bonellihq. Estávamos lá falando de HQ e de repente surgia algo mais na conversa e o JR dava um ‘no permit’. Aí criamos esse grupo. E já houve mês que em cerca de 20 pessoas trocarmos mais de 700 mensagens – uma loucura. Assuntos mais recorrentes: receitas, nosso lugar, política, Tex, cuidados com saúde, golpes na net, clima-tempo, você sabia que…
Quem já está aqui?
Levi Trindade (Panini), Nilson Farinha (Zagor), Mariola James (fora-da-lei), JR (Bonellihq), Aval (Tex e Cagor), Vander (sebista), Cavaleiro (cavalheiro), Naranjo (UHQ), Gervasio (TexBR), Amora (artista), Joe (vampiro), JF (blogTex), Nanda Kid (fora-da-lei), Gianni (Kit Carson), Afra No (selva cruel), Neimar (Gremio), AryCanab (radialista), GG (photo-man), Jesus (Zona Franca), Silvio (KP). Oscar Kern (in memoriam).
Para conhecer melhor os amigos, enviar-lhes-ei o boca-maldita Preferências Pessoais * – versão 2009.
(*) Um questionário.

A dedicatória de G. G. Carsan a Silvio Raimundo

G.G.Carsan

O Silvio sempre demonstrou uma predilecção por Ken Parker. Para ele, era Berardi e Milazzo no Céu. O resto na Terra, incluindo Tex. Continua assim. Mas seria praticamente impossível essa amizade, essa minha determinação de ir conhecer o pard se não fosse o factor Tex em nosso meio. Dedico a Tex este encontro mais de 10 anos depois.

Certamente muitos pards têm histórias parecidas para contarem e se vêem, nesta, bem representados. Aliás, é comum entre os texianos iniciarem os contactos via Internet e só tempos depois se conhecerem, como aconteceu com quase todos os citados, alguns ainda sem encontrar com os demais.

Termino com o meu abraço fraternal a esse pard precioso.

* G.G.Carsan, 49 anos, paraibano, fã, coleccionador e divulgador, começou aos 7 anos a ler Tex e nunca mais parou. Realizou 6 exposições em João Pessoa, escreveu várias aventuras para Tex (algumas publicadas na Internet), palestras em vários Estados e plateias e dois livros sobre a personagem no Brasil.

4 Comentários

  1. Bela matéria e bela arte!! Muito bonita, e de detalhes muito bem definidos… e com bastante sentido!! Parabéns a ambos.

  2. Parabéns pela bela matéria GG e claro pela bela arte do Sílvio. GG você passou muito perto de casa (Arcoverde) e é uma pena que não tenhamos nos conhecido também, quem sabe uma próxima vez.
    Abraços.

  3. Grande pard G.G. Carsan, que ao fazer uma longa viagem de férias aproveitou para ir dar um abraço a um amigo que ainda não conhecia, arrostando com a distância e o tempo (e até com as montanhas), com o mesmo espírito intemerato dos nossos heróis texianos.
    Aqui em Portugal as distâncias são bem menores, mas há muitos membros da lusa comunidade texiana que ainda não se conhecem. Pelo meu lado, fiquei muito feliz quando, no 2º convívio do Clube Tex Portugal, a que em boa hora compareci com minha esposa, pude finalmente conviver, durante um animado serão, com muitos pards que só conhecia de nome… e com outros que já não via há alguns anitos, como o Zeca e o Marinho.
    Em prol de uma boa causa e de uma sã amizade, os texianos até são capazes de fazer com que as montanhas se movam, amigo G.G. Carsan!…

  4. Verdade, Jim, o Silvião é bom no traço. Mas ele prefere ficar relendo Ken Parker. Quem sabe qualquer dia ele me desenha como Águia da Noite, afinal, chego aos 50 e é uma boa oportunidade.

    Marcilio, confesso que lembrei de você e de outros pards pernambucanos quando viajava pelos Sertões Veredas, mas não tinha os contatos em mãos. Eu viajei com um Plano B, para o caso de chuvas, desastres naturais, etc., e poderia nem ter passado por PE, mas não foi necessário. Ainda assim, fiz alterações no percurso, para adaptar melhor ao nosso passeio. Precisamos de um Encontro pernambucano, que entre outros contaria com o Iranildo, Erik, Silvio, você, Genildo, Lucilio, Lucildo, Inaldo, e outros que possam ser atraídos. Todavia, o melhor e mais pomposo seria recebe-los na próxima Expo-Tex de Jampa City. Vamos sonhar!

    Magalhães, que prazer! Quando estou em viagem, costumo concretizar as boas coisas que surgem, pois dificilmente temos uma segunda chance. Sim, de modo natural e desapercebido, aprendemos muito com Tex e seus pards e é possível sim, pautarmo-nos por suas boas práticas. E eu sempre lanço mão disso, pois sei que vai dar certo.
    Que sirva de exemplo a sua participação no 2º. Convívio para outros que pensam ir e não se apresentam. Sempre digo que ficar em casa com sombra e água fresca é bom, mas sair em busca de aventura relacionada a Tex pode ser, e tem sido, muito bom também. Afinal, quando vamos ao encontro de Tex, vamos também ao encontro de ‘bons’ amigos. E a amizade dos texianos é algo que, só existe em nosso meio (penso que outros heróis não consigam tanto envolvimento e amizade dos seus fãs – talvez pela maioria ser formada por adolescentes, ainda sem rumo definido), pois ela se prolonga, se reinventa, se mantém, igual vinho, cada vez melhor. Se as montanhas não se encontram, nós as vencemos por cima ou pelo lado, mas não paramos jamais.

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