Tex Gigante: O Preço da Vingança

Tex Gigante - O Preço da VingançaArgumento de Claudio Nizzi, desenhos e capa de Carlo Ambrosini. Com o título original Il prezzo della vendetta, a história foi publicada em Itália no Tex Albo Speciale nº 19 em 2005 e no Brasil pela Mythos Editora também em 2005.

Tex, Carson, Kit e Tigre testemunham a perseguição que um grupo de índios Cheyennes move a um branco. Este acaba por ser atingido, morrendo nos braços de Tex, não sem antes dizer poucas palavras, permitindo que os pards consigam saber que se dirigia a um rancho de colonos. Ao entregar o corpo do infeliz, Tex e os seus companheiros aceitam a hospitalidade dos colonos e veem a saber que estes adoptaram em tempos um garoto índio, sobrevivente de um massacre efectuado à sua aldeia. Perdido no vale, o rancho dos colonos tem sido vítima de ataques dos índios, que reclamam o garoto, mas também alvo da cobiça de brancos sem escrúpulos que almejam o ouro que por ali se encontra.

Nizzi volta inserir numa aventura texiana um olhar crítico ao mundo global dos nossos dias, ou se se quiser, o autor reitera a sua oposição a determinados caminhos seguidos pelas sociedades contemporâneas. Ao escolher como pano de fundo um rancho de colonos que tinham apenas como objectivo o viver harmoniosamente em contacto com a mãe natureza, o autor como que materializa o seu pensamento num certo ideal de libertação, cada vez mais longínquo nos nossos dias. A construção do rancho dos Mallory preside a essa libertação da alma em contraponto com o materialismo reinante e que no argumento perpassa através da corrida ao ouro, esse metal amarelo tão almejado e ao mesmo tempo tão disputado. Há pois um princípio religioso e de pureza que destinou os Mallory a tão rica tarefa e Nizzi vai mais longe, afirmando que todo esse materialismo corrompe tudo e todos, inclusivé as altas patentes, quando o autor acaba por registar na figura do militar um protagonismo do lado errado da lei.

Tex de Carlo AmbrosiniDepois de cerca de trinta páginas alucinantes, plenas de acontecimentos, acção e muitas cavalgadas, Tex e os seus companheiros acabam por se ver envolvidos numa intricada disputa. Por um lado, um garoto índio, outrora vítima de um massacre a que logrou sobreviver, e por outro lado, um conjunto de homens sem escrúpulos que tudo farão para se apossarem de umas terras que julgam ser ricas. Poderia ser apenas uma mera disputa territorial. Poderia ser tão somente uma luta para trazer de volta um garoto às suas origens. Mas Nizzi acaba por surpreender quando compõe um confronto físico entre Nathan (o colono) e Lobo Vermelho (o chefe índio). Mais do que uma luta entre dois opositores, o duelo final é sobretudo um confronto psicológico. Lobo vermelho é movido pela vingança, mas Nathan almeja uma expiação dos actos do seu passado. Mais do que a morte, Nathan é movido pela remoção das suas condutas e das suas acções e para isso é necessário, se possível, o sacrifício da sua própria vida. Por isso, Nathan não parte para o duelo desafiando o destino, ele vai mesmo ao encontro do seu destino, porque a sua morte representa a libertação da sua própria família e a obtenção de paz. No final, fica-se com um certo amargo de boca, próprio de uma história que afinal acaba por terminar tristemente em beleza.

Carson e Tex por Carlo AmbrosiniTrata-se mesmo de um dos melhores argumentos que Nizzi escreveu nos últimos anos, seguramente um dos melhores para esta edição anual e, com isto, acabamos por não perceber o acérrimo coro de críticas que a aventura gerou. Foi dito que Tex não faz absolutamente nada, limitando-se a ser um diplomata, um burocrata, um político, apenas preocupado com os incidentes que a disputa poderá despoletar. Mas Tex e Carson têm que fazer face a duas emboscadas! Também foi dito que Tex tem que se servir do seu distintivo (o Wampum) para ser respeitado, quando no fundo, isso representa apenas um acto de respeito entre os índios. Finalmente que as personagens não têm espessura psicológica e que Tigre e Kit limitam-se a vigiar o rancho. Será que com G.L.Bonelli as personagens adquiriam maior envergadura psicológica? Não confundamos as coisas, apesar de alguns recentes argumentos menos conseguidos, a verdade é que Nizzi é o legítimo herdeiro do mestre Bonelli, porque a estrutura narrativa é similar. E não confundamos os tempos e as tendências próprias de cada época que Nizzi tão bem soube interpretar.

Apesar de uma capa muito pouca conseguida, o desenho de Ambrosini vai-se afirmando ao longo das páginas da aventura. Um traço grosso, porco como já lhe chamaram, mas seguramente eficaz. Pleno de bons planos e rigoroso nas cenas de acção (veja-se a do comboio), o autor peca, no entanto, por nunca conseguir compor um ranger altivo e cínico como o conhecemos. Ambrosini nunca consegue deixar a sua marca em Tex e é curioso que o autor acaba por se defender, pelo facto de poucas vezes desenhar o ranger em grandes planos.

Texto de Mário João Marques

Um comentário

  1. Gosto muito desta história!

    O argumento de Nizzi está francamente bem conseguido! Com muita acção, suspense e surpresas!

    Já do desenho de Carlo Ambrosini penso que a caracterização do Mário faz sentido! Não lhe chamo “porco”, mas digo que não gosto muito, então os traços Tex e de Kit são de fugir!!!

    Desculpem a franqueza, mas uma história destas merecia um desenhador melhor, isto na minha opinião, naturalmente!

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