Tex, o caubói definitivo aos 60

Texto do Caderno 2, do jornal “A Tarde” (Salvador – Bahia – Brasil), de 7 de Dezembro de 2008
Chico Castro Jr.

Jornal A Tarde

Tex, o caubói definitivo aos 60

* Fenómeno editorial surgido na Itália é a personagem com mais títulos no Brasil e representa o fascínio europeu pela América mítica

Tex, o caubói definitivo aos 60Quem nunca, no mínimo, folheou uma revista do Tex, que dispare seu Colt primeiro. Fenómeno editorial como poucos no Brasil e no mundo, o caubói definitivo criado pelos italianos Giovanni Luigi Bonelli (texto) e Aurelio Galleppini (arte) completou, em 2008, nada menos que 60 anos de muitas aventuras e tiroteios.
Até aí, tudo bem, o negócio é que, só no Brasil, este galante ranger texano bate ponto nas bancas de revistas há nada menos que 37 anos (desde 1971), ininterruptamente. São 444 meses com um, dois, às vezes até 4 ou 5 gibis simultâneos  do personagem nas prateleiras.

Além da revista mensal, hoje em seu número 469 (de Novembro), o leitor tem ainda à disposição uma enxurrada de títulos como Tex coleção (reedições), Os grandes clássicos de Tex, Tex edição gigante (formato álbum), Tex edição ouro, Tex especial de férias, Tex edição histórica e Tex almanaque. Antes disso, ainda houve uma breve fase do gibi nos anos 50. De lá para cá, ele passou  por quatro editoras: Rio Gráfica Editora (anos 50), Vecchi (anos 70), de novo pela RGE / Globo (anos 80 e 90) e a actual, Mythos, do início da década para cá.

Paixão nacional, pelo visto, é pouco para definir o relacionamento entre  o Águia da Noite (seu apelido entre os índios navajos) e os leitores brasileiros. Porque nenhum outro personagem de BD (exceptuando-se o orgulho nacional Turma da Mônica) oferece tantos títulos no mercado brasileiro: nem Superman, nem Homem-Aranha, nem Batman, nem os X-Men.

Tex a coresEm cores Para comemorar tão ilustre ocasião, chegou recentemente às bancas a edição Tex especial 60 anos, com uma aventura em cores, escrita pelo actual roteirista oficial do personagem, Claudio Nizzi, com desenhos do fantástico Fabio Civitelli.

Tradutor há mais de  uma década das revistas do Tex, o paranaense Júlio Schneider – que na sua identidade secreta é advogado  – conta que a edição, lançada em Setembro último na Itália, saiu quase simultaneamente aqui.

Tex e seus amigos - Kit Carson, o filho Kit Willer e o índio Jack Tigre“Antes mesmo de ir para a gráfica lá na Itália, o material veio para mim. Fui a primeira pessoa no mundo a ler a história. Até apontei um ou dois errinhos, corrigidos antes de a revista chegar às bancas de lá“, relata, sem esconder o orgulho. Adequadamente, a história da edição revisita o passado de Tex, mais especificamente, seu relacionamento com a índia Lyllith, mãe do seu filho Kit. Há ainda matérias especiais do próprio tradutor e de Sergio Bonelli, filho de Giovanni e dono da editora que leva seu nome, a Sergio Bonelli Editore, a maior casa editorial especializada em BDs da Europa.

Uma das maiores autoridades do personagem no Brasil e dono de uma mítica gibiteca (já foi até objecto de reportagens), Schneider credita o  sucesso do personagem no Brasil “às histórias lineares com começo, meio e fim, ao mesmo tempo inteligentes e acessíveis“. Para ele, a época do lançamento também ajudou: “Em 1971, não existia muita opção de distracção. E na TV e cinema, o que mais tinha era bangue-bangue. Todo mundo que lia Tex, gostava. Aí ele foi ficando. Talvez, se tivesse chegado mais adiante, ele não teria permanecido”, acredita.

* Alguns pontos altos de Tex

Alguns pontos altos de Tex

Solitário
Na Itália, eles são chamados de Texone. Aqui, de Edição Gigante. Sempre com um convidado, esta edição, a 9, traz a lenda ianque Joe Kubert (Sgt. Rock).

Serpente
Mais um Texone, agora desenhado pelo co-criador Galleppini, A Marca da Serpente é um primor de narrativa aventuresca enxuta, clássica. Edição Gigante 21.

A lança de fogo
Edição colorida, pelos criadores Bonelli & Galleppini, lançada pela Ed. Globo em 1994. Mostra Tex e Kit às voltas com misticismo índio.

Homens em fuga
Quando o gibi Tex chegou ao número 400, a Ed. Mythos lançou essa edição especial colorida, com os 4 amigos e belos desenhos de Giovanni Ticci.

O vale do terror
Talvez o melhor de todos os Texones, traz desenhos de cair o queixo de Magnus, que levou sete anos para concluir o álbum, e depois morreu.

* Western e pós-guerra

Aurelio GalleppiniCriado em uma Itália em pleno processo de reconstrução após os flagelos do regime fascista e da 2ª Guerra Mundial, Tex reflecte em si a esperança que os americanos levaram à Europa após a libertação do continente. “Tem total relação uma coisa com a outra”, pontua Júlio Schneider.

“Com a Europa destruída pela guerra, eles precisavam de um fiapo de esperança. Aí o que acontece? Quem libertou Roma e parte da Itália foram os americanos”, lembra. “Quando acabou a Guerra, foi uma festa. De repente, começaram a chegar os filme e gibis americanos mostrando a conquista do oeste: a construção de um país. Essa era a imagem que eles precisavam, de reconstruir todo um país e se opor a quem estava reprimindo”, observa.

“Os gibis de bangue-bangue mostravam que era possível lutar por liberdade e justiça. Se fosse aqui, na mesma época, não teria o mesmo efeito, porque não estávamos vivendo aquele momento tão difícil. O sucesso do Tex é exactamente em função do pós-guerra – além da qualidade inerente ao material em si, claro”, acredita Júlio.

O enorme sucesso de Tex na Itália fez a fortuna dos Bonelli, que, através dos anos, criou, em parceria com os grandes profissionais que arregimentou, outros personagens extraordinários, como Zagor, Martin Mystère, Dylan Dog, Nick Raider e até um meio brasileiro, meio americano: Mister No, defensor da Amazónia.

Todos são ainda hoje publicados na Itália pela editora que hoje leva o nome do seu filho, a Sergio Bonelli Editore, e, em algum momento, também no Brasil. Mais recentemente, séries brilhantes como J.Kendall – Aventuras de uma criminóloga e Mágico Vento vêm dando continuidade à tradição bonelliana de contar boas histórias. Ambas estão sendo publicadas regularmente por aqui.

O Brasil, aliás, é quase uma segunda casa para Sergio Bonelli, amigo pessoal de Júlio Schneider. “O Sergio se diz brasileiro de corpo e alma. Quando você vai lá na sede da editora em Milão, é uma casa simples, mas com um ambiente familiar, calor humano. Se souberem que você é brasileiro, então, eles levantam logo os olhos, curiosos e muito simpáticos”, relata Júlio.

Copyright: © 2008 Jornal “A Tarde“; Chico Castro JR

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Sem dúvida o último grande herói do velho oeste.
    Não há dúvida que nenhum outro reúne todas as características do verdadeiro “mocinho” que tanto amamos, e é por isso que acredito na eternização deste personagem, independente do futuro das historias do velho oeste.
    AMoreira

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