Tex Gigante “Patagônia” na visão de Hunter (Pedro Bouça)

Por Hunter (Pedro Bouça)

O Tex Gigante “Patagônia” foi distribuído em Portugal em Agosto. Como é tristemente comum, eu não consegui encontrá-lo à venda na altura e resignei-me a ter de comprá-lo algum outro dia, talvez daqui a muitos anos.

Qual não foi a minha surpresa quando, sexta-feira, dia 25 de Novembro, à espera de uns amigos com quem eu tinha combinado almoçar, eu decidi entrar numa papelaria em que nunca tinha posto os pés na vida e lá encontrei DOIS exemplares dessa obra à venda em bom estado! Dessa vez eu não perdi a chance e comprei um deles na hora!
Eu tinha ouvido falar bastante desse álbum, de como era uma das melhores BDs de Tex de todos os tempos e tal. Mas para mim é difícil levar essas afirmações a sério, já que os entusiastas de Tex tendem a gostar de TUDO que é feito com a personagem italiana, fora uma ou outra história que não corresponda à visão DELES de Tex, independentemente da qualidade intrínseca. Não ajudava que o desenhador convidado era Pasquale Frisenda, que eu sempre vira como um sub-Milazzo.

Pois bem, eles estavam certos! A história é boa. MUITO boa! Um dos melhores Tex que eu já li, sem exageros. Mas deixem-me explicar o porquê.

Patagônia mostra Tex e seu filho Kit viajando até a mencionada região argentina a pedido de Mendoza, um amigo de Montales, velho cúmplice mexicano de Tex, que pede a ajuda do ranger para lidar com os índios daquela região argentina. Tex e seu filho Kit atendem o chamado e vão até lá, onde rapidamente se adaptam aos costumes dos gaúchos e dos índios da região. Só que uma mudança política vai colocar Tex em rota de colisão com Mendoza e as autoridades argentinas.

Mauro Boselli, que a partir desse número assume o posto de argumentista principal dos “Texoni” (ele já escrevera antes Os Assassinos, com arte de Alfonso Font), capricha no trabalho e faz talvez o mais bem escrito Tex Gigante até o momento. A trama é sólida, bem baseada na realidade (várias personagens e situações são tirados directamente da vida real!) e cativante, as personagens são carismáticas e bem caracterizadas (destaque para Kit Willer, geralmente o mais apagado dos pards de Tex, que brilha forte nesta história) e o desfecho não é o típico triunfo inquestionável (e previsível…) de Tex, o que torna o álbum muito mais interessante que a maioria esmagadora das outras aventuras do ranger.

E tudo isso desenhado por um Frisenda no auge da forma. Embora ele já há algum tempo estivesse deixando a sombra de Milazzo (algo que eu ignorava porque a horrível distribuição de Mágico Vento em Portugal fez com que eu estivesse TRÊS ANOS atrasado na leitura da série!), nesse álbum ele revela uma antes insuspeita influência da escola de desenho argentina, em particular de Alberto e Enrique Breccia, que dá uma nova dimensão à sua arte. Em vez de desenhar os pampas argentinos como uma vastidão plana, monótona e sem cor tipo os campos nevados de Milazzo, ele desenha-os em diversas tonalidades de PRETO! Embora isso escureça o álbum (o que não favorece a impressão da Mythos…) e faça parecer com que a maior parte das cenas se passam à noite (o que não é necessariamente o caso), isso dá uma profundidade e riqueza à paisagem que seria impossível de outra maneira. Isso não vem de Milazzo ou de seu inspirador Hugo Pratt, mas sim dos Breccia – e esse clima de “escola argentina” acaba sendo bastante apropriado para um álbum que, afinal, se desenrola naquele país! Também é possível se sentir essa influência nas personagens, mas uma rápida inspecção na minha pilha de leitura mostra que isso já era visível nos Mágico Vento mais recentes.

Eu nunca tive uma opinião muito elevada de Frisenda antes, mas com esse trabalho o desenhador coloca-se entre os melhores da Bonelli, à altura dos seus ilustres predecessores na série gigante de Tex, todos gigantes dos quadradinhos.

Defeitos? O único que eu posso apontar são pequenos detalhes da caracterização dos índios argentinos, que em determinados momentos perecem índios norte-americanos “transplantados” nos pampas (um deles até fala “ugh!” em certo momento, um dos piores chavões “indígenas” do mundo!). E a fama de Tex ter cruzado o mundo e chegado até eles é impossível de engolir! Mas isso são detalhes que não prejudicam a história, que é seguramente uma das melhores de Tex de todos os tempos!

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

7 Comentários

  1. Conheci o trabalho de Frisenda no Mágico Vento e desde lá tenho sido um admirador do seu traço. Também gostei e muito deste Tex Gigante. Não li todos pra dizer que é um dos melhores, mas todos os elogios dados até agora são verdadeiros e eu assino em baixo.

  2. Dilecto Pedro “Hunter” Bouça,
    parabéns pela sua excelente resenha. Eu considero o “Texão” “Patagônia“, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda, cinematográfico, uma HQ belíssima.

  3. Salve, pards!

    Na verdade, eu raramente escrevo sobre Tex, apenas esta aventura em particular inspirou-me a o fazer. Isso pode voltar a acontecer no futuro, mas não em bases regulares.

  4. Bom não li essa Texone, porém me deu muita vontade de tê-la, a minha Tex Gigante preferida é Na Trilha de Oregon, depois vem Sangue no Colorado.

  5. Muito bem bolado de acordo com a história Argentina na época e desenhado de acordo com a cultura pampeana gaúcha (para quem conhece e eu conheço). Trabalho PERFEITO!

    Inclusive a vegetação, como a árvore espenillo ou espinilho que aparece em alguns quadros.

    Evaldo
    (Brasil)

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