Tex Gigante: Chumbo Ardente

Tex Gigante - Chumbo ArdenteArgumento de Claudio Nizzi, desenhos e capa de Sergio Zaniboni. Com o título original Piombo Rovente, a história foi publicada em Itália no Tex Albo Speciale nº 4 em 1991 e no Brasil pela Mythos Editora em 2001.

Chumbo Ardente é uma homenagem de Claudio Nizzi à cidade do velho oeste. Pensar em western sempre nos levou a evocar grandes planícies, extensas pradarias, montanhas, natureza, enfim a liberdade que sempre  nos permitiu sonhar e galopar longe da civilização.
Mas o velho oeste também é feito das suas míticas cidades, com a sua habitual artéria principal, com tudo a crescer em seu redor, onde todos se encontravam no velho saloon, não sem antes deixarem a sua montada na estrebaria e de tomarem um retemperado banho no hotel, muitas vezes também associadas a bandos mais ou menos organizados ou a senhores que a dominavam a seu bel-prazer.

Arte de Sergio Zaniboni

O que Nizzi nos vem invocar em Chumbo Ardente é uma velha cidade (Serenidade) e toda uma comunidade dominada por um senhor (Morgan Slattery), contra quem Tex e os seus companheiros vão ter que lutar. Mais uma vez, Nizzi soube escolher a linha mestre do seu argumento, tocando num tema muito recorrente no género e que, por exemplo, Hollywood soube muito bem explorar.

Arte de Sergio Zaniboni

Mas se Chumbo Ardente tinha os ingredientes necessários para poder ser (mais) uma aventura ímpar do nosso ranger, pelo seu classicismo, pelo círculo fechado que a cidade sempre encerra, pelo ambiente omnipresente e sempre constante da luta entre o bem e o mal, a verdade é que o resultado final surge-nos muito fraco, desigual mesmo. Não por culpa do argumento, já focámos a sua riqueza, mas mais pelo desenho do italiano Sergio Zaniboni, um pouco na esteira da linha clara, tão do agrado de vários artistas franco-belgas.

Arte de Sergio Zaniboni

O traço de Zaniboni não é cativante, pois limita-se a reproduzir pouco de cada cena, não vai mais além do que é estritamente necessário à reprodução do argumento, falta sempre um detalhe, um traço, algo que saiba transpor o mero retrato. O estilo adoptado não se enquadra bem nas aventuras de Tex, um western e, para mais, sempre duro, rude, cínico, afinal as características que nunca estão presentes ao longo da trama.

Tex e Carson por Sergio ZaniboniPara os aficionados, onde nós nos incluímos, é sempre bom poder ler este tipo de aventuras para podermos efectuar as necessárias comparações, realçando sempre a sensibilidade e a coerência de cada autor, mas no fundo, Chumbo Ardente é uma oportunidade seguramente perdida, uma obra que, com outro traço, poderia ter ido muito mais além.

Texto de Mário João Marques

3 Comentários

  1. Interessante esta matéria, principalmente pela crítica negativa apresentada em relação ao trabalho de Zaniboni, da qual discordo completamente.
    Fosse eu um cronista, faria outra, contrapondo os argumentos aqui apresentados.
    Opiniões, são sempre opiniões.
    AMoreira.

  2. Prezado A Moreira,
    É sempre bom saber que cada um tem a sua opinião e que, muitas vezes, ela não vem no seguimento da nossa. Confesso que esta minha crítica foi feita há já alguns anos, penso mesmo que logo que a história foi publicada. A bem dizer, talvez uma segunda leitura mudasse alguma coisa, porque as segundas leituras também servem para isso, para revermos, para repararmos neste ou naquele ponto ao qual não prestamos tanta atenção inicialmente. Mas também muito francamente, parece-me que o trabalho de Zaniboni é fraco. É fraco aqui em Tex, não que seja mau desenhador, mas para mim não basta desenhar bem, tem que existir uma coordenação, um envolvimento, uma química do argumento com o artista gráfico. O que manifestamente aqui não aconteceu. Prometo em breve reler esta aventura e, nessa altura, escrever o que me parecer. Eventualmente algo diferente. Porque nós também mudamos. Por exemplo, Nizzi mudou, vindo a decair gradualmente na qualidade dos seus trabalhos.
    Aproveito para em nome do blogue pedir-lhe que, sempre que possível, deixe aqui as suas impressões, as suas opiniões, as suas críticas.
    Um abraço
    Mário João Marques

  3. Acho este um dos melhores Texones e muitíssimo bem desenhado. Nesse sentido acho injusta a pecha aplicada ao desenhador, que é um dos grandes do quadrinho europeu. O argumento é excelente. Inclusive destaco a passagem em que Tex coloca os almofadinhas da cidade para correr, aplicando-lhes uma surra. Hilariante!
    Portocarrero

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